sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Rolos do Mar Morto - Rolo de Cobre




Quase todos os Rolos do Mar Morto são feitos de peles de animais, mas alguns são em papiro e existe um rolo em cobre.

O Rolo de Cobre é um dos mais intrigantes. Descoberto na caverna 3, este rolo registra uma lista de esconderijos subterrâneos em toda a terra de Israel. Os locais deveriam conter certas quantidades de ouro, prata, essências aromáticas, e manuscritos. É possível que seja uma lista secreta de objectos valiosos, possivelmente tesouros do Templo de Jerusalém, que foram escondidos por segurança, para se proteger do cerco (guerra de 70 ou de 132 EC) e possível saque dos romanos.

O Rolo de Cobre (3Q15), que estimulou muita curiosidade e especulação, foi encontrado por arqueólogos na gruta 3 durante as escavações de 1952, mas o metal havia se tornado tão oxidado durante o curso dos séculos que o rolo não podia ser desenrolado. Por conseguinte, foi enviado para o Professor H. Wright Baker, do Manchester College of Science and Technology, que, em 1956, cuidadosamente dividiu em tiras longitudinais e o devolveu à Jordânia. Faz parte dos tesouros do Museu Arqueológico de Amman. O texto hebraico, disposto em doze colunas de texto, foi publicado por J. T. Milik em 1962.

O texto é uma lista de sessenta e quatro esconderijos, em Jerusalém e em vários locais da Palestina, onde ouro, prata, ofertas do Templo, rolos, etc., são referidos como estando aí depositados. Tudo somado, o tesouro ascenderia a mais de 3.000 talentos de prata, cerca de 1.300 talentos de ouro, 65 barras de ouro, 600 jarros contendo prata, e 600 vasos de ouro e prata.

Seria um inventário verdadeiro?

Como hipótese, as somas exageradas poderiam indicar que o Rolo de Cobre seria uma obra de ficção e que o seu principal interesse académico se restringiria às áreas da linguística e da topografia.

Outra hipótese poderia ser a de que os zelotes (radicais contra a ocupação romana) seriam responsáveis pela ocultação do ouro e prata e pela a escrita do rolo. Também poderia ser uma lista de fundos recolhidos para a reconstrução do Templo depois de 70 EC, ou o tesouro escondido de Bar Kokhba, líder da segunda revolução judaica contra Roma, por volta de 132-135 EC.

O certo é que não existe evidência de que algum dos tesouros mencionados no rolo tenha sido encontrado.

Vejamos o texto:

