terça-feira, 23 de junho de 2015

Profetas - Parte III - Período Babilónico






Rei Josias de Judá

Josias sobe ao trono de Judá por volta de 640 a.C..

Segundo o livro de Crónicas da Bíblia, durante uns trabalhos de conservação do Templo, o sacerdote Hilquias encontrou um livro que ficou identificado como sendo da autoria de Moisés e entregou-o a Safã, o escriba. Safã foi ao rei Josias e leu-lhe o livro. Quando o rei ouviu as palavras da lei, rasgou a sua roupa, e ordenou aos escribas e sacerdotes: "Consultem Yahveh sobre este livro; pois grande é o furor de Yahveh sobre nós por não terem os nossos pais feito tudo conforme este livro." (2 Cronicas 34:14-21).

A antiga tradição atribui a Moisés, no século XIV AEC, a compilação das leis no Torah, que é o mesmo que o Pentateuco ou os primeiros cinco livros do Antigo Testamento, mas só setecentos anos mais tarde, no século VII AEC, durante o reinado de Josias, é que estas leis foram “encontradas”. Isto pode ser uma pista de que a personagem de Moisés teria sido criada por ficção para sugerir que a lei judaica e o culto monoteísta a Yahveh seriam mais antigos do que na realidade.

É, portanto, provável que a personagem Moisés tenha sido desenvolvida durante o reinado de Josias. No mínimo, foi nesta época que lhe foi atribuída a autoria das leis do judaísmo. Josias, ao tomar conhecimento do conteúdo do livro de Moisés, é retratado como ficando fortemente decepcionado com o comportamento errado de toda a nação, desde o tempo dos seus antepassados. A própria Bíblia reconhece que, até ao tempo de Josias, ninguém conhecia a lei de Moisés!!!

Josias, durante o seu reinado, aproveitou o enfraquecimento da Assíria, estendendo o seu domínio para territórios da antiga Israel. Anexou o território do Norte, pertencente à Assíria desde a queda de Samaria em 722 a.C. Deixou de pagar os impostos cobrados pelos dominadores. Ao mesmo tempo, Josias promoveu a reforma religiosa. Baseado no «Livro da Lei» (provavelmente o núcleo mais antigo do livro Deuteronómio), encontrado no Templo, tentou eliminar toda a concorrência ao culto de Yahveh.

No reencontro das duas culturas, judaica e israelita, houve a necessidade de juntar e compilar as respectivas literaturas, fomentando a fusão e o sincretismo entre os cultos dos judeus e dos israelitas, com Josias a favorecer claramente o culto de Yahveh.

Com a decadência da Assíria, as relações internacionais começam a ganhar novas feições. Outros povos, ávidos de conquista e supremacia, despontam no horizonte: citas, medos, babilónios e também os egípcios que tentam ressurgir de um período decadente. Com isso, a faixa da Palestina passa, de novo, a ser palco de disputas políticas e militares.

Os babilónios, em 612 a.C., derrotam quase por completo o império assírio - o qual resiste ainda em algumas poucas cidades (Harã e Carquemish). Começa a surgir o império neo-babilónico.

Em 609 a.C., o faraó Necau II do Egipto, receando o surgimento de um novo império poderoso na região, decide enviar o seu exército para apoiar o que restava do império assírio de modo a resistir ao crescente império caldeu/babilónico. Para ir em auxílio dos assírios, Necau necessitava atravessar Judá com o seu exército mas Josias não concordou e partiu para a guerra ao encontro do exército egípcio em Megido (2 Reis 23:29; 2 Cronicas 35:20–24). Josias morreu nessa batalha.



Seguiram-se cerca de três décadas em que Judá ficou encurralado entre o Egipto e a Babilónia - com a lealdade dos vários sucessores de Josias a oscilar entre estas duas potências - até que, por fim, Nabucodonosor decidiu destruir Jerusalém e deportar a elite judaica para Babilónia. Os judeus residiram aí durante cerca de setenta anos e aí construíram uma nova identidade.

