A cultura grega
Entre as "Bíblias" da cultura grega estão as obras homéricas - a "Ilíada" e a "Odisseia".
A "Ilíada" retrata a aventura de gregos, incluindo Odisseu (chamado Ulisses na versão latina), que derrotam Troia. A personagem principal é Aquiles.
A "Odisseia" é sobre o atribulado regresso de Odisseu a sua casa, em Ítaca, onde vai encontrar uma quantidade de oponentes que querem tomar a sua casa e a sua esposa - chamados de "Pretendentes".
No mundo antigo de língua grega, mesmo quem não sabia ler conhecia as lendas dos heróis de Homero. Quem aprendia a ler grego certamente que lia Homero ou, no mínimo, algumas partes dos textos.
E, no tempo dos romanos, a cultura homérica ainda dominava. De tal modo que Virgílio (Publius Vergilius Maro, 70 a 19 AEC) criou uma adaptação desta obra para o mundo romano - a Eneida. Virgílio adapta a obra de Homero à cultura e à religião romana.
Portanto, inspirar-se em Homero para retratar novas ideias e valores religiosos seria um fenómeno padrão.
Ora, o evangelho de Marcos foi escrito em grego. O seu autor era, portanto, instruído na língua e cultura grega. Assim, o autor do Evangelho de Marcos estava bem familiarizado com as obras de Homero. Por outro lado, este autor estaria também familiarizado com as escrituras judaicas - o Antigo Testamento.
Jesus
Na Odisseia existe claramente o tema do herói sofredor. Será que o autor de Marcos tentou modelar Jesus ao jeito de Odisseu?
Comparando o texto homérico com o texto de Marcos, encontramos semelhanças subtis entre Jesus e Odisseu:
- ambos são "carpinteiros" - Odisseu não é apenas um grande guerreiro ou excelente marinheiro; ele também é o melhor carpinteiro que Ítaca conheceu, digamos um homem muito hábil de mãos; Jesus é rotulado como "o carpinteiro" (gr. tekton, uma palavra que pode significar muito mais do que "carpinteiro");
- movem-se de barco - Odisseu é marinheiro e comandante no mar Mediterrânico; mas no caso de Jesus é bizarro a quantidade de vezes que se desloca de barco, uma vez que o seu palco é a Galileia, um território interior constituído por terra seca e um lago pequeno);
- enfrentam oposição sobrenatural - Odisseu enfrenta Poseidon e outros seres sobrenaturais; Jesus enfrenta Satanás e demónios;
- viajam com companheiros incapazes - os companheiros de Odisseu são quase adversários; no caso de Jesus, os apóstolos não são muito colaborativos com Jesus e são retratados como idiotas;
- voltam vivos do Hades;
- passam incógnitos por muitas situações até se revelarem - o episódio da Transfiguração de Jesus em Marcos é semelhante ao episódio em que Odisseu se revela ao seu filho
- etc;
A parábola dos Inquilinos Malévolos (Marcos 12: 1-12), e a famosa frase “porque não sabeis quando virá o senhor da casa” (Marcos 13:34-35), evocam a imagem de Odisseu regressando disfarçado de mendigo para surpreender os "Pretendentes" que tomaram posse de sua casa. Até o episódio da "Limpeza do Templo" parece estar incluída na coreografia da limpeza daqueles que "transformaram sua casa em um covil de pecado".
Os apóstolos
Os companheiros são outro elo geral com a Odisseia. Por que é que os discípulos são tão embaraçosamente estúpidos, gananciosos, covardes e traiçoeiros? Certamente porque os companheiros de Odisseu eram exatamente assim. Homero habilmente contrasta as inaptidões da tripulação com as virtudes de Odisseu, realçando sua “sabedoria, coragem e autocontrole”.
Uma dessas semelhanças é a comparação entre Pedro e Euríloco. Euríloco é o segundo no comando do navio de Odisseu durante o retorno a Ítaca após a Guerra de Troia. Ele é retratado como um indivíduo covarde, que não assume as suas responsabilidades, como Pedro ao negar conhecer Jesus.
Quanto a Judas, por que é que os sacerdotes precisam dele para identificar Jesus? Isso não faz sentido, já que, se Jesus fez uma entrada triunfal em Jerusalém e causou distúrbios no Templo, muitas pessoas deveriam conhecer o rosto dele. Já para não falar nos vários eventos perante milhares de pessoas na Galileia.
