domingo, 11 de novembro de 2012

Evangelho Segundo Lucas - Introdução





A tradição atribuiu para este livro a autoria de Lucas, um médico amigo do (auto-proclamado) apóstolo Paulo. Os defensores desta tradição tentam reforçar esta ideia “encontrando” no texto provas de que o autor seria médico, mas as passagens simplesmente revelam que o autor seria dotado de uma sólida cultura geral.

O nome “Lucas” é referenciado por três vezes em diferentes cartas de Paulo, mas não há nada que garanta que estas três referências dizem respeito ao mesmo homem, porque não pormenorizam detalhes. Uma das passagens caracteriza Lucas como “médico amado” e as outras apenas listam o nome entre outros.

Colossenses 4:10-14 Saúda-vos Aristarco, meu companheiro de prisão, e Marcos, o primo de Barnabé (a respeito do qual recebestes instruções; se for ter convosco, recebei-o), ... Saúda-vos Lucas, o médico amado, e Demas. 
2 Timóteo 4:11 só Lucas está comigo. Toma a Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. 
Filemón 1:24 assim como Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores.

Podemos ver que em todas as referências que Paulo faz de Lucas também faz referência a uma pessoa com o nome de Marcos que, por sua vez, a tradição atribui a autoria do Evangelho Segundo Marcos. Se a tradição estiver correcta temos pelo menos dois evangelhos ligados quase directamente a Paulo, o qual declarou nunca ter conhecido Jesus em carne, mas apenas através de visões (Gálatas 1:11-12).
Lucas tem 1149 versículos, 320 dos quais poderão ter sido inspirados em Marcos. Segundo a teoria da “Dupla Fonte” o seu autor verteu cerca de metade do conteúdo de Marcos para o seu próprio relato. Baseou o resto do texto noutras fontes como o Evangelho Perdido Q e outras.
Podemos identificar uma série de omissões relativamente a Marcos, e uma delas é um bloco considerável. Vamos explorar mais adiante, uma teoria que sustenta que “Lucas” teve como fonte uma cópia danificada de Marcos, de onde teria sido subtraído um bloco de texto que é chamado de “grande omissão de Lucas”.



Data e local de escrita

O Evangelho Segundo Lucas, não fornece internamente nenhuma pista sobre qual a data de sua escrita. Mas, segundo a teoria da “Dupla Fonte”, esta obra foi escrita depois de Marcos, digamos que depois de 70 EC, e como limite superior temos os registos históricos sobre Marcion de Sínope, que, por volta de 150 EC, propôs este evangelho como o único aceitável para fazer parte de um cânon de escrituras cristãs, em conjunto com dez cartas de Paulo.

Quanto ao local, temos de recorrer ao livro dos Actos, assumindo que foi escrito pelo mesmo autor. Podemos encontrar, neste livro, muitas referências a locais da Macedónia e relatos de episódios que aí decorreram. Em particular, vemos que o autor descreve demoradamente a cidade de Filipos e episódios aí decorridos, apesar de explicar que Paulo e seus companheiros só lá permaneceram uns poucos dias. A cidade de Filipos é declarada como a cidade principal da Macedónia (Actos 16:12) mas, historicamente, a capital era Tessalónica. Isto provavelmente significa que, na percepção do autor, Filipos seria uma cidade importante.

Actos 16:12 e dali para Filipos, que é a primeira cidade desse distrito da Macedônia, e colônia romana; e estivemos alguns dias nessa cidade.

Com alguma probabilidade, o autor de Lucas e Actos seria de Filipos ou de outra localidade da Macedónia e estaria a escrever para uma audiência mista de gregos (helenicos) e romanos. No livro dos Actos também é evidente que o autor era, ou pretendia ser, um dos companheiros de Paulo, porque muitas passagens sobre Paulo são narradas na primeira pessoa (do plural, “nós”), mas não podemos concluir que o autor seria “Lucas, o médico amado”, pois há mais companheiros de Paulo que são listados.



Estilo e doutrina

O seu autor, que é provavelmente o autor do livro dos Actos dos Apóstolos, utilizou um estilo literário elaborado, como o encontrado em biografias de personagens históricas.

Na introdução de Lucas, o autor manifesta a razão de escrever a sua obra:
Lucas 1:1-3 Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra, também a mim, depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem.

Com esta introdução ficamos a saber que:
-          o autor não foi o primeiro a escrever um relato sobre o evangelho;
-          o autor já conhecia muitas outras narrativas;
-          o autor não se declara testemunha dos factos, mas antes indica que baseia-se em testemunhos;


Na introdução de Lucas e de Actos, o autor dá a entender que está a escrever para um homem chamado Teófilo (Lucas 1:3 “... pareceu-me bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração...”; Actos 1:1 “Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo...”) e não para uma audiência alargada. Este Teófilo poderia ser realmente um homem, por exemplo um patrocinador do escritor que teria encomendado a “Lucas” um relato elaborado. Mas, por outro lado, “Teófilo” em grego significa “amigo de Deus”, o que poderia significar uma audiência alargada. A procura de solução para ambiguidades como esta fazem da leitura da Bíblia um trabalho obrigatório de investigação.

“Lucas” frequentemente fala do Espírito Santo, 13 vezes no evangelho e 41 vezes no livro Actos dos Apóstolos. Marcos, Mateus e João raramente mencionam.

Os relatos sobre a Anunciação e o nascimento a partir de uma virgem terão sido inseridos posteriormente para acrescentar mistério à crença em Jesus.


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