Taciano/Tatiano
Taciano, o Sírio (120 a 185 EC), ou Tatiano, foi um escritor do cristianismo primitivo, um teólogo do século II. Terá passado uma boa parte da sua vida na província romana da Síria.
Taciano terá vivido também em Roma. De acordo com seu próprio relato, foi principalmente a sua aversão aos cultos pagãos que o levaram a despender seu tempo pensando nas questões religiosas. Pelo Antigo Testamento, diz ele, foi convencido da impossibilidade de resolver a questão do paganismo. Ele adoptou a religião cristã e tornou-se pupilo de Justino Mártir. Foi um período quando os filósofos cristãos competiam com os sofistas gregos e, como Justino, ele abriu uma escola em Roma. Não se sabe por quanto ele permaneceu ali sem ser perturbado.
Após a morte de Justino, em 165 EC, a vida de Taciano novamente caiu na obscuridade. Ireneu diz que após a morte de Justino, ele foi expulso da escola por causa de suas visões encratitas (ascéticas) e também o acusa de ter sido discípulo do gnóstico Valentim. Eusébio o acusou de ter fundado uma seita encratita. Parece claro que Taciano deixou Roma, talvez para morar um tempo ou na Grécia ou em Alexandria.
Discurso aos Gregos
A obra "Discurso aos Gregos" (em latim: Oratio ad Graecos), uma obra dividida em 42 capítulos, tenta provar que o paganismo não vale nada, e apregoar a razoabilidade e grande antiguidade do Cristianismo. Ela não é caracteriza por ter uma sequência lógica, mas é discursiva nas linhas gerais. Porém, já na época de Eusébio, Taciano era elogiado por suas discussões sobre a antiguidade de Moisés e da Lei judaica e foi por causa desta secção que a obra "Aos Gregos" não foi condenada de maneira geral e salvou-se de cair no esquecimento.
Para Taciano, a expressão "os gregos" significa todos os que abraçam o legado e cultura grega, incluindo os romanos.
Curiosamente, num texto tão longo, alegadamente em apologia do cristianismo, Taciano nunca se refere a Jesus. Nunca sequer usa a palavra "cristão" ou "cristãos" usando, em vez destas, a referência na primeira pessoa "eu" ou "nós". Daí que esta obra mais se assemelha com uma apologia do judaísmo do que do cristianismo.
Conteúdos
No capítulo 1, Taciano acusa os gregos de se apropriaram das culturas, ciências e tecnologias de outros povos.
Nos capítulos 2 e 3 faz um ataque à cultura intelectual dos gregos, em forma de ridicularização.
No capítulo 4, Taciano expõe o conceito do Deus cristão (na verdade, do Deus judaico). É estranho que ao referir "O imperador manda que lhe paguem tributos, e eu estou disposto a pagá-los" tenha perdido a oportunidade de citar Jesus "Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus". Por que será que Taciano evita referir Jesus nesta obra?
No capítulo 5, trata da relação de Deus com o Logos e da criação da matéria. Esta relação Deus/Logos, já tinha sido tratada por Filo de Alexandria que não era cristão.
No capítulo 6, a doutrina da ressurreição e do julgamento. Contra o platonismo, afirma que a alma não é imortal por natureza mas que é ressuscitada por Deus juntamente com o corpo.
No capítulo 7, Taciano descreve a criação dos anjos e dos homens.
No capítulo 8, a queda dos anjos e dos primeiros humanos que acarretou a introdução da idolatria e da astrologia no mundo.
Nos capítulos 9 a 16, Taciano desenvolve a demonologia e os meios que o homem possui, na Igreja, para vencer os demónios, expulsar o pecado e atingir a imortalidade.
Entre os capítulos 17 e 28, expõe contínuos ataques contra as diversas opiniões dos gregos e se prolonga acusando a origem demoníaca de sua cultura, o uso dos remédios, a medicina, os espectáculos, o comportamento imoral dos pagãos e seus regimes políticos.
Os capítulos 29 a 30 formam um intermédio autobiográfico.