Judas parece ter um papel semelhante a Melântio, o servo que trai Odisseu e até fornece armas para os "Pretendentes" lutarem contra Odisseu - assim como Judas traz guardas armados para prender Jesus - e já que nenhum dos pretendentes conhecia Odisseu, era necessário que Melântio o identificasse.
Barrabás
Por que Pilatos concorda em libertar um prisioneiro como se isso fosse uma tradição? Não só essa prática seria prejudicial à política romana como nem sequer há qualquer evidência de tal tradição.
Ora, Barrabás significa “filho do pai” e, portanto, é um trocadilho que contrasta com o "Filho do Pai". Se entendermos Barrabás inspirado em Iro, um mendigo que disputa com Odisseu que se tinha disfarçado de mendigo, então temos a seguinte comparação:
- Odisseu parece um mendigo, mas Iro é um mendigo;
- Barrabás parece "Filho do Pai" pelo nome; mas Jesus é o verdadeiro "Filho do Pai"
Para Concluir
Uma vez que Marcos foi buscar inspiração à literatura grega e judaica, e que sobre Jesus sobra muito pouco de possível conteúdo histórico, será que o evangelho é inteiramente ficção?
Resumo da Odisseia
Canto I - V
Odisseu, rei de Ítaca, está retido na ilha de Calipso, longe de casa, muito tempo depois da guerra de Troia. Os deuses, contra a vontade de Poseidon que odeia Odisseu (porque ele cegou o ciclope Polifemo, filho de Poseidon), decidem que este deverá poder voltar à sua terra natal. Zeus pede a Atena e a Hermes que ajudem Odisseu a regressar a Ítaca.
Entretanto, em Ítaca, terra de Odisseu, todos pensam que o rei morreu e, por isso a rainha, Penélope, deverá casar. Muitos pretendentes de Penélope, esposa de Odisseu, estão em festim, instalados na casa de Odisseu, abusando da hospitalidade.
A deusa Atena visita Telémaco, filho de Odisseu, e diz-lhe que ele deve ir procurar o pai. Telémaco, perante a assembleia de Ítaca, queixa-se do comportamento dos pretendentes e pede um barco para ir em busca de seu pai.
Telémaco embarca com Atena e chega a Pilo.
Aí encontraram Nestor, que combatera com Odisseu em Troia, sentado com os filhos, enquanto outros à sua volta se ocupavam a preparar o jantar e a pôr pedaços de carne nos espetos e a cozinhar. Ao verem os estranhos, eles se aglomeraram ao redor deles, pegaram-nos pela mão e ordenaram que tomassem seus lugares. O filho de Nestor, Pisístrato, ofereceu imediatamente a mão a cada um deles e os acomodou sobre algumas peles de carneiro macias que estavam estendidas na areia .... Então ele lhes deu suas porções das carnes ... e todos tiveram um excelente jantar.
Telémaco fala com Nestor. Este diz-lhe que nada sabe sobre o paradeiro de Odisseu. Segue a cavalo com Pisístrato, filho de Nestor.
Telémaco e Pisístrato chegam a Esparta, terra de Menelau. Após narrar seu retorno de Troia diz que ouviu do Velho do Mar, Proteus, que Odisseu ainda estaria vivo numa ilha.
Entretanto, em Ítaca, os pretendentes planejam matar Telémaco durante sua volta.
Odisseu, ainda preso na ilha da ninfa Calipso, tem saudades da sua família. O deus Hermes diz a Calipso que ela deve libertar Odisseu. Odisseu, hábil carpinteiro, faz uma jangada. Antes de partir na jangada, faz amor pela última vez com Calipso.
Poseidon levanta uma tempestade para fustigar Odisseu, mas este liberta-se das suas roupas e armas e consegue chegar à praia a nado. Fica a dormir profundamente.
