Em Actos dos Apóstolos
Em Actos, as referências à morte de Jesus oscilam entre as duas seguintes ideias:
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“pregado numa cruz” - gr. stauros, significa um artefacto vertical de madeira, como um simples
poste ou, então, uma cruz; ou gr. prospēxantes, pregado, afixado;
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“pendurado num madeiro” - gr. xylon, uma árvore, um tronco, ou um
pedaço de madeira não trabalhada.
Então, nos primeiros capítulos, a morte de Jesus é retratada
como tendo sido uma crucificação:
Actos 2:23 a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes, crucificando-o (gr. prospēxantes, pregar, afixar) pelas mãos de iníquos;
Actos 2:36 Saiba pois com certeza toda a casa de Israel que a esse mesmo Jesus, a quem vós crucificastes (gr. estaurōsate, crucificado, de stauros), Deus o fez Senhor e Cristo.
Actos 4:10 seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o nazareno, aquele a quem vós crucificastes (gr. estaurōsate, crucificado) e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, nesse nome está este aqui, são diante de vós.
Mais à frente, a execução de Jesus é descrita como se tivesse
sido pendurado numa árvore:
Actos 5:30 O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro (gr. kremasantes epi xylou, pendurando numa árvore);
Actos 10:39 Nós somos testemunhas de tudo quanto fez, tanto na terra dos judeus como em Jerusalém; ao qual mataram, pendurando-o num madeiro (gr. kremasantes epi xylou).
Paulo, aos Gálatas
Também Paulo, na sua Carta
aos Gálatas, descreve a morte de Cristo também como tendo sido pendurado
numa árvore, citando o Antigo Testamento,
para explicar aos seus leitores que Cristo sofreu a maldição por todos os
crentes:
Gálatas 3:13 Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro (gr. kremamenos epi xylou, pendurado numa árvore);
A citação de Paulo é justamente a lei que rege a execução onde
utiliza-se um madeiro para pendurar o supliciado (neste caso o condenado era pendurado depois de já estar morto, eventualmente por apedrejamento):
Deuteronômio 21:22-23 (LXX) Se um homem tiver cometido um pecado digno de morte, e for morto, e o tiveres pendurado num madeiro, o seu cadáver não permanecerá toda a noite no madeiro (gr. kremasete auton epi xylou, pendurado numa árvore), mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto aquele que é pendurado no madeiro (gr. kremamenos epi xylou, pendurado numa árvore) é maldito de Deus. Assim não contaminarás a tua terra, que o Senhor teu Deus te dá em herança.
Na lei judaica, um condenado pendurado num madeiro era uma
maldição, uma coisa abominável, que deveria ser enterrado no próprio dia para
não contaminar a terra.
Em Gálatas 3:13, Paulo usa a exacta expressão da versão Septuaginta de Deuteronómio 21:23.
O sentido figurativo da crucificação
Paulo nunca mostra saber da existência de um homem chamado
Jesus Nazareno, da Galiléia, carpinteiro, que foi crucificado em Jerusalém às
ordens de Poncio Pilatos.
Paulo fala de um ser mítico designado por Cristo cuja crucificação
é um fenómeno intemporal e que não pertence ao mundo físico. No que toca à
divulgação da sua mensagem, a Paulo interessa apenas divulgar o sentido
figurativo da crucificação.
O que Paulo
escreveu
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O significado
provável para Paulo
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Romanos 6:6 sabendo isto, que o nosso homem velho foi
crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não
servirmos mais ao pecado.
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Os convertidos cristãos, crucificaram a velha
personalidade. Paulo não quis dizer que os cristãos deveriam pregar-se
literalmente a uma cruz.
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1 Coríntios 1:13-17 será que Cristo está dividido? foi
Paulo crucificado por amor de vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo? ...
Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em
sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo.
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O baptismo não é nada. A crucificação de Cristo é que
importa.
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1 Coríntios 2:8 a qual nenhum dos príncipes deste
mundo compreendeu; porque se a tivessem compreendido, não teriam crucificado
o Senhor da glória.
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Todos os governantes do mundo crucificaram Cristo (não
menciona Pilatos). A crucificação de Cristo é um fenómeno intemporal e sem
localização no espaço.
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Gálatas 2:20 Já estou crucificado com Cristo; e vivo,
não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a
na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.
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Paulo queria dizer que estava literalmente preso a uma
cruz? Claro que não! Mais uma vez só lhe interessa o simbolismo.
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Gálatas 3:1 ó insensatos gálatas! quem vos fascinou a
vós, ante cujos olhos foi representado Jesus Cristo como crucificado?
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Paulo não está a insinuar que os gálatas (da Galácia, actualmente
pertencente à Turquia) presenciaram uma crucificação literal de Jesus.
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Gálatas 5:24 E os que são de Cristo Jesus crucificaram
a carne com as suas paixões e concupiscências.
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Mais uma vez, Paulo diz que os convertidos cristãos,
crucificaram a velha personalidade.
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Gálatas 6:14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não
ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado
para mim e eu para o mundo.
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O mundo foi crucificado, assim como o próprio Paulo,
mas em campos opostos.
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Romanos 8:17 e, se filhos, também herdeiros, herdeiros
de Deus e co-herdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que
também com ele sejamos glorificados.
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O Cristo é um modelo para o crente e o seu sofrimento
serviu para qualquer um se tornar filho de Deus e ser glorificado.
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Para concluir: em nenhum dos textos de Paulo sobre a crucificação de Cristo se encontram vestígios do Jesus Nazareno.
Acho que já ouvi algo a este respeito. Se não me falha a memória li algo do Bart Ehrman que falava a respeito.
ResponderExcluirViva, Alison
ResponderExcluiro Bart Ehrman tem-se destacado nos seus livros pela tentativa da reconstrução do Jesus histórico.
Eu, por outro lado, em cima de toda a informação que tenho obtido, alinho pela inexistência do Jesus histórico. Simplesmente porque é mais fácil entender o Novo Testamento presumindo que o Jesus Nazareno é uma construção em torno da personagem Cristo, filho do Deus dos Judeus.
Presumir que o Novo Testamento é uma consequência da biografia de um pregador da Galiléia não faz sentido.
Um dos autores que tenho seguido com muito interesse é o Richard Carrier.
Saudações
Carne representa a autojustificaçao.
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