sábado, 21 de janeiro de 2012

Os persas devolvem autonomia aos judeus




O poder dos babilónios não durou muito. Passados cerca de sessenta anos depois da tomada de Jerusalém pelos babilónios, a Pérsia liderada por Ciro II o Grande dominava em toda a região do médio-oriente. Uma das políticas dos persas foi a defesa da identidade cultural e alguma autonomia política dos povos conquistados, por isso promoveu o repatriamento dos judeus de volta a Jerusalém.

Rei
Datas (AEC)
Descrição
Ciro II, o Grande
559-529
Grande conquistador do império da Pérsia. Derrotou os babilónios e autorizou os judeus libertos a tornarem-se autónomos em Jerusalém.
Cambises II
529-522  
Filho de Ciro, conquistou o Egipto para o império persa.
Dario I Histaspes
522-486
Tornou-se rei em virtude da morte dos filhos de Ciro (Cambises e Smerdis). Casou com Atossa, uma filha de Ciro. Tentou conquistar a Grécia.
Xerxes I
486-465
Filho de Dario I. Continuou os ataques à Grécia (por exemplo, a famosa batalha das Termópilas), mas foi derrotado.
Artaxerxes I
465-424
Filho de Xerxes I. Artaxerxes ou o seu pai é identificado, por tradição, com o rei Assuero do livro Ester do Antigo Testamento.
Dario III
336-330
Último rei do império persa. Derrotado por Alexandre o Grande


O rei Ciro II, apesar de ser um conquistador estrangeiro, no Antigo Testamento é considerado um salvador para os judeus, sendo mesmo designado como um Messias (esta palavra hebraica significa “rei escolhido por Deus”; em Isaías 45:1, na Septuaginta, uma antiga tradução grega, foi traduzida por Christos). E algum deste estatuto estendeu-se para os sucessores de Ciro no império persa: Dario, Xerxes e Artaxerxes. Isto leva a crer que alguns dos livros do Antigo Testamento foram escritos sob forte influencia persa.

Os persas conquistaram a simpatia dos judeus exilados na Babilónia. Com a ajuda de Ciro, os judeus conseguiram um regresso a Jerusalém liderados por Zorobabel, um pretenso descendente de Josias, e construiram aquilo que viria a designar-se como Segundo Templo (o primeiro teria sido destruído por Nabucodonosor).


Livro de Ester

Ao contrário de muitos livros do Antigo Testamento, o livro de Ester é puramente sobre nacionalidade e não sobre religião, pois Deus não é referido uma única vez.
Toda a história ocorre em Susa, uma das capitais do Império Persa.
O Império Persa e os reis persas, neste caso, Xerxes (aparentemente, pois aparece com o nome Assuero), são retratados sob uma luz muito favorável.

Não se percebe a razão do livro de Ester fazer parte do Antigo Testamento, porque:
-          no texto não encontramos uma única referência a Deus, por isso não deveria ser considerado como texto sagrado;
-          os protagonistas são Ester e o seu primo Mordecai, claramente os nomes das divindades persas Ishtar e Marduk que, na mitologia persa, também são primos;

O livro parece apenas um belo conto persa adaptado aos judeus. Neste conto, uma judia chamada Ester chega até ao trono persa, casando-se com o rei Assuero (desconhecido fora da Bíblia, mas a tradição identifica-o com Xerxes I ou Artaxerxes I). Depois ela e o seu primo Mordecai conseguem convencer o rei a anular um decreto-lei, que tinha sido fomentado por um maldoso ministro da corte, chamado Hamã, que ordenava o genocídio dos judeus em todas as províncias do império.

Os judeus celebram a festividade de Purim ("Sortes") em memória do episódio de sobrevivência ao genocídio retratado no conto de Ester.