Canto VI - VII
Odisseu na Faécia
Odisseu está a dormir junto ao rio. Uma jovem, chamada Nausícaa, dirige-se ao rio com as suas servas para lavar a sua roupa nos lavadouros do rio. Odisseu acorda e questiona-se onde estará. Ele aproxima-se de Nausícaa, esta não foge dele, apesar de ele estar nu. Odisseu põe-se na posição do suplicante para Nausícaa. Ela acede-lhe gentilmente às súplicas. As servas de Nausícaa tratam de Odisseu, oferecem-lhe um manto e uma túnica, e óleo para ele untar o corpo depois de se banhar no rio. Depois dão-lhe comida e bebida. Nausícaa dá-lhe instruções para ele se dirigir ao palácio de seu pai, o rei Alcínoo, para se ajoelhar à sua mãe e suplicar-lhe ajuda. Se ele cair nas suas boas graças é certo que regressará a Ítaca porque os Faécios são ótimos construtores de barcos. No caminho passam por um bosque onde Odisseu dirige preces à deusa Atena.
Odisseu, a caminho da cidade dos Faécios, segue envolto numa nuvem providenciada por Atena para que os habitantes da Faécia não o vejam, porque estes são muito agressivos para com os estranhos. Odisseu fica maravilhado à porta do palácio, ele que anda há tanto tempo longe da civilização. Odisseu entra no palácio e lança-se aos pés da rainha Areta. Suplica-lhe que o ajude a voltar a Ítaca. Senta-se humildemente e aguarda. Um velho, Euqueneu, toma a palavra e intercede por Odisseu. O rei Alcínoo oferece a Odisseu o lugar de seu filho à mesa. Oferece-lhe também alojamento. Todos se vão deitar.
Alcínoo leva Odisseu até à Ágora, onde propõe que se ajude Odisseu a voltar para Ítaca. Os Faécios admiram a beleza de Odisseu. Seguem para o palácio. O bardo Demódoco é chamado e fica no meio da sala do palácio para recitar. Come-se. O bardo canta episódios da guerra de Troia. Odisseu, comovido, chora e cobre-se com um pano para não o verem. Só Alcínoo repara nisso.
Saem todos para a rua, pois vão começar os jogos. Vários atletas destacam-se. Odisseu é desafiado para participar nos jogos. Pega num disco e atira-o mais longe que algum Faécio poderia atirar. As servas lavam Odisseu e untam-no com óleo. No banquete, o bardo Demódoco canta o episódio do cavalo de Troia e Odisseu comove-se novamente. Outra vez só Alcínoo viu as lágrimas de Odisseu, e pergunta-lhe por fim: quem ele é, onde é a sua terra, e como foi parar ao país dos Faécios.
Canto IX - XII
Odisseu vira-se para o seu anfitrião, Alcínoo e diz-lhe quem é e de onde vem. Conta a sua viagem desde que partiu de Troia:
Aproximou-se dos Cícones que viviam na Trácia. Odisseu e os seus companheiros, os Aqueus, saquearam a cidade apoderando-se das mulheres e das riquezas. Os Cícones entretanto chamaram reforços e contra-atacaram, matando muitos dos Aqueus. Odisseu e os sobreviventes fugiram nas suas embarcações.
Depois de nove dias de viagem arribam à terra dos Lotófagos (os comedores de lótus). Os companheiros de Odisseu queriam ficar para comer lótus que lhes provocava o esquecimento. Odisseu teve de obrigá-los a embarcarem.
Chegam à terra dos Ciclopes, gigantes que vivem em grutas e têm um só olho. Odisseu e os seus homens entram numa gruta, instalam-se e servem-se de queijo que ali encontram em abundância. Polifemo, um Ciclope, entra na gruta e aprisiona Odisseu e os Aqueus e começa a comer alguns homens. Odisseu queixa-se que Polifemo não é um grande exemplo de hospitalidade e que esperava que este os acolhesse bem. Odisseu conversa com Polifemo, dizendo-lhe que o seu nome é "Ninguém", e oferece-lhe vinho até este adormecer. De seguida, espeta-lhe um pau no olho e, cegando-o, consegue fugir com os companheiros. Polifemo grita para que os outros Ciclopes o ouçam: "Ninguém me cegou!". Com isto, nenhum dos outros Ciclopes veio ao seu socorro. Polifemo atira pedras para o mar mas não consegue acertar no barco de Odisseu.