Nos capítulos 31 a 35, desenvolve o argumento da superioridade moral da "filosofia cristã" contra os abusos imorais dos gregos, demonstrando o baixo nível moral de seus homens mais famosos, de suas obras de arte, dos contos místicos que ensinam a imoralidade e corrompem os jovens.
Nos capítulos 36 a 41, Taciano desenvolve o segundo argumento, considerado o argumento cronológico", provando que os bárbaros (referindo-se aos judeus) porque se radicam em Moisés, são anteriores e, portanto, mais antigos que os sábios gregos. Moisés viveu muito antes de Homero, muito antes dos legisladores gregos e, inclusive antes que os sete sábios.
O capítulo 42 é uma conclusão:
"Essas são as coisas, ó gregos, que compus para vós, eu, Taciano, que professo a filosofia bárbara, nascido em terra dos assírios, formado primeiramente na vossa cultura e depois nas doutrinas que agora anuncio como pregador. Já conhecendo quem é Deus e sua criação, apresento-me a vós disposto ao exame de meus ensinamentos, advertindo que jamais renegarei minha conduta segundo Deus".
Capítulo 1 - Os gregos alegam serem inventores das artes.Capítulo 2 - Os vícios e erros dos filósofos gregosCapítulo 3 - Ridicularização dos filósofos gregosCapítulo 4 - Contra o culto imperial e a idolatria, nós adoramos apenas DeusCapítulo 5 - A nossa doutrina quanto à criação do mundoCapítulo 6 - Crença na ressurreição e no julgamentoCapítulo 7 - Sobre a queda do HomemCapítulo 8 - Contra o destino e os deuses - os demónios pecam entre os homensCapítulo 9 - Somos superiores ao destino - sobre as superstiçõesCapítulo 10 - As metamorfoses dos deuses - zombaria das divindades falsasCapítulo 11 - O pecado não é resultado do destino mas do livre arbítrioCapítulo 12 - Duas espécies de espíritosCapítulo 13 - Por si, a alma não é imortal - teoria da imortalidade da almaCapítulo 14 - O castigo dos demónios deve ser eterno e mais pesado que o dos homensCapítulo 15 - O que é o homem propriamente - necessidade de união com o Espírito SantoCapítulo 16 - A possessão não vem das almas - exibição fútil do poder dos demóniosCapítulo 17 - As doenças vêm dos demónios - eles fazem falsas promessas de saúdeCapítulo 18 - A cura vem de Deus - eles enganam em vez de curarCapítulo 19 - Desprezo hipócrita pela morteCapítulo 20 - As asas da alma - Agradecimentos são devidos a DeusCapítulo 21 - Não é loucura afirmar a encarnaçãoCapítulo 22 - Zombaria das cerimónias gregasCapítulo 23 - A luta de gladiadoresCapítulo 24 - Sobre outras diversões públicasCapítulo 25 - Outra vez contra os filósofosCapítulo 26 - Contra os gramáticos - zombaria sobre os estudos gregosCapítulo 27 - Não se castiga a ninguém por causa do nome - somos injustamente odiadosCapítulo 28 - Contra a variedade das leis - condenação da legislação gregaCapítulo 29 - Caminho para a fé: reflexão autobiográfica - a conversão de TacianoCapítulo 30 - O tesouro escondido - como resolveu resistir ao DiaboCapítulo 31 - A prova da antiguidade - a nossa filosofia é mais antiga que a gregaCapítulo 32 - A nossa filosofia é avessa à controvérsia e serve para todosCapítulo 33 - As mulheresCapítulo 34 - A imoralidade da escultura gregaCapítulo 35 - Taciano viajante - testemunha ocularCapítulo 36 - Moisés é anterior a Homero - testemunho dos caldeusCapítulo 37 - O testemunho fenícioCapítulo 38 - O que os egípcios dizemCapítulo 39 - Os reis de ArgosCapítulo 40 - Moisés é mais antigo do que os antigos heróis pagãosCapítulo 41 - Moisés é anterior aos pré-homéricos: argumento da antiguidadeCapítulo 42 - Conclusão
Referêmcias
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