Livros de Esdras e Neemias

Nestes dois livros os autores falam da reconstrução de Jerusalém e do Templo, tendo ambos sido destruídos pelos babilónios. O que é interessante nestes dois livros é a cumplicidade e envolvimento que o Império Persa tem na reconstrução da nação judaica. Esdras, em especial, refere mesmo que as outras nações não receberam o mesmo nível de atenção por parte dos persas e, por isso, mostram-se ciumentas em relação aos judeus - a Persia ama os Judeus e mais ninguém

Estes dois livros mencionam, sempre de forma muito positiva, os imperadores persas, incluindo Ciro, Xerxes, Dario e Artaxerxes - os Judeus amam a Pérsia.


Livros de Crónicas

Os livros de Crónicas do Antigo Testamente, são reedições dos livros de Samuel e Reis, realizadas no período persa.
Numa das passagens de Crónicas, o autor alega que o imperador Ciro foi comissionado por Yahveh para favorecer a reconstrução da nação e templo judaicos:
2 Crônicas 36:22-23
Porém, no primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra de Yahveh, pela boca de Jeremias), despertou Yahveh o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: «Yahveh, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá; quem, dentre vós e de todo o seu povo, que suba, e Yahveh, seu Deus, seja com ele».

Este mesmo texto encontra-se também em Esdras 1:1-3. A preocupação do autor desta passagem é criar uma ligação forte entre Ciro, rei da Pérsia, e o Deus Yahveh. Assim, Yahveh já não é apenas o deus dos Judeus, mas sim o Deus dos céus, o Deus universal e único Deus.


Livro de Isaías

A bajulação dos israelitas em torno dos persas era tão grande, que o livro de Isaías, que se pretende ter sido escrito cerca de cento e cinquenta anos antes dos persas tomarem Babilónia, contém "profecias" acerca de Ciro em que o nome deste regente figura no texto (heb. Khóhresh, Isaías 44:28-45:1). O mais provável é Isaías ter sido escrito mais tarde ou terá sido modificado o seu texto de modo a conter “profecias” muito agradáveis a quem detinha o poder.
Isaías 44:28
quem diz de Ciro: É meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; dizendo também a Jerusalém: Sê edificada; e ao templo: Funda-te.

Isaías 45:1
Assim diz o Senhor (Yahveh) ao seu ungido (gr. Christos), a Ciro, a quem tomo pela sua mão direita, para abater as nações diante de sua face; eu soltarei os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão.

Na versão grega (Septuaginta) de Isaias 45:1, Ciro é referido como o Cristo de Yahveh.


Zoroastrismo - Ahura Mazda

O Zoroastrismo é uma das mais antigas religiões existentes no mundo.
Atribuído aos ensinamentos do profeta persa Zoroastro (ou Zarathustra), exalta uma divindade da sabedoria, Ahura Mazda (Sábio Senhor), como o Ser Supremo. Combina uma cosmogonia dualista (dois agentes criadores) com uma escatologia monoteísta.
As características principais do Zoroastrismo - como o messianismo, céu e inferno, e livre arbítrio - terão certamente influenciado outros sistemas religiosos, incluindo o Judaísmo, o gnosticismo, o Cristianismo e o Islamismo.
Com possíveis raízes no segundo milénio a.C., as mais antigas evidências históricas do Zoroastrismo serão do século V a.C., terá sido a religião de estado dos vários impérios persas até à chegada do Islamismo.

Para os judeus, Yahveh passou a ser identificado com as características de Ahura-Mazda a partir do período persa (o período do império Aqueménida que derrotou os babilónios).




Artigos relacionados:
 - Ciro da Pérsia - Os Direitos das Nações
 - Zoroastro - Revelação de Ahura Mazda



2 comentários:

  1. Só falta acrescentar que a simpática Ester conseguiu que o rei decretasse que afinal seriam os judeus a chacinar todos os que os queriam matar (mais de 75 000), e que ainda hoje os judeus festejam essa matança na festa de Purim.
    carlos cardoso

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  2. Está muito bem observado!
    Em Ester 9:16 fala dessa matança de 75 mil.
    A Bíblia glorifica as matanças em larga escala como o desfecho natural de conflitos. Não sei como é que algumas pessoas a apelidam de Guia Moral.

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