Quando Odisseu chega à terra de Éolo, deus do vento, este, vendo que Odisseu era um homem de caráter elevado, dá-lhe um saco que continha todos os ventos que os podiam incomodar durante a sua viagem, mas com a condição de nunca o abrir. No entanto, a curiosidade dos companheiros Aqueus foi maior e, enquanto Odisseu dormia, abriram o saco, de onde de facto saíram todos os maus ventos para a viagem, o que provocou uma violenta tempestade. Éolo arrependeu-se da ajuda que lhes tinha oferecido, uma vez que estes não a mereceram.
Voltaram ao mar e no sétimo dia chegaram a Lestrigonia (Lamos). Odisseu despachou uns companheiros para investigar quem ali morava. Eles desembarcaram e percorreram uma estrada. Encontraram diante da cidade uma moça com um cântaro. Perguntaram-lhe quem era o rei do local. Ela indicou a mansão de seu pai. Ao entrarem na mansão se depararam com uma mulher gigante que os encheu de pavor. Ela chamou da praça o marido, Antífates, que agarrou um dos camaradas e fez o jantar com ele. Os outros companheiros correram para os barcos. O rei deu o alarme na cidade e de todos os lados vinham gigantes. Estes lançaram pedras aos barcos, fazendo-os em pedaços, e apanhavam os homens como se fossem peixes para comer. Odisseu rapidamente cortou as amarras de seu barco e zarpou com poucos sobreviventes.
Chegaram a uma ilha onde vivia a deusa Circe. Desembarcaram, mas os homens não ficaram animados com a ideia de explorar a ilha, pois ainda tinham muito presente os infortúnios que passaram. Odisseu sugeriu que se dividissem em dois grupos: um seria liderado por ele e o outro por Euríloco, e tirariam a sorte para decidir qual dos dois exploraria a ilha. Os homens aceitaram e o grupo de Euríloco partiu à frente, chorando e temendo pela vida, até que chegaram à casa de Circe. Circe abriu a porta e os convidou a entrar e todos entraram, menos Euríloco que suspeitou. Serviu-lhe comidas com drogas e logo se transformaram em porcos. Euríloco correu para o barco e contou o que havia acontecido, insistindo para que fugissem, pois não poderia trazer de volta os companheiros. Odisseu disse-lhe que iria tentar resgatar os companheiros. A caminho da casa de Circe, Odisseu é abordado pelo deus Hermes que lhe dá uma erva benéfica, que serviria de proteção contra a magia de Circe. Ele vai a casa de Circe e ela dá-lhe a comida com drogas, mas ele não se transforma em porco. Odisseu convence-a a retornar os seus companheiros à forma humana. Odisseu deita-se com Circe. Circe diz que ele deverá consultar o profeta Tirésias no Hades.
Depois de um vento favorável providenciado por Circe, a nau de Odisseu chega ao país dos Cimérios. Odisseu dirige-se para a entrada do Hades para descer ao mundo dos mortos e consultar o adivinho Tirésias. Tirésias diz-lhe que Poseidon tentará tudo para que Odisseu não regresse a casa. Que quando encontrar os bois sagrados de Hélio não os deve molestar, e que se o fizer grande mal acontecerá. E que quando chegar a casa vai encontrar homens que pretendem a sua esposa e que delapidam os seus bens. Tirésias prediz ainda que Odisseu matará os pretendentes. Tirésias retira-se para os fundos do reino dos mortos. Entretanto, depois de falar com muitos outros mortos, Odisseu retira-se para a superfície e, chegando junto dos companheiros, prossegue viagem de barco.
Odisseu quer ouvir o canto imortal das sereias, que são cânticos tão divinos que um mortal enlouquece e atira-se à água. Odisseu pede aos seus companheiros que ponham todos cera nos ouvidos para não ouvirem o canto. Depois pede que o amarrem ao mastro e que por mais que ele suplique que não o desamarrem. Assim o inteligente Odisseu consegue ser o único ser humano que ouviu o canto das sereias e que ficou vivo para contar.
Assim que passaram pelas sereias, encontraram o redemoinho Caríbdis. Para o contornar, eles passaram por Cila por um monstro de seis cabeças que comeu seis dos homens de Odisseu.
Em seguida, eles chegaram à ilha de Hélio (Sol), onde os homens de Odisseu sacrificaram bois sagrados e, como castigo, o navio foi destruído, deixando Odisseu como o único sobrevivente a chegar à ilha de Calipso, na qual ficou retido muito tempo, tendo finalmente saído de jangada.
