domingo, 3 de abril de 2016

Adapa - O Adão da Acádia




O Mito Mesopotâmico de Adapa

O Mito de Adapa (também conhecido como Adapa e o Alimento da Vida) é a história mesopotâmica da Queda do Homem que explica por que motivo os seres humanos são mortais. 

O texto foi descoberto numas escavações do final do século XIX, em Tell-el-Amarna - um local que foi a capital do Império Egípcio no tempo de Akhenaton (1352-1335 AEC). Nessa exploração arqueológica foi encontrada uma extensa biblioteca de tábuas de argila, contendo, entre muitos outros textos, o Mito de Adapa.

O Deus da Água e da Sabedoria, Ea (pronuncia-se "Yah"), cria Adapa e dá-lhe grande inteligência e sabedoria, mas não a imortalidade, e sabendo que a imortalidade poderia ser oferecida a Adapa pelo grande deus Anu, Ea engana Adapa e convence-o a recusar este dom.

O raciocínio de Ea neste mito parece semelhante ao de Yahveh (em Génesis 3:22-24), onde, depois de Adão e Eva serem amaldiçoados por comer da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal, Yahveh os expulsa antes que eles possam também comer da Árvore da Vida:

Génesis 3:22-24 
Então disse Yahveh Deus: “Agora o homem se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Não se deve, pois, permitir que ele tome também do fruto da árvore da vida e o coma, e viva para sempre”. 
Por isso Yahveh Deus o mandou embora do jardim do Éden para cultivar o solo do qual fora tirado. Depois de expulsar o homem, colocou a leste do jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que se movia, guardando o caminho para a árvore da vida.


Se Adão e Eva fossem imortais, ficariam ao nível de Yahveh e haveria uma perda de status para este deus. E este é o mesmo raciocínio de Ea no mito de Adapa. No mito do Génesis, Adão toma o conhecimento por si mesmo comendo o fruto da árvore do conhecimento; no mito mesopotâmico, o deus Ea concede a Adapa conhecimento no processo de criação. Sabendo que Adapa já é sábio, Ea (como Yahveh na história de Génesis) precisa manter o homem no seu devido lugar, impedindo-o de comer o alimento da vida.

Diz o mito que Adapa, rei da cidade de Eridu, um dia foi pescar quando o Vento Sul virou de repente seu barco e o lançou ao mar. Furioso com isso, Adapa quebrou a asa do Vento Sul e durante sete dias o vento não pôde soprar. Anu, o deus do céu, ficou irritado com Adapa e chama-o ao céu para vir se explicar. Adapa recebe conselhos de Ea sobre como se deve comportar na corte dos deuses. Como Ea é o pai-deus de Adapa e criador, Adapa confia nele. Mas Ea receia que Anu ofereça a Adapa o alimento e a bebida da vida eterna e quer certificar-se de que Adapa não aceita a oferta.

Primeiro Ea diz a Adapa que deve lisonjear os guardiões dos portões, Tammuz e Gishida (duas divindades que morreram e ressuscitaram, Gishida seria representado como uma serpente e também referido também como Ningishzida "Senhor da boa árvore"), fazendo saber que ele se lembra deles, que bem os conhece. Se Adapa fizer isso, então os guardiões vão deixá-lo passar sem dificuldade e vão falar favoravelmente dele para Anu. Ea ainda lhe diz que, quando estivesse na presença de Anu, deveria recusar qualquer alimento ou bebida oferecida, porque seria o alimento da morte e a bebida da morte que lhe seria oferecida como punição por Adapa ter quebrado a asa do Vento Sul. No entanto, acrescenta Ea, Adapa poderia aceitar óleo para ungir-se e aceitar qualquer oferta de roupa.

Quando chega ao céu, Adapa faz exatamente o que Ea sugere, honrando respeitosamente Tammuz e Gishida.

Anu respeita a argumentação de Adapa e impressiona-se com ela, mas indaga-se por que Ea fez Adapa tão inteligente, mas negou-lhe a vida eterna. Seguidamente Anu ordena que o alimento e a água da vida eterna sejam trazidos a Adapa. Anu deseja corrigir o erro de Ea e conceder a Adapa a vida eterna.

Adapa recusa a comida e bebida oferecida por Anu, mas aceita ungir-se com óleo e receber uma túnica. Anu, chocado por o homem recusar o alimento e a bebida que lhe dariam o dom da imortalidade, envia Adapa de volta à terra onde ele deve viver a sua vida como um mortal.

No fim da história parece que Anu pretende julgar Ea, mas o texto final ficou danificado no original


Texto do Mito de Adapa


Ele [Adapa] possuía inteligência. . .

