sábado, 1 de dezembro de 2012

Evangelho Segundo João - Introdução






Introdução
O Evangelho Segundo João, destaca-se dos demais evangelhos (os sinópticos), por conter muito teor teológico e uma narrativa muito diferente.

Este livro também destaca-se porque parece que o autor identifica-se com uma das personagens da sua narrativa. Mas o autor não revela o nome dessa personagem, identificando-a misteriosamente com o nome de “discípulo que Jesus amava” ou “discípulo amado”. A tradição atribuiu a autoria ao apóstolo João porque, como nunca é referido por nome, presumiram que este é que seria o “discípulo amado”, embora sejam poucos os apostolos que são referidos por nome no texto do Evangelho Segundo João.

A narrativa não é tão clara como nos sinópticos. Nos sinópticos, durante a vida pública de Jesus só é mencionada uma celebração de páscoa, levando a crer que a vida pública de Jesus durou menos de um ano. Em João parece que decorreram três páscoas, o que indica uma narrativa ao longo de mais de dois anos. Também encontramos várias idas a Jerusalém, enquanto nos sinópticos é descrita, como um evento de máxima importância, apenas uma viagem a Jerusalém.


Data e local de escrita

A tradição aponta o apóstolo João filho de Zebedeu como o autor do Evangelho Segundo João mas o texto deste evangelho não contém nenhumas pistas para suportar esta ideia. Tradicionalmente também se aponta que este evangelho foi redigido em Éfeso (na actual Turquia) por volta do final do século I (perto de 100 EC).

A principal dificuldade para se estabelecer uma data de escrita deriva do facto de João ter um conteúdo demasiado retalhado e baralhado, que parece ter sido modificado ao longo de muitos anos até atingir a versão final que conhecemos hoje. E a versão final apresenta várias passagens consideradas duvidosas por não constarem de todos os manuscritos antigos. Por exemplo, a passagem do “apedrejamento da adúltera” (João 7:53-8:11, também conhecida como Pericopa De Adultera) é reconhecida como uma inserção tardia, sendo assinalada entre parentesis rectos (ou de outra forma) na maior parte das traduções modernas do Novo Testamento:
João 7:53-8:11 [E cada um foi para sua casa. Mas Jesus foi para o Monte das Oliveiras. Pela manhã cedo voltou ao templo, e todo o povo vinha ter com ele; e Jesus, sentando-se o ensinava. Então os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; e pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério. Ora, Moisés nos ordena na lei que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever no chão com o dedo. Mas, como insistissem em perguntar-lhe, ergueu-se e disse-lhes: Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isto foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, até os últimos; ficou só Jesus, e a mulher ali em pé. Então, erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém senão a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Respondeu ela: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.]

Algumas anotações em traduções do Novo Testamento afirmam que esta passagem também aparecia em alguns antigos manuscritos de Lucas - até porque seria mesmo típico do conteúdo deste evangelho, na tradição dos textos para a dignificação das mulheres. Mas, provavelmente, por retratar um Jesus demasiado tolerante ao adultério, a passagem terá sido eliminada das edições de Lucas, mas sobreviveria enquanto tradição até alguém ter encontrado um lugar nos evangelhos canónicos para, finalmente, a incluir no Evangelho Segundo João que, pela sua característica desorganização narrativa, seria o mais indicado para receber adições tão tardias.

O último capítulo (João 21) também mostra ser uma inserção porque os últimos versículos do capítulo anterior (João 20:30-31) parecem uma conclusão e um fecho do livro, e que provavelmente o foi numa versão anterior e mais curta de João:
João 20:30-31 Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro; estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.

O fim do capítulo 20 parece ditar a conclusão do Evangelho Segundo João. Mas o texto prossegue estranhamente com mais alguns episódios da pós-ressureição de Jesus.

João 21:1-25 Depois disto manifestou-se Jesus outra vez aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e manifestou-se deste modo: ...
... E ainda muitas outras coisas há que Jesus fez; as quais, se fossem escritas uma por uma, creio que nem ainda no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem.


É notório que a conclusão do livro no capítulo 21 é semelhante à conclusão apresentada no capítulo 20. Por isso é provável que o último capítulo de João tenha sido inserido mais tarde, embora este facto não esteja assinalado nas edições actuais do Novo Testamento.

Quanto à data de escrita, é geralmente aceite que João tenha sido escrito entre 90 a 130 EC, uma ideia suportada por citações que foram feitas após essas datas.




Resumo do texto

Fazer um resumo de João é complicado, porque a sua narrativa não está nada estruturada, parecendo até baralhada.

Cap.
Resumo
1
Introdução, Jesus é Palavra. Testemunho de João Baptista. Jesus recruta André e Pedro, em Betânia “do outro lado do Jordão”; recruta Filipe e Natanael na Galiléia.
2
Jesus transforma água em vinho na Boda de Caná. Vai para Jerusalém, na Páscoa (1ª), e expulsa os comerciantes do templo.
3
Nicodemos, príncipe judeu, entrevista Jesus. Um discípulo de João Baptista diz ao seu mestre que viu Jesus também a baptizar.
4
Jesus em Samaria, fala com mulher junto ao poço. Samaritanos convertem-se. Regressa à Galiléia, é reconhecido pelos galileus. Jesus cura, à distância, o filho de um oficial do rei que estava à beira da morte.
5
Jesus vai para Jerusalém. Cura paralítico que nunca consegue entrar a tempo numa “piscina milagrosa”. É criticado por ter curado ao sábado.
6
Na Galiléia, próximo da Páscoa (2ª), 5000 são alimentados e querem fazer Jesus rei. Jesus anda na água. Jesus diz que é “o pão da vida” e diz aos crentes para comerem a sua carne e o seu sangue.
7
Os irmãos de Jesus não creem nele. Festa das tendas (em Setembro). Ensina no Templo. Mandato de captura, Nicodemos intervém.
8
[Jesus salva adúltera de ser apedrejada (episódio inserido)]. Longa discussão com judeus.
9
Jesus cura cego utilizando saliva.
10
Jesus diz que é “a porta e o pastor”. Festa da dedicação (Hannukah, inverno).
11
Lázaro é ressuscitado. Conspiração dos sacerdotes.
12
Seis dias antes da Páscoa (3ª), Jesus na casa de Marta e Maria. Maria põe óleo caro nos pés de Jesus. Jesus entra em Jerusalém montado num burro.
13
Última ceia, Jesus lava os pés dos discípulos. Jesus vaticina que Pedro o negará.
14-17
Longos discursos de Jesus durante a Última Ceia.
18
Jesus é detido no jardim. Pedro nega Jesus. Interrogatório de Pilatos. Barrabás solto.
19
Jesus é flagelado e escarnecido. Pilatos interroga novamente. Sentenciado e afixado na cruz, Jesus fala com a mãe. José de Arimateia pede o corpo de Jesus para ser enterrado.
20
Maria Madalena descobre o túmulo vazio e vê Jesus ressuscitado. Jesus aparece aos discípulos. Tomé desconfia. (1º fecho do livro).
21
[(Capítulo extra) Jesus aparece aos discípulos que estavam a pescar. 2º fecho do livro ]



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