Quando Alcinoo ouve a história de Odisseu, ele lhe dá um navio e o manda de volta para Ítaca.
Canto XIII - XV
O barco que transporta Odisseu chega a Ítaca. Os Faéceos deixam-no em terra firme.
Odisseu pensa numa vingança contra os abusados pretendentes. Disfarça-se de mendigo para não ser reconhecido.
Odisseu, com a aparência de um mendigo, fala com Eumeu, fiel amigo e guardião dos seus porcos. Eumeu não o reconhece e diz acreditar que Odisseu está morto. O "mendigo" assegura-lhe que o seu amo está vivo e conta-lhe muitas das coisas que se passaram com Odisseu.
Eumeu comove-se com o relato mas diz não acreditar estar Odisseu com vida.
Entretanto Telémaco chega a Ítaca onde diz aos companheiros para seguirem no barco enquanto ele fica em terra.
Canto XVI
Telémaco dirige-se à pocilga e é muito bem recebido pelo porqueiro Eumeu.
Telémaco pergunta quem é o "mendigo" forasteiro. O porqueiro conta-lhe que é um viajante sem rumo e que seu destino é vagar pelas cidades. Telémaco pede-lhe cuide do forasteiro.
Odisseu pergunta por que Telémaco deixa que os pretendentes abusem de seus bens. Telémaco responde que nada pode fazer, pois há muitos nobres da região que desejam ocupar o lugar de seu pai .
Telémaco pede que o porqueiro avise Penélope, sua mãe, que ele chegou de Pilos e está bem.
Odisseu aparece ao filho na sua aparência real. Telémaco pensa que ele é um deus. Odisseu diz que é seu pai. Telémaco não crê, mas Odisseu explica que Atena o ajudou e como chegou até lá, trazido pelos Faéceos.
Odisseu pergunta a Telemaco quantos são os "Pretendentes" e como são para poderem articular uma vingança. Telémaco responde que eles são numerosos e que é necessário ajuda para se livrarem deles.
Odisseu planeava, no dia da vingança, que Telémaco pegasse nas armas existentes na casa e as tirasse de fora do alcance dos pretendentes. E que ninguém soubesse que Odisseu estava em casa, pois Odisseu iria pôr todos à prova. Queria saber quais realmente ainda gostavam dele e eram fiéis à sua memória. Telémaco teme que a ideia de Odisseu de testar um a um o povo de sua terra demore e que enquanto isso sua casa continue sendo alvo de desrespeito.
Enquanto isso, Penélope ficara sabendo que o filho havia retornado. Os pretendentes querem matar Telémaco, repartir seus bens e obrigar Penélope a escolher com quem casar e dar a sua casa.
Porém, Anfínomo teme matar alguém de sangue nobre, prefere consultar o oráculo e se, este consentir ai, sim, matar. A proposta agradou os pretendentes que foram até a casa de Odisseu.
Canto XVII - XXI
Eumeu leva Odisseu para mendigar na cidade. Telémaco chega a casa e é recebido com muita emoção por Euricléia, a sua ama, e Penélope, a sua mãe. Penélope pergunta-lhe pelo pai. Telémaco conta que ouviu de Menelau que Odisseu estava prisioneiro na Ilha de Calipso e não conseguia voltar a Ítaca.
Os pretendentes jogam. A noite chega, é hora do jantar, os pretendentes vão comer o banquete na mansão. O porqueiro e Odisseu apressam-se para chegar logo à cidade. Ao chegarem, viram Melântio que levava cabras para o banquete dos pretendentes. Para surpresa de Odisseu, este despreza-os e ofende, chegando a dar um pontapé em Odisseu, que nada pôde fazer. O porqueiro defende-o e diz que Odisseu deveria voltar, mas Melântio ainda diz que ficaria feliz se Telémaco também morresse. Chegaram a casa, onde o banquete era servido
Iro, um mendigo, insulta Odisseu. Os pretendentes combinam um combate entre os dois mendigos. Todos se surpreendem quando Odisseu tira a camisa e mostra um corpo bastante musculado. Odisseu aplica uns golpes, e parte o queixo a Iro.
