domingo, 20 de dezembro de 2015

Profetas - Parte IV - Período Pós-Exílio





O fim de três séculos conturbados

Para se entender o período pós-exílio é melhor começar por rever em resumo os séculos que o antecederam. A seguinte tabela contém uma lista resumida das personagens principais, bem como eventos relativos aos hebreus, em geral, dos últimos séculos até ao fim do exílio babilónico.

Protagonistas
Época
Descrição
Vários Reis
até 700 AEC
Os hebreus estão divididos por dois reinos: Judá a sul e Israel a norte.
Profetas pré-exílio
Até 700 AEC
Jonas, Amós e Oseias, Miquéias, Naum, Sofonias e Isaías. Alguns mostram o ambiente instalado pela ameaça assíria. O livro de Isaías foi escrito durante mais de cem anos, mas começa no ambiente pré-exílio.
Assírios
700 AEC
O reino de Israel é destroçado. O povo israelita é distribuído pelos territórios do Império Assírio. Muitos refugiam-se em Judá.
Babilónios
600 AEC
O reino de Judá é conquistado pelos Babilónios. Jerusalém é destruida. A elite é deportada para Babilónia para servir o Império.
Profetas no exílio
Até 500 AEC
Vários escritos produzidos durante a estada em Babilónia: Ezequiel, Jeremias, Daniel.
Persas
500 AEC
Os judeus recuperam autonomia de Jerusalém sob o Império Persa.
Profetas Pós-exílio
Até 400 AEC
Os escribas Neemias e Esdras e os profetas Ageu, Zacarias, Malaquias


Últimos reis de Judá

O rei Josias deixou grandes marcas no judaísmo. O seu reinado foi quase sempre em ascensão, aproveitando o enfraquecimento do império assírio. Por fim, entalado entre os babilónios e os egípcios, optou por resistir a estes últimos, tendo morrido numa batalha.
A tabela seguinte contém uma brevíssima nota biográfica dos últimos reis de Judá, a partir de Josias.

Rei
Datas (AEC)
Notas
Josias
640-609
Morreu numa batalha contra o faraó Necau II do Egipto. Três dos seus filhos foram reis de Judá.
Jeoacaz
(Salum)
609
Filho de Josias. Tinha 23 anos quando se tornou rei, e governou por poucos meses. Deposto pelos egípcios.
Jeoiaquim
(Eliaquim)
609-598
Filho de Josias. Tributário do faraó Necau II, mas depois da batalha de Carquemis, os babilónios tomaram o controlo.
Jeconias
(Joaquim)
598-597
Filho de Jeoiaquim. Jerusalém capturada pelos babilónios e este rei foi deposto em 597 BC após poucos meses de reinado. Primeira deportação para Babilónia
Zedequias
(Sedecias)
597-587
Filho de Josias. O último rei de Judá, sob domínio babilónio. Deposto. Jerusalém destruída, incluindo o Templo. Segunda deportação para Babilónia.
Período de exílio na Babilónia
(Zorobabel)
(539)
Neto de Jeconias (trineto de Josias). Não foi rei. Liderou um retorno dos israelitas a Jerusalém sob o domínio dos persas.


Os persas

O poder dos babilónios não durou muito. Passados cerca de sessenta anos depois da tomada de Jerusalém pelos babilónios, a Pérsia liderada por Ciro II o Grande dominava em toda a região do médio-oriente. Uma das políticas dos persas foi a defesa da identidade cultural e alguma autonomia política dos povos conquistados, por isso promoveu o repatriamento dos judeus de volta a Jerusalém.

O rei Ciro II, apesar de ser um conquistador estrangeiro, no Antigo Testamento é considerado um salvador para os judeus, sendo mesmo designado como um Messias (esta palavra hebraica significa “rei escolhido por Deus”; em Isaías 45:1, na Septuaginta, uma antiga tradução grega, foi traduzida por Christos). E algum deste estatuto estendeu-se para os sucessores de Ciro no império persa: Dario, Xerxes e Artaxerxes. Isto leva a crer que alguns dos livros do Antigo Testamento foram escritos sob forte influencia persa.  


Os profetas do pós-exílio

O estilo literário profético no Antigo Testamento alcançou o seu pico no período anterior e durante o exílio babilónico. Jeremias, Ezequiel, e dois autores de Isaías deixaram as marcas mais profundas no desenvolvimento religioso do povo israelita. O período após o exílio é caracterizado pelos trabalhos de muitos alegados profetas, alguns dos quais preservados no Antigo Testamento. Em geral, estes profetas eram homens de visão limitada, mas havia algumas excepções, e a literatura que pertence a esse período contém algumas das melhores ideias encontradas sobre o estilo profético, embora na maioria dos casos, os autores dessas passagens sejam anónimos.

