O poder dos babilónios não durou muito. Passados cerca de
sessenta anos depois da tomada de Jerusalém pelos babilónios, a Pérsia liderada
por Ciro II o Grande dominava em toda a região do médio-oriente. Uma das
políticas dos persas foi a defesa da identidade cultural e alguma autonomia
política dos povos conquistados, por isso promoveu o repatriamento dos judeus
de volta a Jerusalém.
Rei
|
Datas (AEC)
|
Descrição
|
Ciro II, o Grande
|
559-529
|
Grande conquistador do império da Pérsia. Derrotou os
babilónios e autorizou os judeus libertos a tornarem-se autónomos em
Jerusalém.
|
Cambises II
|
529-522
|
Filho de Ciro, conquistou o Egipto para o império
persa.
|
Dario I Histaspes
|
522-486
|
Tornou-se rei em virtude da morte dos filhos de Ciro
(Cambises e Smerdis). Casou com Atossa, uma filha de Ciro. Tentou conquistar
a Grécia.
|
Xerxes I
|
486-465
|
Filho de Dario I. Continuou os ataques à Grécia (por
exemplo, a famosa batalha das Termópilas), mas foi derrotado.
|
Artaxerxes I
|
465-424
|
Filho de Xerxes I. Artaxerxes ou o seu pai é
identificado, por tradição, com o rei Assuero do livro Ester do Antigo Testamento.
|
…
|
…
|
…
|
Dario III
|
336-330
|
Último rei do império persa. Derrotado por Alexandre o Grande
|
O rei Ciro II, apesar de ser um conquistador estrangeiro, no
Antigo Testamento é considerado um
salvador para os judeus, sendo mesmo designado como um Messias (esta palavra
hebraica significa “rei escolhido por Deus”; em Isaías 45:1, na Septuaginta, uma antiga tradução grega,
foi traduzida por Christos). E algum
deste estatuto estendeu-se para os sucessores de Ciro no império persa: Dario,
Xerxes e Artaxerxes. Isto leva a crer que alguns dos livros do Antigo Testamento foram escritos sob
forte influencia persa.
Os persas conquistaram a simpatia dos judeus exilados na Babilónia. Com a ajuda de Ciro, os judeus conseguiram um regresso a Jerusalém liderados por Zorobabel, um pretenso descendente de Josias, e construiram aquilo que viria a designar-se como Segundo Templo (o primeiro teria sido destruído por Nabucodonosor).
Livro de Ester
Ao contrário de muitos livros do Antigo Testamento, o livro de Ester é puramente sobre nacionalidade e não sobre religião, pois Deus não é referido uma única vez.
Toda a história ocorre em Susa, uma das capitais do Império Persa.
O Império Persa e os reis persas, neste caso, Xerxes (aparentemente, pois aparece com o nome Assuero), são retratados sob uma luz muito favorável.
Não se percebe a razão do livro de Ester fazer parte do Antigo Testamento, porque:
Toda a história ocorre em Susa, uma das capitais do Império Persa.
O Império Persa e os reis persas, neste caso, Xerxes (aparentemente, pois aparece com o nome Assuero), são retratados sob uma luz muito favorável.
Não se percebe a razão do livro de Ester fazer parte do Antigo Testamento, porque:
-
no
texto não encontramos uma única referência a Deus, por isso não deveria ser
considerado como texto sagrado;
-
os
protagonistas são Ester e o seu primo Mordecai, claramente os nomes das
divindades persas Ishtar e Marduk que, na mitologia persa, também são primos;
O livro parece
apenas um belo conto persa adaptado aos judeus. Neste conto, uma judia chamada
Ester chega até ao trono persa, casando-se com o rei Assuero (desconhecido fora
da Bíblia, mas a tradição identifica-o com Xerxes I ou Artaxerxes I). Depois
ela e o seu primo Mordecai conseguem convencer o rei a anular um decreto-lei, que
tinha sido fomentado por um maldoso ministro da corte, chamado Hamã, que ordenava
o genocídio dos judeus em todas as províncias do império.
Os judeus celebram a festividade de Purim ("Sortes") em memória do episódio de sobrevivência ao genocídio retratado no conto de Ester.
Estes dois livros mencionam, sempre de forma muito positiva, os imperadores persas, incluindo Ciro, Xerxes, Dario e Artaxerxes - os Judeus amam a Pérsia.
Numa das passagens de Crónicas, o autor alega que o imperador Ciro foi comissionado por Yahveh para favorecer a reconstrução da nação e templo judaicos:
Este mesmo texto encontra-se também em Esdras 1:1-3. A preocupação do autor desta passagem é criar uma ligação forte entre Ciro, rei da Pérsia, e o Deus Yahveh. Assim, Yahveh já não é apenas o deus dos Judeus, mas sim o Deus dos céus, o Deus universal e único Deus.
Livro de Isaías
Na versão grega (Septuaginta) de Isaias 45:1, Ciro é referido como o Cristo de Yahveh.
Atribuído aos ensinamentos do profeta persa Zoroastro (ou Zarathustra), exalta uma divindade da sabedoria, Ahura Mazda (Sábio Senhor), como o Ser Supremo. Combina uma cosmogonia dualista (dois agentes criadores) com uma escatologia monoteísta.