Depois de os pretendentes terem saído, Odisseu manda que seu filho esconda as armas que houver no palácio. Penélope repreende Melântio, por haver insultado o mendigo. Penélope, não sabendo que tinha ali Odisseu, interroga o "mendigo" acerca de sua naturalidade. O "mendigo" declara ter visto Odisseu em Creta e diz que está para breve o seu regresso. Penélope ordena à velha Euricleia que lave os pés do mendigo. Euricleia reconhece Odisseu por uma ferida que ele tem na perna. Odisseu intima-lhe que guarde silêncio. Penélope conta a Odisseu um sonho que parece anunciar o regresso do esposo. Propõe-se com a aprovação do mendigo, estabelecer um concurso entre os pretendentes: casará com o vencedor.
O cabreiro Melântio quer expulsar de casa o "mendigo". Agelau exorta os pretendentes a que se mostrem calmos e aconselha Telémaco a apressar o casamento de sua mãe. Teoclímeno, hóspede da casa, levanta a voz e prediz a desgraça que impende sobre os pretendentes. Aproxima-se a hora do castigo.
Penélope propõe o desafio aos pretendentes de casar-se com aquele que conseguir armar o antigo arco de Odisseu e atirar uma flecha através de doze machados. Penélope e as mulheres retiram-se. Nenhum dos pretendentes consegue. Odisseu, ainda disfarçado de mendigo, conversa com o porqueiro e revela sua identidade. Odisseu pede o arco em posse dos pretendentes e, discretamente, manda fechar as portas. Os pretendentes riem do "mendigo" tentar a sua sorte. Odisseu arma o arco sem nenhuma dificuldade e atira certeiramente por entre os doze machados. Após isso, faz um sinal a seu filho, Telémaco, para se preparar para a chacina.
Canto XXII
Odisseu dá início ao massacre atirando uma flecha e matando um dos pretendentes. Após isso, revela sua identidade, e todos ali presentes sentem profundo terror. Os pretendentes partem para cima de Odisseu. Telémaco busca para o pai lanças, um escudo e um elmo. O cabreiro Melântio busca as mesmas armas para os pretendentes. Odisseu e seus aliados dão combate aos pretendentes. O massacre continua até os pretendentes estarem todos mortos. Odisseu manda buscar a anciã Euricleia e pergunta quais escravas foram desonrosas e quais são inocentes, esta acusa doze das escravas que foram enforcadas em seguida por Telémaco.
Canto XXIII
Euricleia acorda Penélope, dizendo que seu esposo se encontra na casa. Penélope fica furiosa por ser acordada durante o melhor dos sonos que já teve. Euricleia diz-lhe que Odisseu era o mendigo e que Telémaco já sabia, mas guardava segredo para que o pai se vingasse. Euricleia diz como Odisseu matou os pretendentes.
Penélope não acredita que é Odisseu, diz que certamente algum deus teria matado os pretendentes. Euricleia fala da cicatriz de Odisseu. Elas descem dos aposentos superiores. Penélope está confusa, não sabe em que acreditar. Penélope vai ao encontro de Odisseu. Telémaco reclama porque a mãe não acredita que Odisseu está vivo. Penélope diz que se aquele for Odisseu ela saberá. Odisseu fala para Telémaco meditar sobre os pretendentes que haviam matado (os homens de melhor linhagem de Ítaca). Disse para lavá-los, pôr túnicas e que as servas os vestissem com roupas escolhidas. Que o bardo toque a sua lira para que ninguém desconfie da matança antes deles irem para o campo. “Lá pensaremos que socorros o deus do Olimpo nos há de proporcionar” – disse Odisseu. Eles obedecem as ordens. Os que estavam fora da mansão acreditam ao ouvirem a música, que Penélope havia desposado enfim algum dos pretendentes, alguns até a julgam por não ter esperado por Odisseu!