Três personagens, que não são profetas, são de grande importância para entender os acontecimentos e são referidos na literatura deste período:
-          Ciro – imperador persa – permite o regresso de milhares de judeus a Jerusalém ao fim de décadas de exílio;

-          Zorobabel – herdeiro da coroa de Judá – alegado descendente do rei Josias que acompanhou o primeiro grupo de retornados; terá sido, eventualmente, considerado um messias ao ser visto como potencial restaurador do reino de Israel;

-          Yeoshua (Jesus) filho Jeozadaque – sumo-sacerdote – aparece como o grande restaurador do culto de Yahveh em Jerusalém; foi também visto como potencial messias, não pela via da realeza, mas pela via do poder e prestígio religioso; Zacarias tem uma visão em que era entregue uma coroa a este Yeoshua.


Uma presença frequente nos textos são os edomitas, vizinhos dos israelitas, que são referidos colectivamente como os principais inimigos. Os edomitas são referidos como descendentes de Esaú, o irmão de Jacob.

Os profetas do período pós-exílico são de particular interesse porque indicam as diversas tendências de pensamento que foram tomando forma durante os séculos que se seguiram imediatamente ao retorno dos exilados de Babilónia. O Templo de Jerusalém e as respectivas cerimónias e actividades vieram ocupar um lugar mais importante na vida religiosa do povo.
Ageu acreditava especialmente que a presença de Yahveh, bem como as suas bênçãos, era dependente de haver um lugar adequado, um Templo, para que Yahveh pudesse habitar no meio deles.
A introdução da figura de Satanás nas profecias de Zacarias, assim como as implicações escatológicas das suas visões, marca uma tendência importante no desenvolvimento do judaísmo pós-exílico.
A distinção entre o secular e o sagrado, enfatizada por Malaquias e implícita nas obras de outros profetas, passou a ocupar mais e mais atenção por parte dos sacerdotes.
O espírito nacionalista, que em alguns casos chegou ao ponto de ódio contra os inimigos de Israel, pode ser visto em Obadias.

Debrucemo-nos, agora em detalhe, sobre estes profetas cujos textos encontram-se no Antigo Testamento.

Ageu

Quando os exilados voltaram da Babilónia, eles tiveram muitas decepções amargas. Os profetas Ezequiel e Isaías com as suas fantásticas promessas criaram tantas expectativas que as pessoas ansiavam uma era de grande felicidade e prosperidade material.

No entanto, apesar da ajuda e incentivo dado aos exilados por Ciro, o imperador persa, quando eles voltaram para a sua terra, depararam-se com condições miseráveis. A terra fora negligenciada, os edifícios foram dilapidados, e as pessoas que tinham ficado para trás (os que não foram exilados) tornaram-se descuidadas e indiferentes em relação às tradições e obrigações.

Para piorar a situação, os estados vizinhos assumiam uma atitude hostil para com os hebreus; na tentativa de reconstruir os muros de sua cidade, os hebreus acharam necessário ter as suas espadas ao alcance da mão enquanto trabalhavam com tijolos e argamassa. Sob essas condições, Ageu apareceu como um porta-voz de Yahveh.

Em tempos anteriores, quando o templo de Jerusalém foi destruido, o profeta Ezequiel disse que Yahveh abandonara Jerusalém para acompanhar os exilados para Bablilónia.

A mensagem de Ageu é essencialmente de reprovação, acusando o povo de negligenciar a reconstrução do templo, impedindo o regresso de Yahveh para habitar no seu meio. O povo respondeu à mensagem de Ageu e começou a trabalhar com uma nova vontade.

Prejudicados por uma falta de equipamento e materiais, eles fizeram o melhor que podiam, dadas as circunstâncias. Quando terminaram, Ageu disse-lhes que, apesar de o edifício que ergueram ser mais pobre que o Templo original, Yahveh estaria com eles; no devido tempo, as promessas de Yahveh iriam ser plenamente realizadas.


Zacarias

Tal como Ageu, Zacarias também traz uma mensagem de esperança e encorajamento para aqueles que retornaram do exílio. No entanto, Zacarias faz uma análise mais profunda da situação do que a do seu contemporâneo. Zacarias percebeu que algo mais do que uma reconstrução do Templo era necessário antes que as esperanças de Israel pudessem ser realizadas. A transformação moral deveria ter lugar dentro das próprias pessoas, que deveriam ser limpas da sua natureza maligna. Além disso, as nações estrangeiras que o povo considerava seus inimigos deveriam ser subjugadas, mas não por os israelitas pegarem em armas contra eles mas sim que "Yahveh esmagará os agressores quando for o momento certo para ele agir".

As mensagens de Zacarias vêm expressas numa série de oito visões, cada uma das quais simboliza algum aspecto da situação que tem a ver com o futuro de seu povo.
-          Numa dessas visões, o profeta vê um topógrafo angelical medindo a área em que Jerusalém deveria ser reconstruída e fazendo a marcação da linha de uma muralha. Outro anjo explica que a cidade não terá necessidade de uma muralha porque a proteção de Yahveh é tudo o que é necessário;

-          Noutra visão, o sumo sacerdote Yeoshua (Jesus), vestido com roupas sujas, está diante de um anjo. À direita de Yeoshua está Satanás, o acusador, que traz acusações contra Yeoshua e as pessoas a quem ele ministra. O anjo não aceita essas acusações. Yeoshua é então vestido com uma túnica branca, que simboliza o perdão dos pecados do povo;

-          Outras visões simbolizam a destruição das forças do mal. Uma das declarações mais significativas encontradas no livro é a mensagem de Yahveh a Zorobabel, incluindo o ditado "Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz Yahveh Todo-Poderoso."


Malaquias

Um profeta anónimo falou com os exilados retornados e ofereceu-lhes uma explicação da situação que enfrentavam. Ficou conhecido como Malaquias não porque este era o seu nome, mas porque a palavra significa "mensageiro", e nas suas previsões sobre o futuro, ele diz que um mensageiro vai preceder a vinda do "Dia do Senhor" e vai preparar as pessoas para esse evento. Ele tinha algumas palavras de encorajamento, bem como palavras de repreensão, para as pessoas a quem ele dirigiu a sua mensagem.

Insistindo em que Yahveh ainda ama os israelitas, apesar de todas as desgraças que se abateram sobre eles, Malaquias chama a atenção para o facto de que os edomitas foram severamente punidos, o que foi uma boa notícia para os israelitas, que desprezavam os edomitas como traidores. O profeta cita Yahveh como dizendo: "Eu amei Jacob, mas odiei Esaú, e tornei suas montanhas numa terra desolada e a deixei como herança aos chacais do deserto."

De acordo com Malaquias, uma das razões pelas quais Yahveh reteve suas bênçãos dos israelitas por tanto tempo foi a utilização frequente, da parte do povo, de animais doentes e inferiores para ofertas de sacrifício - Yahveh exige o melhor e não ficará satisfeito com menos.

Outra razão pela qual Yahveh deixou de abençoar o seu povo foi o fracasso dos israelitas em assuntos de dízimos e ofertas; Aqui, o profeta acusa o seu povo de roubar a Deus. Além disso, alguns homens se divorciaram das suas esposas, para se casarem com mulheres de ascendência estrangeira, o que seria contrário à vontade de Yahveh. Tão descuidado e indiferente que o povo se tornou que o profeta diz que mesmo entre os gentios, o nome de Yahveh é honrado e temido mais do que entre os israelitas. Se os israelitas se arrependessem e corrigissem todos esses erros, Yahveh abriria as janelas do céu e derramaria uma bênção tão grande que as pessoas não seriam capazes de receber tudo isso. Esta bênção incluiria benefícios materiais como excelentes colheitas, aumento dos rebanhos, e saúde.


Obadias

O trabalho de Obadias é preservado num livro tão pequeno que contém um único capítulo. O livro é o menos significativo de todos os escritos proféticos, tanto do ponto de vista literário como religioso. Decididamente nacionalista no tom, a primeira parte do capítulo se alegra com a queda dos edomitas. A parte restante prediz o triunfo do povo hebreu num hipotético momento em que todos os seus inimigos serão destruídos.



Conclusões

O trabalho do profeta era conseguir notoriedade e poder através da religião. O profeta tinha de competir com o poder secular (monárquico), com o poder dos estrangeiros e com o poder de outras religiões. Um denominador comum é deixar sempre as promessas por cumprir... os crentes não se importam de esperar séculos ou milénios pelo cumprimento!...
Yahveh foi o deus escolhido por alguns profetas como instrumento da sua vontade de obter popularidade ou poder. O Antigo Testamento contém apenas os escritos de profetas que escolheram Yahveh como a sua personagem divina favorita.