Rolo de Cobre: 
1. Em Horebbah que fica no Vale de Achor sob as escadas que vão quarenta côvados para leste: uma caixa (cheia) de prata com peso total de dezessete talentos.
2. Na tumba de ... o terceiro: 100 barras de ouro.
3. Na grande cisterna que está no pátio da pequena colunata, na sua parte inferior, fechada com sedimentos em direção à abertura superior: 900 talentos.
4. Na Serra da Kohlit, recipientes, sândalo e éfodes (vestuário sacerdotal). O total da oferta e do tesouro: sete (talentos?) e segundo dízimo impuro. À saída do canal no lado Norte, seis cúbitos em direcção à cavidade de imersão.
5. No buraco do refúgio impermeável, ao descer para a esquerda, a três côvados acima do fundo: quarenta talentos de prata.
6. Na cisterna da esplanada que está sob as escadas; quarenta e dois talentos.
7. Na caverna da Casa do Velho Lavador, na terceira plataforma: sessenta e cinco barras de ouro.
8. Na cavidade subterrânea que está no pátio da casa de troncos, onde há uma cisterna: vasos e prata, setenta talentos.
9. Na cisterna oposta ao portão oriental, a quinze côvados de distância, existem vasos no seu interior.
10. E no canal que (extremidades) em que: dez talentos.
11. Na cisterna que está sob a parede do lado leste, na borda afiada da rocha: seis barras de prata; sua entrada é urxJerthe grande pavimentação em pedra.
12. Na lagoa que fica a leste do Kohlit, num ângulo de norte, cavar quatro côvados: vinte e dois talentos.
13. No pátio ... em direção ao sul, [a] nove côvados: vasos de ouro e prata de ofertas, tigelas, copos, tubos, vasos de libação. Ao todo, 609.
14. No outro, direção leste cavar dezesseis côvados: 40 talentos de prata.
15. Na cavidade subterrânea da esplanada, lado norte: vasos de oferta, peças de vestuário. Sua entrada é na direcção oeste.
16. No túmulo a noroeste da esplanada, três côvados sob o alçapão: 13 talentos.
17. Na grande cisterna que está no ..., na coluna no lado norte: 14 talentos.
18. No canal que vai [na direcção ...] quando se entra, ... côvados: 55 talentos de prata.
19. Entre as duas árvores tamarix no Vale de Akhon, no meio delas escavar três côvados. Há dois potes cheios de prata.
20. Na cavidade subterrânea vermelha, na boca do 'Asiah': 200 talentos de prata.
21. Na cavidade subterrânea leste, ao norte de Kokhlit: 70 talentos de prata.
22. Na pilha de pedras do vale do Sekhakha, escavar (...) côvados: 12 tal. de prata.
23. À frente da conduta de água ... [em] Sekhakha, no lado norte sob o grande ... cavar ..., 7 talentos de prata.
24. Na divisão que está em Sekhakha no leste do reservatório de Salomão; vasos de oferta.
25. Muito perto deles acima do canal de Salomão sessenta côvados em direcção à grande pedra cavar três côvados: 23 talentos de prata.
26. No túmulo que está no barranco de Kippah (indo) de Jericó a Sekhakha, na sua entrada de Jericó a Sekhakha, cavar sete côvados: 32 talentos.
27. Na caverna do Pilar virada a leste com duas entradas, cavar na entrada norte três côvados; há um jarro lá, nele um livro, sob ele 22 talentos.
28. Na caverna da base da Pedra virada a leste cavar nove côvados na entrada: 21 talentos.
29. Na Morada da Rainha, no lado ocidental cavar doze côvados: 27 talentos.
30. No monte de pedras que está na calçada do Sumo Sacerdote cavar nove [côvados]: 22 talentos.
31. Na conduta de água de Q ... os grandes reservatório a norte, nas quatro direcções medir vinte e quatro côvados: 400 talentos.
32. Na caverna nas proximidades, na proximidade de Bet ha-Qos cavar seis côvados: seis barras de prata.
33. No Doq sob o canto oriental do guarda-post cavar sete côvados: 22 talentos
34. Pela boca de saída de água do Koziba cavar três côvados para a rocha: 60 talentos, dois talentos de ouro...
35. [Na conduta de água] na estrada leste de Bet Ahsor, que fica a leste do Atizor, vasos de oferta ...
36. No vale fora ... por baixo da pedra cavar dezessete côvados: 17 talentos. de ouro e prata.
37. Na pilha de pedras na boca da ravina cerâmica cavar três côvados: 4 talentos.
38. No campo para o oeste de ha-Sho, no lado sul, na câmara subterranea cavar vinte e quatro côvados: 66 talentos.
39. Na irrigação de ha-Sho, no sinal de pedra, cavar onze côvados: 70 talentos de prata.
40. Na (abertura pequena?) à saída de ha-Notef, medir treze côvados a partir de sua saída, duas presas de marfim e, em sete pedras lisas, barras (correspondente a) quatro estáters (moeda).
41. No 'Violeta-Escarlate' sobre a câmara subterrânea virada para o mar cavar oito côvados ...
42. Nas câmaras subterrâneas de Horon, na câmara subterrânea virada para o mar. Na parte estreita cavar dezesseis côvados: 22 talentos.
43. No Qob'ah uma grande quantidade de ofertas de dinheiro.
44. No 'som das águas' (queda de água?) perto do ducto do lado leste da saída, cavar sete côvados: 9 talentos.
45. Na cavidade subterrânea no lado norte da boca do desfiladeiro de Bet Tamar. Na terra seca de ... (?), tudo o que está nele é herem (= dedicado ao Templo).
46. Na 'abertura estreita' que é em Mesad, na conduta [água], para sul na segunda escada que desce do topo: 9 talentos.
47. Na cisterna ao lado dos canais alimentados pela Grande Wadi, na parte inferior: 12 talentos.
48. No reservatório que está em Bet Kerem indo dez entalhes para a esquerda: sessenta e dois taientos de prata.
49. Na lagoa do vale de 'YK' (?) no seu lado ocidental há uma moeda ma'ah com dois ma'ahs. Esta é a entrada: trezentos talentos de ouro e vinte vasos betumados.
50. Sob a 'Mão' (= Monumento) de Absalão no lado ocidental cavar doze entalhes: 80 talentos.
51. Na lagoa privada de Siloa sob o bebedouro: 17 talentos. Nos quatro cantos o ouro e os vasos de oferta.
53. Ao lado deles sob o canto do pórtico Austral no túmulo de Zadol <âmbito do pilar do corredor coberto: vasos de oferta de resina e oferta de senna.
54. Ao lado deles no ... no topo da pedra virada a ocidente, em direcção ao jardim de Zadok sob a grande pedra de tranca, que está na conduta: coisas devotadas.
55. No túmulo que está sob as galerias (?): 40 talentos.
56. No túmulo dos filhos do ... Yerahite, ... vasos de oferta de cedro, oferta de âmbar.
57. Ao lado deles, em Bet-Eshdatain (Bethesda), no reservatório onde se entra na pequena piscina: (?) Vasos de oferta de aloés, oferta de ...
58. Ao lado deles, na entrada ocidental do túmulo há um canal ao longo ... novecentos [talentos de prata], 5 talentos de ouro.
59. Sessenta talentos em sua entrada a partir do oeste sob a pedra negra.
60. Perto deles abaixo do limiar da câmara sepulcral: 42 talentos.
61. No Monte Gerizim, sob as escadas da cavidade subterrânea superior, uma caixa e seu conteúdo e 60 talentos de prata.
62. Na boca da nascente de Bet-Sham, vasos de prata e vasos de ouro da oferta e prata. Ao todo, seiscentos talentos.
63. Na grande ducto subterrâneo da câmara sepulcral em direcção à casa da câmara sepulcral. O conjunto pesa 71 talentos e vinte minas.
64. Na cavidade subterrânea que está na pedra lisa a norte de Kohllt cuja abertura é para o norte com tumbas à entrada há uma cópia deste escrito e sua explicação e as medidas e os detalhes de cada item.


domingo, 23 de outubro de 2016

Rolos do Mar Morto - Introdução




Por volta de 1946, um jovem pastor beduíno procurava um cabrito que se desviou do rebanho. No decurso da sua busca, este jovem pastor entrou numa caverna, na qual provavelmente nenhum humano entrara em dois mil anos, e descobriu uns recipientes de cerâmica contendo sete pergaminhos escritos. Este foi o início da descoberta de uma biblioteca inteira, que os arqueólogos depois descobriram em dez outras cavernas.

Os Rolos do Mar Morto, também conhecidos como os Manuscritos de Qumran, são uma colecção de centenas de textos diferentes descobertos entre as décadas de 1940 e 1950 em onze cavernas nas imediações da povoação judaico-helenística de Khirbet Qumran no leste do deserto da Judeia, isto é, na moderna Cisjordânia. As cavernas estão localizadas a cerca de dois quilômetros do Mar Morto, daí que os rolos sejam conhecidos também por este este nome.

O consenso é que as datas dos rolos sejam entre o século II AEC e o século I EC. Moedas de bronze encontradas nos mesmos locais formam uma série começando com João Hircano (135-104 AEC) e continuando até à Primeira Guerra judaico-romana (66-73 EC), apoiando a datação radio-carbónica e paleográfica dos pergaminhos. Noutros locais do deserto da Judeia foram encontrados manuscritos com datas tão remotas como o século VIII AEC ou tão recentes quanto o século XI EC.

Os textos de Qumran são de grande importância histórica, religiosa e linguística, porque incluem-se entre os mais antigos manuscritos sobreviventes conhecidos das obras que fazem parte da Bíblia Hebraica, juntamente com outros escritos que provam a diversidade do pensamento religioso entre os judeus da antiguidade. São cerca de mil anos mais antigos do que o texto original da Bíblia actualmente usada pelos judeus.

Porções de todos os livros que compõem a Bíblia Hebraica foram encontrados, excepto do Livro de Ester e do Livro de Neemias. Foram identificados entre os Rolos, muitos exemplares do Livro de Isaías, de Deuteronómio e dos Salmos. O Rolo de Isaías, encontrado relativamente intacto, é mil anos mais antigo do que qualquer cópia anteriormente conhecida de Isaías.

Textos inéditos (inexistentes na Bíblia), identificados como fazendo parte dos livros de Ezequiel, Jeremias e Daniel, foram descobertos entre os Rolos. Também foram encontrados Salmos desconhecidos atribuídos ao rei David e a Josué.

Os manuscritos incluem também livros apócrifos (conteúdo bíblico não canonizado) e livros de regras da própria comunidade.

A maioria dos textos são escritos em hebraico, com alguns em aramaico (em diferentes dialectos regionais, incluindo o nabateu). O aramaico era a língua comum dos judeus da Palestina durante os últimos dois séculos a.C. e dos primeiros séculos d.C. A descoberta dos Manuscritos melhorou substancialmente o conhecimento destas duas línguas. Existem alguns textos escritos em grego.