A criada banhava e untava Odisseu com óleo. Ele parecia um Deus. Foi ao encontro de Penélope e diz-lhe que ela tem o coração mais duro de todas as mulheres e diz-lhe que se deitará sozinho. Penélope pede para que Euricleia leve a cama feita por ele para fora para ele dormir (Penélope arma essa armadilha para ver se aquele era mesmo Odisseu). Odisseu se sente ofendido com tais palavras e pergunta quem teria mudado seu leito de lugar, pois ele conta como ele mesmo o fez com muito esforço e que seria necessário um deus a mudá-la de lugar ou alguém cortar o tronco de oliveira que a sustenta. Penélope então se convence que aquele é Odisseu; pede desculpas, mas lhe explica que não queria mais se enganar. Odisseu fala sobre as futuras provações que passarão ainda, profetizadas por Tirésias (no Hades). Odisseu e Penélope deitam-se. Odisseu conta tudo o que passou enquanto esteve fora.
Canto XXIV
...
Odisseu chega à casa do pai, Laertes. Quando o avistou, com grande tristeza na alma, o divino Odisseu atribulado parou sob uma alta pereira, derramando lágrimas. Hesitou em seguida, no fundo do coração, entre ir abraçar e beijar o pai, contando-lhe detalhadamente como viera e chegara à terra pátria, ou interrogá-lo primeiro e submetê-lo a provas minuciosas. Refletindo, pareceu-lhe melhor partido experimentá-lo primeiro com desaforos. Tomada essa decisão, o divino Odisseu caminhou direto a ele. Laertes estava de cabeça curvada cavando ao redor duma árvore.
Para o testar, Odisseu vai de encontro a Laertes, pergunta quem é o seu dono, diz que parece mal cuidado por seu patrão, mas que Laertes é muito esforçado, sendo assim seu senhor injusto. Odisseu lhe canta mais uma de suas engenhosas mentiras para o pôr à prova. Disse-lhe que certa vez hospedou em sua casa um homem, forasteiro, vindo de longe, disse que era de família itacense e que seu pai era Laertes, lhe deu muitos presentes como de costume. Laertes lhe diz que ele está mesmo em Ítaca, porém os homens insolentes se apossaram dela (os pretendentes). Laertes lhe perguntou quando havia estado com seu filho mal-afortunado (que havia passado por tantas desgraças). Laertes lhe fez várias perguntas sobre a origem daquele homem. Odisseu diz que viu o filho de Laertes (ele mesmo) pela última vez há anos e que ele zarpou em paz ele esperava que trocassem presentes no futuro. Laertes entristeceu. Odisseu se comoveu e lançando-se a ele, abraçou-o e beijou-o e disse que ele era seu filho e que havia matado os pretendentes. Laertes pede uma prova: convence-o de que é seu filho pela cicatriz na perna e pela descrição do pomar de Laerte. Laertes desmaia em seus braços de tanta emoção. Laertes teme a vingança dos familiares dos pretendentes mortos. Odisseu diz-lhe para não se preocupar com aquilo agora, que pediu para Telémaco, Vaqueiro e o porcariço lhes prepararem uma refeição. A serva Sícula banhou e untou Laertes; Atena o tornou mais alto e encorpado que antes. Eles comeram. Aparece o velho Dólio e seus filhos. Sícula, a mãe deles e quem cuidava de Laertes, havia ido chamá-los. Eles reconhecem Odisseu, Dólio festeja sua volta, pergunta se Penélope já sabe.
Na cidade, um mensageiro contava sobre a chacina dos pretendentes. Uma multidão vinda de todas as partes foi para frente da casa de Odisseu. Cada qual tirava da casa os seus mortos e sepultava-os; mandavam os de outras cidades para suas casas de barco, iam se juntando na praça com luto no coração. Formou-se uma assembleia, primeiro falou Eupites, pai de Antínoo, o primeiro a ser morto, ele diz que é preciso uma vingança pelas mortes dos parentes. Nisso sai da mansão o bardo (um dos únicos que sobreviveram ao massacre no salão) e Medonte que lhes diz que foi com o consentimento dos deuses que Odisseu matou os pretendentes, que via ao lado dele um deus parecido com Mentor. A multidão se apavora, o ancião Haliterses lhes fala, disse que os pretendentes morreram devido ao desrespeito com a casa de Odisseu e que os outros não deveriam procurar vingança, pois essa seria a sua desgraça. Mas mais da metade dos que ali estavam, seguindo Eupites foram pegar suas armaduras para se vingar de Odisseu...
Referências:
- The Homeric Epics and the Gospel of Mark - Dennis R. MacDonald; Yale University, 2000
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