O que são os evangelhos?
A palavra evangelho (gr. evangélio)
significa “boas novas” ou “boas notícias”. Usa-se a palavra evangelho para
designar qualquer composição sobre a mensagem e obra de uma personagem chamada Jesus que teria, alegadamente, características excepcionais. Não se sabe que porção de cada evangelho será baseada em dados biográficos reais - no limite, a personagem Jesus pode ser completamente ficcional.
O Novo Testamento contém apenas quatro dessas composições, aos quais foram atribuidos os seguintes títulos:
- Evangelho Segundo Mateus – mas antes de ter este título poderia ser conhecido como o “livro da genealogia de Jesus”, que é a frase inicial do texto.
- Evangelho Segundo Marcos – deveria ser conhecido como o “livro das boas novas [evagellon] de Jesus”.
Estes quatro evangelhos são chamados de canónicos porque, a determinado momento, foram reconhecidos e autorizados por detentores do poder religioso.
Uma vez que existem ou existiram muitos outros escritos sobre o evangelho de Jesus, é certo que houve um processo de selecção. O que não se sabe ao certo é se esse processo de selecção foi ditado pelas preferências dos crentes ou se foi ditado pelos dirigentes das diversas igrejas cristãs.
Uma vez que existem ou existiram muitos outros escritos sobre o evangelho de Jesus, é certo que houve um processo de selecção. O que não se sabe ao certo é se esse processo de selecção foi ditado pelas preferências dos crentes ou se foi ditado pelos dirigentes das diversas igrejas cristãs.
Evangelhos excluídos
Hoje, ao contrário do que acontecia até ao século XIX, estamos em posição de poder consultar muitos dos
evangelhos que foram proibidos, ou que estiveram perdidos (alguns descobertos
em 1945, em Nag Hammadi, no Egipto), como por exemplo:
-
Evangelho de Tomé (50-140 EC) – descoberto em Nag Hammadi, em 1945, contém uma colecção de dizeres em que Jesus inicia com a sugestiva
proposta “quem souber interpretar estes dizeres jamais provará a morte”; grande
parte dos versículos começam com “Jesus disse...”; muitos dos dizeres
encontram-se nos evangelhos do Novo
Testamento;
-
Evangelho Segundo Pedro (95-150 EC) – este evangelho foi descoberto em 1886, no Egipto, cem quilometros a norte de Nag Hammadi; o texto refere que no túmulo de Jesus aparecem dois homens tão altos que as suas cabeças chegavam aos céus e que conduziam um terceiro homem tão alto que a sua cabeça ultrapassava os céus;
-
Evangelho Segundo Maria [Madalena] (120-180 EC) – neste evangelho descoberto em 1896, Maria Madalena é a favorita
entre os discípulos de Jesus (o que não contraria os evangelhos do Novo Testamento);
-
Evangelho de Filipe (180-250 EC) – também descoberto em Nag Hammadi, numa passagem descreve que Jesus beijava
frequentemente Maria Madalena;
-
Evangelho de Judas (130-170 EC) – a sua recente recuperação (em 2006) a partir de milhares de
fragmentos mostra uma doutrina em que Judas é retratado de uma forma favorável;
-
Evangelho da Infância Segundo Tomé (140-170 EC) – descreve as traquinices de Jesus na sua
infância durante a qual utilizava os seus poderes com irresponsabilidade;
Na Ficção Moderna
O Código Da Vinci, um livro que teve uma enorme divulgação, trouxe ao imaginário dos
leitores uma teoria da conspiração centrada na Igreja Católica. Essa
conspiração é descrita nos seguintes termos: num dado momento da História, foi
decidido centralmente quais os textos que deveriam pertencer ao Novo Testamento, decretando a destruição
daqueles que seriam embaraçosos para a Igreja, por não se enquadrarem nas
doutrinas defendidas por esta, nomeadamente aqueles que descrevessem Jesus com
traços demasiado humanos, não lhe atribuindo características divinas, e também
aqueles que dessem demasiado relevo às mulheres, em particular a Maria Madalena.
Mesmo considerando que se trata apenas da base de um romance
ficcional, este argumento da teoria da conspiração tem pouca sustentação. Por
exemplo, se analisarmos o Evangelho
Segundo Marcos, um dos textos autorizados pelo poder eclesiástico,
verificamos que contém uma boa quantidade de detalhes embaraçosos para a
Igreja, retratando um Jesus demasiado humano, ou seja, pouco compatível com as doutrinas católicas. Daí que podemos
facilmente argumentar que as preferências dos crentes tiveram peso na escolha
dos textos que iriam compor o Novo
Testamento, nem que fosse pelo simples facto de que o Evangelho Segundo Marcos poderia já ter-se tornado numa espécie de
“best-seller” da época, impossível de erradicar.
Por outro lado, vemos também que o Evangelho Segundo Lucas contém inúmeras passagens onde as mulheres
protagonizam como preferidas entre os discípulos de Jesus. Se a Igreja Católica
tem séculos de discriminação das mulheres, nunca tal pode ter sido fundamentado pelo conteúdo dos evangelhos, mas sim pelas tradições em que a Igreja se fundou
e por uns poucos versículos de origem duvidosa no Novo Testamento.
Os evangelhos gnósticos
Uma classe de literatura religiosa cai na área do
gnosticismo, cujo objecto de estudo é alcançar um conhecimento sobre a natureza
de Deus, através do aperfeiçoamento individual.
Dentro desta classe de literatura estão os evangelhos gnósticos,
escritos em torno da personagem de Jesus Cristo, cujo conteúdo teria sido
construído com o propósito de ser interpretado simbolicamente e não como
relatos históricos ou biográficos.
Os evangelhos encontrados em 1945, em Nag Hammadi, são
geralmente enquadrados nesta categoria (por exemplo, os Evangelhos de Tomé e de
Filipe). É provável que tenha sido essa a forma original destes e de todos os outros
evangelhos.
Durante séculos, a Igreja combateu esta forma de
interpretação, promovendo a leitura dos evangelhos como se se tratassem de rigorosos
documentos históricos.