Seu comando era como o comando de Anu ...
Ele [o deus Ea] concedeu-lhe um grande entendimento para lhe revelar o destino da terra,
Ele lhe concedeu sabedoria, mas não lhe concedeu a vida eterna.
Naqueles dias, naqueles anos o homem sábio de Eridu,
Ea o havia criado como líder entre os homens,
Um homem sábio cujo comando nenhum deve opor,
O prudente, o mais sábio entre os Anunnaki era ele,
Imaculado, de mãos limpas, ungido, observador dos estatutos divinos,
Com os padeiros ele fez pão
Com os padeiros de Eridu, ele fez pão,
A comida e a água para Eridu ele fez diariamente,
Com as mãos limpas, preparou a mesa,
E sem ele a mesa não estava limpa. 
O navio que ele dirigiu, pescando e caçando para Eridu.
Então Adapa de Eridu
Enquanto Ea, ... na câmara, sobre a cama.
Diariamente o fechamento de Eridu ele atendeu.
Em cima da represa pura, a represa da lua nova, embarcou no navio.
O vento soprou e seu navio partiu.
Com o remo, dirigiu seu navio sobre o largo mar. . .
O Vento Sul ... quando ele me levou para a casa de meu senhor, eu disse:
"Ó Vento Sul, no caminho eu vou ter contigo ... tua asa quebrarei."
Enquanto falava com a boca, a asa do Vento Sul foi quebrada, sete dias o Vento Sul não soprou sobre a terra. 
Anu chamou o seu mensageiro Ilabrat:
"Por que o Vento Sul não soprou sobre a Terra por sete dias?"
Seu mensageiro Ilabrat lhe respondeu:
"Meu senhor, Adapa, o filho de Ea, quebrou a asa do Vento Sul."
Quando Anu ouviu estas palavras, gritou:
 - "Ajudem-me!" e, subindo ao trono, disse - "Que alguém o traga." 
Entretanto Ea, que conhece os céus, soube disto... ele o fez vestir. Com uma roupa de luto ele o vestiu e lhe deu conselhos, dizendo: 
  - "Adapa, diante do rosto de Anu, o Rei, tu vais ... ao céu.
Quando subires e te aproximares da porta de Anu, na porta de Anu estarão Tammuz e Gishzida de pé.
Eles te verão, eles te perguntarão:
 - 'Senhor, por causa de quem veio, Adapa? Para quem está vestido de luto?'
 - 'No meu país, dois deuses desapareceram, portanto eu estou assim.'  [deves responder]
 - 'Quem são os dois deuses, que na terra desapareceram?'
 - 'Tammuz e Gishzida.' [deves responder]
Eles vão olhar um para o outro e ficarão surpresos.
Boas palavras eles vão falar a Anu.
Um bom semblante de Anu eles te mostrarão.
Quando estiveres de pé perante Anu
A comida da morte eles colocarão diante de ti. Não comas.
Água de morte eles colocarão diante de ti. Não bebas.
Roupa eles vão colocar diante de ti. Veste-a.
Óleo, eles te colocarão diante de ti. Unge-te a ti mesmo.
O conselho que te dei, não te esqueças.
As palavras que falei, mantém-nas firmes." 
O mensageiro de Anu veio:
 - "Adapa quebrou a asa do Vento Sul. Traga-o diante de mim."
O caminho para o Céu ele o fez tomar, e para o Céu ele ascendeu. 
Quando ele chegou ao Céu, quando se aproximou da porta de Anu, na porta de Anu, Tammuz e Gishida encontram-se de pé.
Quando viram Adapa, clamaram:
 - "Ajuda, Senhor, por quem apareces? Adapa, para quem estás vestido de um manto de luto?"
 - "No país dois deuses desapareceram, por isso estou vestido em roupas de luto."
 - "Quem são os dois deuses, que desapareceram da terra?"
 - "Tammuz e Gishzida."
Eles olharam um para o outro e ficaram espantados. 
Quando Adapa aproximou-se de Anu, o Rei viu-o e gritou:
 - "Diz, Adapa, por que quebraste as asas do Vento Sul?"
Adapa respondeu a Anu:
 - "Meu senhor, para a casa do meu senhor no meio do mar, eu estava apanhando peixe. O mar era como um espelho, o Vento Sul soprou e me virou. À casa do meu senhor fui levado. Na raiva do meu coração, eu tomei atenção."
Tammuz e Gishzida responderam ... "és tu". Para Anu eles falaram. Ele se acalmou, seu coração estava. . .
 - "Por que Ea revelou à humanidade impura o coração do céu e da terra? Um coração ... criou dentro dele, fez-lhe um nome? O que podemos fazer com ele? Alimento da vida trazei-lhe, para que coma."
Alimento da vida trouxeram, mas ele não comeu.
Água da vida trouxeram, mas ele não bebeu.
Vestuário trouxeram. Vestiu-se.
Óleo trouxeram. Ele se ungiu.
Anu olhou para ele, perguntou-lhe:
 - "Vem, Adapa, por que não comeste, não bebeste? Agora não viverás. "
... homens ...
 - Ea, meu senhor disse: "Não coma, não beba".
 - Peguem-no e levem-no de volta à sua terra.
... olhou para ele.
Quando [Anu] ouviu isso na raiva de seu coração
Seu mensageiro ele enviou.
Aquele que conhece o coração dos grandes deuses
.....
Ao rei Ea para vir,
Para ele, ele fez com que as palavras fossem suportadas.
...

Referência: