As últimas palavras
Em todos os evangelhos estão registadas as últimas palavras
de Jesus. Como os registos não coincidem, não se percebe quais é que foram
mesmo as últimas.
Marcos
15:33-37
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Mateus
27:46-50
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Lucas 23:44-46
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João 19:29-30
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“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Salmos
22:1, citado em aramaico)
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“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Salmos
31:5)
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“Tenho sede”, e depois “está consumado” (nada de
poesia!...)
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Como curiosidade, no filme “A Paixão de Cristo”, de Mel
Gibson, foi feita uma interpretação “interessante” desta passagem, fundindo todas
estas versões: Jesus diz sequencialmente todas estas frases. Mas são todas as
últimas palavras de um homem prestes a morrer?
Parece que o autor de Marcos
quis retratar Jesus como um Messias que morre decepcionado com Deus ao verificar
que estava a morrer preso a uma cruz e que nada de espantoso sucedia.
As frases que Jesus profere em Marcos, Mateus e Lucas são citações de poesia do Antigo Testamento. Podemos ver que, em Marcos e Mateus, Jesus recita um texto de Salmos 22:1, enquanto, em Lucas, Jesus recita o texto de Salmos
31:5.
Salmos 22:1 Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? por que estás afastado de me auxiliar, e das palavras do meu bramido?
Salmos 31:5 Nas tuas mãos entrego o meu espírito; tu me remiste, ó Senhor, Deus da verdade.
É compreensível que “Lucas” não quisesse retratar Jesus a recitar
um texto que inspirasse decepção (“abandonaste-me, porquê?...”), pois o Filho
de Deus não poderia duvidar do seu Pai, mas, ao dizer “nas tuas mãos entrego o
meu espírito” revelaria uma forte confiança como Filho. Portanto, as duas
citações têm valores opostos. No fim de contas, e considerando que Jesus nesta
altura era um homem em agonia afixado numa cruz, a última coisa que se
lembraria seria recitar poesia antiga! Daí que a frase mais realista está na
versão de João: “está consumado”!
Morte e sobrenatural
Vamos agora comparar os acontecimentos sobrenaturais que
estão relatados no momento da morte de Jesus.
Marcos 15:38
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Mateus 27:51-53
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Lucas 23:44-45
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João 19:32-34
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Trevas sobre a terra.; A cortina do santuário
rasgou-se em dois, de alto a baixo.
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Trevas sobre a terra. A cortina do santuário rasgou-se
em dois, de alto a baixo; a terra tremeu, as pedras fenderam-se, os sepulcros
abriram-se, e muitos mortos foram ressuscitados; e, sairam dos túmulos,
depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos.
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Trevas sobre a terra, pois o sol se escurecera; e rasgou-se ao meio a cortina do
santuário.
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Os soldados, foram quebrar as pernas aos crucificados; mas não
quebraram as pernas de Jesus porque viram que já estava morto; um dos
soldados furou-lhe de lado com uma lança, e saiu sangue e água.
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Definitivamente, aqui os autores deixaram a imaginação fluir,
principalmente “Mateus”, que relata acontecimentos que não poderiam passar
despercebidos a muitos milhares de habitantes de Jerusalém.
Uma coisa é “Marcos” dizer que “a cortina do santuário
rasgou-se”, pois o santuário era um local do Templo onde muito poucos podiam
entrar e, para além disso, já vimos que Marcos
poderá ter sido escrito depois de 70 EC, ou seja, após a destruição do Templo pelos
romanos. Portanto Marcos relata um
evento não só discreto como dificilmente comprovável. Completamente diferente é
“Mateus” e “Lucas” apresentarem acontecimentos manifestamente públicos: um
terramoto e o escurecimento do Sol, respectivamente (já para não falar nos zombies de Mateus):
-
“Mateus” relata um terramoto de escala
suficiente para fender pedras e abrir túmulos – o que não poderia passar nada
despercebido;
-
“Lucas” relata um escurecimento do Sol, o que tem sido interpretado como um eclipse solar; mas é
impossível haver um eclipse solar em dia de lua-cheia (o Sol não pode iluminar
a Lua e ser simultaneamente obscurecido por esta).
Por outro lado, João
conta-nos que “os judeus” pediram a Pilatos para acelerar a morte dos
condenados para poderem ir enterrá-los antes de chegar o Sábado (Sabbath). Por isso, os soldados foram
quebrar as pernas dos crucificados:
João 19:31-34 Ora, os judeus, como era a preparação, e para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, pois era grande aquele dia de sábado, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados dali. Foram então os soldados e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele fora crucificado; mas vindo a Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas; …
No seguimento da morte de Jesus, é relatado em todos os
evangelhos que José de Arimatéia foi pedir a Pilatos o corpo de Jesus para o
sepultar. O que é estranho é, em Marcos,
Pilatos mostrar-se surpreendido ao saber que Jesus já tinha morrido (podemos
imaginar Pilatos a dizer: “Era só para espancar, crucificar e partir-lhe as
pernas! Não mandei materem o homem!”...):
Marcos 15:43-44 José de Arimatéia, ilustre membro do sinédrio, que também esperava o reino de Deus, cobrando ânimo foi a Pilatos e pediu o corpo de Jesus. Admirou-se Pilatos de que já tivesse morrido; e chamando o centurião, perguntou-lhe se, de fato, havia morrido.
Então podemos formular as seguintes hipóteses:
-
“Marcos” mentiu, afirmando que Pilatos
admirou-se de saber que Jesus tinha morrido;
-
ou “João” mentiu e, portanto, Pilatos não
ordenou que se quebrassem as pernas dos condenados;
-
nenhum dos autores mentiu, pois ambos estavam a
descrever ensinamentos e não acontecimentos.
Sepultamento
Os quatro evangelhos são unânimes em relatar que quem
tratou do sepultamento de Jesus foi um homem chamado José de Arimateia. Mas
quem era este José de Arimateia?
Marcos 15:43
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Mateus 27:57
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Lucas 23:50-51
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João 19:38
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Membro ilustre do Sinédrio, que também aguardava o
“reino de Deus”
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Um homem rico, que era discípulo de Jesus
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Membro do Sinédrio, justo e bom, que não votou contra
Jesus
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Discípulo secreto de Jesus.
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E José de Arimatéia foi sozinho sepultar Jesus? Quem
sepultou Jesus?
Marcos
15:43-46
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Mateus 27:57-60
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Lucas 23:50-53
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João 19:38-40
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José de Arimatéia
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José de Arimatéia e Nicodemos
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Em Marcos e Mateus está registado que José de
Arimateia, antes de se ir embora, rolou uma pedra para tapar a entrada do
túmulo. Então essa pedra não seria assim tão pesada, a não ser que José de
Arimateia fosse um campeão de levantamento de pesos. Mateus acrescenta que os sacerdotes e fariseus sugeriram colocar
uma guarda a vigiar o túmulo não fossem os discípulos roubar o corpo de Jesus.
O Evangelho de João
acrescenta que Nicodemos, descrito como um príncipe (gr. archon; governante) judeu, também participou no sepultamento de
Jesus (será que José de Arimateia fechou o túmulo ainda com Nicodemos lá
dentro?...).
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