Lucas e os Cobradores de Impostos
Podemos facilmente suspeitar que os cobradores de impostos eram das
pessoas mais odiadas na Galiléia e Judeia pelas seguintes razões:
-
eram considerados
um dos elos da força de submissão por parte do poder ocupante dos romanos;
-
cobravam
dinheiro a mais de modo a guardarem para eles próprios uma boa margem;
O autor de Lucas
intensificou a tradição de Marcos
quanto à questão de trazer uma imagem favorável aos cobradores de impostos. Para
além das passagens que também encontramos no outro evangelho, Lucas contém uma série apreciável de
passagens exclusivas que branqueiam a imagem tradicional dos cobradores de
impostos.
Cobradores são fervorosos crentes
Em várias passagens exclusivas, “Lucas” mostra o quão
devotos os cobradores de impostos se estavam a tornar.
Lucas 3:12-13 Chegaram também uns publicanos para serem batizados, e perguntaram-lhe: Mestre, que havemos nós de fazer? Respondeu-lhes ele: Não cobreis além daquilo que vos foi prescrito.
Lucas 7:29 E todo o povo que o ouviu, e até os publicanos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o batismo de João.
Lucas 15:1 Ora, chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
Com estas passagens, Lucas enviava aos seus leitores as
seguintes mensagens:
-
os
cobradores de impostos, ao se tornarem crentes, deixavam de enganar os
contribuintes, passando a cobrar apenas o estritamente necessário;
-
os
cobradores de impostos eram boas pessoas com vontade de se misturar com o povo
e de se converter às mesmas crenças;
Parábola do fariseu e do cobrador
Numa passagem exclusiva de Lucas, Jesus conta uma parábola onde figuram um fariseu e um
cobrador de impostos.
Lucas 18:9-14 Propôs também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo para orar; um fariseu, e o outro publicano. O fariseu, de pé, assim orava consigo mesmo: Ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens, roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho. Mas o publicano, estando em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, o pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado.
Nesta história, o cobrador de impostos sai-se muito melhor
do que o fariseu! (... porque é que não estamos surpreendidos...?)
O chefe Zaqueu
Noutra passagem, Zaqueu, que era um rico chefe de cobradores
de impostos (rico, porque obviamente roubava os contribuintes...), é brindado
com uma visita de Jesus a sua própria casa.
Lucas 19:2-10 Havia ali um homem chamado Zaqueu, o qual era chefe de publicanos e era rico. Este procurava ver quem era Jesus, e não podia, por causa da multidão, porque era de pequena estatura. E correndo adiante, subiu a um sicômoro a fim de vê-lo, porque havia de passar por ali. Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa; porque importa que eu fique hoje em tua casa. Desceu, pois, a toda a pressa, e o recebeu com alegria. Ao verem isso, todos murmuravam, dizendo: Entrou para ser hóspede de um homem pecador. Zaqueu, porém, levantando-se, disse ao Senhor: Eis aqui, Senhor, dou aos pobres metade dos meus bens; e se em alguma coisa tenho defraudado alguém, eu lho restituo quadruplicado. Disse-lhe Jesus: Hoje veio a salvação a esta casa, porquanto também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.
No fim de contas, Zaqueu quis arrepender-se e devolver aos
contribuintes todo o dinheiro que tinha roubado. Este episódio, bem como os
outros que já vimos, serviriam para demonstrar a vitória do cristianismo sobre
a corrupção. Esta posição parece também conter um apelo ao aparelho de Estado
para tolerar ou mesmo apoiar o cristianismo.
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