Os artefactos têm sido tradicionalmente identificados com a antiga seita judaica dos Essénios, embora algumas interpretações recentes tenham desafiado esta associação argumentando que os pergaminhos foram escritos por sacerdotes em Jerusalém, saduceus (zadoquitas), ou outros grupos judaicos desconhecidos.

Devido ao mau estado de alguns dos pergaminhos, nem todos eles eram legíveis ou identificáveis. Aqueles que foram identificados podem ser divididos em três grupos gerais:

 - cerca de 40% deles são cópias de textos da Bíblia Hebraica (Antigo Testamento),

 - aproximadamente mais de 30% deles são textos de Período do Segundo Templo, que em última análise, não foram canonizados na Bíblia Hebraica, como o Livro de Enoch, o Livro dos Jubileus, o Livro de Tobit, a Sabedoria de Sirac, Salmos 152-155, etc ., e

 - os restantes cerca de 30% deles são manuscritos sectários, documentos anteriormente desconhecidos que lançam luz sobre as regras e crenças de um grupo particular (seita) ou grupos dentro do judaísmo, como a “Regra da Comunidade”, a “Manuscrito da Guerra”, o “Pesher (Comentário) sobre Habacuque” e a “Regra da Bênção”.


domingo, 16 de outubro de 2016

Os Rolos de Prata - Provam Idade da Bíblia?




Em 1979, uma equipa escavou em Ketef Hinnom, uma região de Jerusalém. O sítio consiste numa série de câmaras fúnebres de pedra talhada baseadas em cavernas naturais.

Dentre os inúmeros artefactos encontrados durante as escavações, uns revelaram-se muito interessantes para o mundo da arqueologia bíblica: dois minúsculos rolos de prata inscritos, aparentemente utilizados como amuletos.

Os amuletos consistiam em duas pequenas folhas de prata (3 × 10 cm e 1 × 4 cm, respectivamente) com inscrições. Eles estavam enrolados quando foram descobertos. Após um cuidadoso trabalho para desenrolá-los, foi recuperado o seguinte texto:

Amuleto 1
Yahve[h]… o grand[e]… [Aquele que guarda] a aliança e benevolência para com aqueles que [o] amam e aqueles que guardam [seus mandamentos…] o Eterno? […] [a?] benção mais do que qualquer [cila]da e mais do que o mal. Pois a redenção está nele. Pois Yahveh é o nosso restaurador [e] rocha. Que Yahveh te abenço[e] e te guarde. [Que] Yahveh faça resplandecer [Seu rosto]…

Amuleto 2
[Para ???]. Que sejas abençoado por Yahveh, o guerreiro/ajudador e repreendedor do mal; que Yahveh te abençoe, te guarde. Que Yahveh faça seu rosto resplandecer sobre ti e te dê a p[a]z. 

Estes dois pequenos objectos de prata encontrados em Ketef Hinnon contém uma bênção sacerdotal semelhante à que se pode encontrar em Números 6. Aos artefactos foram atribuidas datas de cerca de 600 AEC.

A Bênção Sacerdotal, ou Bênção Aarônica, é uma oração recitada durante certos serviços das comunidades judaicas. O texto da oração tem a sua fonte na Bíblia:

Números 6:23-27.
Fala a Aarão e a seus filhos, dizendo: Assim abençoareis os filhos de Israel e dir-lhes-eis: Yahveh te abençoe e te guarde; Yahveh faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; Yahveh sobre ti levante o rosto e te dê a paz. Assim, porão o meu nome sobre os filhos de Israel, e eu os abençoarei.

Isto não prova que o livro de Números já existia no tempo em que estes amuletos foram produzidos. Apenas é uma evidência de que o livro de Números e estes amuletos são frutos da mesma cultura. O livro de Números pode ser uma compilação posterior que incluiu a tradição da Bênção Sacerdotal.

Verifiquemos, agora, as datas das mais antigas versões conhecidas de textos do Antigo Testamento (Tanakh para os judeus):
 

Versão
Língua
Data
Rolos de Prata
Paleo-Hebraico
c. 600 AEC (alguns versos)
Hebraico, Aramaico e Grego
c. 150 AEC – 70 EC (fragmentos)
Grego
Século II AEC (fragmentos)
Século IV EC (completo)
Copta
Século IV EC (fragmentos)
Latim
Século V EC (fragmentos)
Século VIII EC (completo)
Aramaico
Século V EC
Hebraico
Século X EC (completo)