Terramoto e zombies
Mateus relata que, quando Jesus morreu, houve um
terramoto que abriu os túmulos e muitas pessoas foram ressuscitadas, mas
permaneceram nos túmulos até à ressurreição de Jesus. Então, saíram dos túmulos
para serem vistos, em Jerusalém, por muitas outras pessoas.
Marcos
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Mateus
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Marcos 15:38 Então o véu do santuário se rasgou em
dois, de alto a baixo.
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Mateus 27:51-53 E eis que o véu do santuário se rasgou
em dois, de alto a baixo; a terra tremeu, as pedras se fenderam, os sepulcros
se abriram, e muitos corpos de santos que tinham dormido foram ressuscitados;
e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade
santa, e apareceram a muitos.
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Em Marcos está apenas
relatado que a cortina do santuário rasgou-se, os detalhes absurdos (ou
cómicos) são contados apenas por “Mateus”. Se tal tivesse mesmo acontecido
apareceria nos livros dos historiadores da época nem que fosse só pela parte do
terramoto, quanto mais se tivesse ocorrido uma invasão de Jerusalém por zombies!!
O relato de Mateus
diz que os ressuscitados apareceram a muitos em Jerusalém, mas não especifica o que estes
disseram ou fizeram. Esta omissão sobre o papel dos ressuscitados é um padrão
na Bíblia, pois nunca se relata nenhuma acção por parte das pessoas que
estiveram mortas e voltaram a viver (com a excepção da personagem Jesus). E ninguém teve curiosidade de lhes
perguntar qual é a sensação de voltar a viver (por exemplo, perguntar-lhes
“então, como é que se sentiu lá no túmulo?” ou “pensou que era desta que se
finava de vez?”)!?
O túmulo guardado
Apenas “Mateus” conta que o túmulo onde Jesus foi sepultado ficou
vigiado por guardas a partir de sábado, o dia seguinte à crucificação. Um
completo absurdo! Se o túmulo não foi vigiado entre sexta-feira à noite e a manhã
de sábado porque é que se dariam ao trabalho de o vigiar a partir de então? Se
alguém intencionasse roubar o corpo de Jesus tinha tido essas horas de
oportunidade!
Mais incrível é a forma como os supostos factos são
expostos.
Em primeiro lugar, “Mateus” começa por relatar uma conversa
privada entre os sacerdores e Pilatos, mas não explica quem escutou essa
conversa:
Mateus 27:62-65 No dia seguinte, isto é, o dia depois da preparação, reuniram-se os principais sacerdotes e os fariseus perante Pilatos, e disseram: Senhor, lembramo-nos de que aquele embusteiro, quando ainda vivo, afirmou: Depois de três dias ressurgirei. Manda, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até o terceiro dia; para não suceder que, vindo os discípulos, o furtem e digam ao povo: Ressurgiu dos mortos; e assim o último embuste será pior do que o primeiro. Disse-lhes Pilatos: Tendes uma guarda; ide, tornai-o seguro, como entendeis. Foram, pois, e tornaram seguro o sepulcro, selando a pedra, e deixando ali a guarda.
Na sequencia da conversa, Pilatos ordena que os sacerdotes
coloquem os seus próprios guardas a vigiar o túmulo (os guardas seriam,
presumivelmente, os do Templo, embora em algumas traduções em vez de “Tendes
uma guarda” está escrito “Tomem uma guarda”, sugerindo que seriam guardas
fornecidos por Pilatos). Depois, “Mateus” coloca estes guardas na cena da
descoberta do túmulo vazio:
Mateus 28:1-4 No fim do sábado, quando já despontava o primeiro dia da semana, Maria Madalena e a outra Maria foram ver o sepulcro. E eis que houvera um grande terremoto; pois um anjo do Senhor descera do céu e, chegando-se, removera a pedra e estava sentado sobre ela. O seu aspecto era como um relâmpago, e as suas vestes brancas como a neve. E de medo dele tremeram os guardas, e ficaram como mortos.
Finalmente, "Mateus" conta mais uma conversa privada, em que os
sacerdotes subornam os guardas, mais uma vez sem especificar quem foi a
testemunha dessa conversa (ou seja, como é que "Mateus" soube o conteúdo desta conversa?):
Mateus 28:11-15 Ora, enquanto elas iam, eis que alguns da guarda foram à cidade, e contaram aos principais sacerdotes tudo quanto havia acontecido. E congregados eles com os anciãos e tendo consultado entre si, deram muito dinheiro aos soldados, e ordenaram-lhes que dissessem: Vieram de noite os seus discípulos e, estando nós dormindo, furtaram-no. E, se isto chegar aos ouvidos do governador, nós o persuadiremos, e vos livraremos de cuidado. Então eles, tendo recebido o dinheiro, fizeram como foram instruídos. E essa história tem-se divulgado entre os judeus até o dia de hoje.
Esta passagem é mais um exclusivo de “Mateus”. Nenhum dos
outros evangelistas referiu a possibilidade do corpo de
Jesus ser furtado do sepulcro, nem sequer a respeito de o túmulo estar a ser vigiado (Marcos 16:1-8; Lucas 24:1-12; João 20:1-9).
Toda esta passagem entra já num provável
acrescento a Mateus que inclui os
versículos finais do capítulo 27 e grande parte do capítulo 28. Este acrescento pode ter sido feito já numa época em que os leitores dos evangelhos já pensavam estar a ler uma biografia de Jesus e não textos alegóricos.
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