sábado, 19 de fevereiro de 2022

Século II - Suetónio

 



Suetónio

Sobre Crestus e a expulsão de judeus de Roma

O historiador Gaius Suetonius Tranquillus (c. 69 a 140 EC) escreveu, por volta 121 EC, sobre o imperador Cláudio:
Suetónio, Vidas dos Doze Césares, Livro V, Vida de Cláudio, 25, 4
... Porque os judeus faziam constantes distúrbios por instigação de Crestus, ele [Cláudio] expulsou-os de Roma.

Esta passagem é habitualmente usada, por apologistas cristãos, como tentativa de prova de existência de Jesus da Nazaré. Para além disto parece também confirmar um texto de Atos:
Atos 18:1-2 Depois disto Paulo partiu para Atenas e chegou a Corinto. E encontrando um judeu por nome Áqüila, natural do Ponto, que pouco antes viera da Itália, e Priscila, sua mulher (porque Cláudio tinha decretado que todos os judeus saíssem de Roma), foi ter com eles,...

Em relação a confirmar a passagem de Atos 18:1-2, não parece haver grande obstáculo em aceitar que uma expulsão de judeus por parte de Cláudio é uma alegação historicamente válida. A expulsão de judeus não era novidade para Cláudio. Já Tibério tinha, em 19 EC, forçado o exílio a 4000 judeus.

Mas como prova da existência de Jesus Nazareno, nesta passagem de Suetónio os problemas são:

-          Suetónio escreveu mais de oitenta anos depois da suposta morte de Jesus Nazareno;

-          não menciona cristãos, mas judeus; mesmo que falasse de cristãos, não constituiria prova da existência do Jesus Nazareno dos evangelhos;

-          não fala de Jesus nem de Cristo mas de Crestus, um nome latino vulgar, principalmente entre escravos;

-          o texto presume que este Crestus residia em Roma, um local sobre o qual nunca é dito que Jesus tenha visitado.


O Cresto de Cícero

Cícero (Marcus Tullius Cícero, 106-43 AEC), numa sua carta refere um homem chamado Crestus. 
Cicero, Carta aos Familiares, 2.8.1 
O quê? Você acha que eu confiei isso a você, que você deveria me enviar as composições dos gladiadores, para adiar suas fianças, e a compilação de Crestus


O Cresto de César

Existe também a evidência de um indivíduo chamado Cresto que era "lictor" (guarda-costas, segurança pessoal) de César.


Referência: Livius.org 


Vemos, então, que "Crestus" não é o mesmo que "Cristo". E mesmo que fosse, por que é que "Cristo" seria necessariamente sinónimo de Jesus Nazareno? 

Portanto, Suetónio não se refere a nenhum Jesus da Nazaré na sua passagem quando relata aquele incidente em que Cláudio expulsa os judeus de Roma (entre 41 e 52 EC).

Para além de ser usada como um nome próprio, a palavra chrestus (χρηστὸς), com o sentido de "bom", "melhor", "bondoso" é usada no Novo Testamento nos seguintes versículos: Mateus 11:30; Lucas 5:39;6:35; 1 Pedro 2:3.


Sobre a punição dos cristãos por Nero

Outra passagem de Suetónio, desta vez no livro "Vida de Nero", refere cristãos torturados por Nero.
Suetónio, Vidas dos Doze Césares, Livro VI, Vida de Nero, 16, 2
Nero infligiu castigo aos cristãos, um grupo de pessoas dadas a uma superstição nova e maléfica.

O problema aqui é que no tempo de Nero (até 68 EC) os cristãos não eram conhecidos. Confundiam-se facilmente entre os judeus.

No tempo de Suetónio, sim, os cristãos já começavam a ser conhecidos. Mas Suetónio está a falar do tempo de Nero.

Aqui o problema é semelhante ao que se encontra na passagem de Tácito sobre o Incêndio de Roma de 64 EC, embora Suetónio não relacione "os castigos aos cristãos" com Nero querer apontar os cristãos como culpados do incêndio.


Referências:


Um comentário:

  1. Crestus foi um gladiador que fugindo do circo impôs uma guerra contra Roma e não foi Espartaco o grande herói da plebe e proletários e sim Crestus e foi Crestus que deu nome a seita crestã e os manuscritos dos escritores sempre falaram de crestão e foi a igreja de Constantino que razurou o nome crestão colocando o i em cima do e!

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