Já vimos que o autor de Actos quis fazer uma biografia de Paulo, dando relevo ao episódio da sua conversão a Cristo com três narrativas do mesmo episódio. Vejamos agora as referências de Paulo, em primeira mão, sobre a sua conversão à nova fé cristã.
Em Gálatas 1:11-19 Paulo refere que tudo o que ensina (aos seus leitores da Galácia) veio através de revelação de Cristo e não através de homens, porque só três anos após a sua conversão é que conheceu os apóstolos Cefas (no Evangelho Segundo João, este Cefas é Pedro) e Tiago “irmão do Senhor” (aqui não se percebe a qual Tiago se refere Paulo; nos evangelhos existem dois apóstolos com esse nome, um filho de Zebedeu e um filho de Alfeu, e também outro Tiago, irmão de Jesus, que não era apóstolo)
Gálatas 1:11-19 Mas faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é segundo os homens; porque não o recebi de homem algum, nem me foi ensinado; mas o recebi por revelação de Jesus Cristo. Pois já ouvistes qual foi outrora o meu procedimento no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava, e na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais. Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela sua graça, revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, não consultei carne e sangue, nem subi a Jerusalém para estar com os que já antes de mim eram apóstolos, mas parti para a Arábia, e voltei outra vez a Damasco. Depois, passados três anos, subi a Jerusalém para visitar a Cefas, e demorei com ele quinze dias. Mas não vi nenhum outro dos apóstolos, senão Tiago, irmão do Senhor.
1 Coríntios 15:1-10 ... Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras; que foi sepultado; que foi ressuscitado ao terceiro dia, segundo as Escrituras; que apareceu a Cefas, e depois aos doze; depois apareceu a mais de quinhentos irmãos duma vez, dos quais vive ainda a maior parte, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos; e por derradeiro de todos apareceu também a mim, como a [alguém nascido fora do seu tempo]. Pois eu sou o menor dos apóstolos, que nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a igreja de Deus. Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus que está comigo.
Portanto Paulo afirma que conheceu a mensagem do
ressuscitado Cristo apenas por revelação, sem a intervenção de qualquer homem,
Ou seja, Paulo afirma que não teve um instrutor humano, nenhum daqueles
apóstolos ou discípulos a quem Jesus deu a missão de fazer novos discípulos.
Com isto, a vida terrena de Jesus, tal como é narrada nos evangelhos, não teria
o menor sentido, a não ser os episódios da sua crucificação e da sua ressurreição. Os
apóstolos que Paulo refere supostamente tiveram o mesmo tipo de revelação que
ele teve e não uma convivência quotidiana com um pregador chamado Jesus da
Nazaré. A única diferença é que Paulo afirma ter recebido a revelação um pouco mais tarde que outros apóstolos.
Para Paulo, o Cristo era uma criatura divina que se sacrificara para resgatar os homens e nunca um carpinteiro da Galiléia. Ao contrário do Jesus dos evangelhos, o Cristo de Paulo é intemporal, ou seja, não está ligado a nenhuma época ou espaço de tempo específico. A sua morte não ocorreu nas mãos de nenhuma autoridade romana nem de nenhuma outra autoridade histórica.
No entanto, Paulo, numa das suas primeiras cartas (ou naquela que é provavelmente a sua carta mais antiga), promete a
“presença do Senhor” para breve. Diz que alguns ainda estarão vivos para ver o “Senhor”
descer do céu, levar os vivos para as nuvens e ressuscitar aqueles que morreram
entretanto (1 Tessalonicenses 4:13-18).
O Cristo de Paulo ainda estava para vir à Terra! Essa visita do Cristo seria ainda dentro da geração - ou seja, durante a vida - de Paulo e dos destinatários das suas cartas.
1 Tessalonicenses 4:13-18 ... Porque o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, com voz do arcanjo, ao som da trombeta de Deus, e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras.
O Cristo de Paulo ainda estava para vir à Terra! Essa visita do Cristo seria ainda dentro da geração - ou seja, durante a vida - de Paulo e dos destinatários das suas cartas.