As características principais do Zoroastrismo - como o messianismo, céu e inferno, e livre arbítrio - terão certamente influenciado outros sistemas religiosos, incluindo o Judaísmo, o gnosticismo, o Cristianismo e o Islamismo.
Com possíveis raízes no segundo milénio a.C., as mais antigas evidências históricas do Zoroastrismo serão do século V a.C., terá sido a religião de estado dos vários impérios persas até à chegada do Islamismo.
Para os judeus, Yahveh passou a ser identificado com as características de Ahura-Mazda a partir do período persa (o período do império Aqueménida que derrotou os babilónios).
Artigos relacionados:
- Ciro da Pérsia - Os Direitos das Nações
- Zoroastro - Revelação de Ahura Mazda
Os judeus celebram a festividade de Purim ("Sortes") em memória do episódio de sobrevivência ao genocídio retratado no conto de Ester.
Livros de Esdras e Neemias
Nestes dois livros os autores falam da reconstrução de Jerusalém e do Templo, tendo ambos sido destruídos pelos babilónios. O que é interessante nestes dois livros é a cumplicidade e envolvimento que o Império Persa tem na reconstrução da nação judaica. Esdras, em especial, refere mesmo que as outras nações não receberam o mesmo nível de atenção por parte dos persas e, por isso, mostram-se ciumentas em relação aos judeus - a Persia ama os Judeus e mais ninguémEstes dois livros mencionam, sempre de forma muito positiva, os imperadores persas, incluindo Ciro, Xerxes, Dario e Artaxerxes - os Judeus amam a Pérsia.
Livros de Crónicas
Os livros de Crónicas do Antigo Testamente, são reedições dos livros de Samuel e Reis, realizadas no período persa.Numa das passagens de Crónicas, o autor alega que o imperador Ciro foi comissionado por Yahveh para favorecer a reconstrução da nação e templo judaicos:
2 Crônicas 36:22-23
Porém, no primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra de Yahveh, pela boca de Jeremias), despertou Yahveh o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: «Yahveh, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá; quem, dentre vós e de todo o seu povo, que suba, e Yahveh, seu Deus, seja com ele».
Este mesmo texto encontra-se também em Esdras 1:1-3. A preocupação do autor desta passagem é criar uma ligação forte entre Ciro, rei da Pérsia, e o Deus Yahveh. Assim, Yahveh já não é apenas o deus dos Judeus, mas sim o Deus dos céus, o Deus universal e único Deus.
Livro de Isaías
A bajulação dos israelitas em torno dos persas era tão grande, que o livro de Isaías, que se pretende ter sido escrito cerca de cento e cinquenta anos antes dos persas tomarem Babilónia, contém "profecias" acerca de Ciro em que o nome deste regente figura no texto (heb. Khóhresh, Isaías 44:28-45:1). O mais provável é Isaías ter sido escrito mais tarde ou terá sido modificado o seu texto de modo a conter “profecias” muito agradáveis a quem detinha o poder.
Isaías 44:28
quem diz de Ciro: É meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; dizendo também a Jerusalém: Sê edificada; e ao templo: Funda-te.
Isaías 45:1
Assim diz o Senhor (Yahveh) ao seu ungido (gr. Christos), a Ciro, a quem tomo pela sua mão direita, para abater as nações diante de sua face; eu soltarei os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão.
Na versão grega (Septuaginta) de Isaias 45:1, Ciro é referido como o Cristo de Yahveh.
Zoroastrismo - Ahura Mazda
O Zoroastrismo é uma das mais antigas religiões existentes no mundo.Atribuído aos ensinamentos do profeta persa Zoroastro (ou Zarathustra), exalta uma divindade da sabedoria, Ahura Mazda (Sábio Senhor), como o Ser Supremo. Combina uma cosmogonia dualista (dois agentes criadores) com uma escatologia monoteísta.
As características principais do Zoroastrismo - como o messianismo, céu e inferno, e livre arbítrio - terão certamente influenciado outros sistemas religiosos, incluindo o Judaísmo, o gnosticismo, o Cristianismo e o Islamismo.
Com possíveis raízes no segundo milénio a.C., as mais antigas evidências históricas do Zoroastrismo serão do século V a.C., terá sido a religião de estado dos vários impérios persas até à chegada do Islamismo.
Para os judeus, Yahveh passou a ser identificado com as características de Ahura-Mazda a partir do período persa (o período do império Aqueménida que derrotou os babilónios).
Artigos relacionados:
- Ciro da Pérsia - Os Direitos das Nações
- Zoroastro - Revelação de Ahura Mazda
Só falta acrescentar que a simpática Ester conseguiu que o rei decretasse que afinal seriam os judeus a chacinar todos os que os queriam matar (mais de 75 000), e que ainda hoje os judeus festejam essa matança na festa de Purim.
ResponderExcluircarlos cardoso
Está muito bem observado!
ResponderExcluirEm Ester 9:16 fala dessa matança de 75 mil.
A Bíblia glorifica as matanças em larga escala como o desfecho natural de conflitos. Não sei como é que algumas pessoas a apelidam de Guia Moral.