domingo, 17 de março de 2013

Paulo - Sobre o Baptismo





O baptismo segundo Paulo (aos Coríntios)

Paulo refere-se à prática do baptismo com pouco entusiasmo. Parece que não estaria muito seguro se haveria de incluir este sacramento no seu sistema de práticas. Na Primeira Carta aos Coríntios, Paulo chega até a tropeçar nas palavras ao começar por dizer que não batizou ninguém, excepto dois seguidores, mas depois corrige que afinal baptizou mais pessoas (interessante a hesitação de Paulo, pois sugere que estaria a ditar a carta a um escriba e este teria registado a hesitação no texto escrito, o que revela que Paulo não fazia uma revisão final do texto escrito).
1 Coríntios 1:12-17 Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo; ou, Eu de Apolo; ou Eu sou de Cefas; ou, Eu de Cristo. será que Cristo está dividido? foi Paulo crucificado por amor de vós? ou fostes vós batizados em nome de Paulo? Dou graças a Deus que a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio; para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome. É verdade, batizei também a família de Estéfanas, além destes, não sei se batizei algum outro. Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo.

Quando Paulo desenvolve este tema, aponta um homem chamado Apolo que parece que fazia uso do ritual do baptismo:
1 Coríntios 3:4-6 Porque, dizendo um: 'Eu sou de Paulo'; e outro: 'Eu de Apolo'; não sois apenas homens? Pois, quem é Apolo, e quem é Paulo, senão ministros pelos quais crestes, e isso conforme o que o Senhor concedeu a cada um? Eu plantei; Apolo regou; mas Deus deu o crescimento.

Ao contrário dos evangelhos, onde o baptismo de Jesus é o ponto de arranque da sua vida pública, Paulo, nas suas cartas, nunca menciona nenhuma ligação de João Baptista com Cristo. No melhor cenário, podemos admitir que Paulo procurava cativar discípulos da seita de João Baptista, tentando mostrar que o baptismo de Apolo, certamente o sucessor de João Baptista, poderia ser apenas mais um passo no caminho que os fiéis poderiam percorrer.

Nos Actos dos Apóstolos, um homem chamado Apolo de Alexandria é descrito como um seguidor de João Baptista.
Actos 18:24-26 Ora, chegou a Éfeso certo judeu chamado Apolo, natural de Alexandria, homem eloquente e poderoso nas Escrituras. Era ele instruído no caminho do Senhor e, sendo fervoroso de espírito, falava e ensinava com precisão as coisas concernentes a Jesus, conhecendo entretanto somente o batismo de João. Ele começou a falar ousadamente na sinagoga: mas quando Priscila e Áquila o ouviram, levaram-no consigo e lhe expuseram com mais precisão o caminho de Deus. 
Actos 19:1-3 E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo tendo atravessado as regiões mais altas, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos, perguntou-lhes: Recebestes vós o Espírito Santo quando crestes? Responderam-lhe eles: Não, nem sequer ouvimos que haja Espírito Santo. Tornou-lhes ele: Em que fostes batizados então? E eles disseram: No batismo de João.

Curiosamente, o livro de Actos diz que Apolo ensinava com rigor sobre Jesus, mas mesmo assim foi necessário que Áquila e Priscila o instruíssem com mais rigor no caminho de Deus... 

Antes de avançarmos é necessário sublinhar que Actos dos Apóstolos não é uma narrativa histórica, mas antes uma ficção. No entanto, o texto reflecte a visão que o autor tinha sobre o cristianismo do século II. Os versículos acima citados indicam que um grande trabalho de proselitismo já tinha sido feito pelos discípulos de João Baptista, os quais tinham chegado a paragens tão distantes quanto Éfeso (actual Turquia). Ou seja, existiam no século II (tempo do autor de Actos dos Apóstolos) discípulos de João Baptista em Éfeso. Estes praticavam o sacramento do baptismo. 

Mas já anteriormente, no século I, Paulo pode ter concluido o seguinte: se incorporasse o sacramento do baptismo na sua própria pregação poderia facilmente adicionar os discípulos de João Baptista às suas próprias fileiras. No entanto, Paulo diz "Cristo não me enviou para baptizar", mostrando alguma hesitação em adoptar esta prática. No entanto, segundo Mateus, as últimas palavras de Jesus (pós ressureição) foram:
Mateus 28:18-20 E, aproximando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: ... Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;...

Claro que o Evangelho Segundo Mateus ainda não existia quando Paulo escreveu a Primeira Carta aos Coríntios... ainda faltavam uns trinta anos para ser escrito...

Não é provável ter existido um pregador chamado Jesus Nazareno que tenha sido baptizado por João Baptista. Esse episódio dos evangelhos poderá ter sido necessário para cativar os numerosos seguidores de João Baptista para o movimento que nesse tempo chamava-se "O Caminho" ou "Os Nazarenos" e que mais tarde viria a chamar-se Cristianismo.


Um comentário:

  1. A palavra traduzida como batismo na ordenança de Jesus é baptizo que alude ao ato de transformação interior do homem e não bapto que seria a imersão em água

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