Nos anos seguintes à morte de Josias, três dos seus filhos e um neto foram os últimos reis de Judá, começando com Jeoacaz (nascido com o nome Shallum) em 609 a.C..

Jeoacaz, apesar de não ser o mais velho dos filhos de Josias, era o que mais apoiantes tinha nas cortes judaicas e foi escolhido para suceder ao seu pai no trono de Judá, mas só reinou por alguns meses.

Entretanto os egípcios liderados por Necau II tentam, sem sucesso, auxiliar os assírios e libertar Harã dos babilónios. No retorno, derrotado pelos babilónios, o faraó Necau passa por Jerusalém, depõe Jeoacaz, substituto de Josias, e coloca no trono de Judá o despótico Jeoiaquim, o irmão mais velho. Com essa atitude, o faraó pretendia dar na região uma demonstração de força. Pode ser também que Necao confiasse mais em Jeoiaquim do que em Jeoacaz. Jeoiaquim ficou, assim, tributário do Egipto.

Os assírios ficaram, finalmente, encurralados em Carquemish e os egípcios foram, mais uma vez, em seu auxílio. Os babilónios derrotaram os egípcios e os assírios na batalha de Carquemish, em 605 a.C., abrindo caminho para Nabucodonosor II, filho de Nabopolassar, criar um império.

Em 605 a.C. Nabucodonosor cercou Jerusalém para obrigar Jeoiaquim a pagar-lhe tributo. Jeoiaquim passou de vassalo do Egipto para vassalo da Babilónia.

Nabucodonosor teve, posteriormente, grandes perdas em batalhas contra o Egipto. Em 601 a.C.. Jeoiaquim, observando o enfraquecimento da Babilónia, recusou-se a pagar o tributo, buscando apoio nos egípcios, o que resultou num cerco ainda mais violento a Jerusalém por parte de Nabucodonosor. Durante este cerco, em 598 a.C., Jeoiaquim morre e sucede-lhe o seu filho Jeconias. Entretanto, em 597 a.C., os babilónios entram em Jerusalém e deportam o rei Jeconias e parte da população (10.000 pessoas) para a Babilónia (2 Reis 24).

No trono de Judá ficaria Zedequias, filho de Josias e tio de Jeconias, da confiança de Nabucodonosor.

Por volta de 589 a.C., Zedequias alia-se aos egípcios e recusa pagar o tributo a Babilónia. Em resposta, Nabucodonosor cerca novamente Jerusalém, durante um ano e meio, e, em 587 a.C., irrompe pelas muralhas adentro, arrasa a cidade e deporta toda a população. Zedequias tentou fugir mas foi apanhado e os seus olhos foram-lhe arrancados antes de ser enviado para Babilónia como prisioneiro.

Perto do fim do século VI AEC, os persas vieram destroçar o império babilónico e conquistaram a simpatia dos judeus exilados. Os judeus conseguiram um regresso a Jerusalém liderados por Zorobabel, um pretenso descendente de Josias, e construiram aquilo que viria a designar-se como Segundo Templo.


Jeremias

Jeremias seria da tribo de Benjamim e originário de uma pequena cidade vizinha de Jerusalém. Embora de família sacerdotal, está ligado às tradições proféticas do Norte, e não às tradições do sacerdócio e da corte de Jerusalém. Pertencente ao mundo rural, mostra a visão dos camponeses sobre a situação do país.

Durante o reinado de Jeoiaquim (609-598 a.C.)

O povo detestava Jeoiaquim, e Jeremias critica violentamente esse rei (Jeremias 22:13-19). É dessa época o famoso discurso sobre o Templo (Jeremias 7:1-15; e capítulo 26), que quase custou a vida ao profeta.

A Babilónia surge como grande potência, sob o reinado de Nabucodonosor. Jeremias adverte os israelitas que os babilónios, em breve, invadirão o país. Por causa disso, ele é aprisionado como traidor. Ainda assim, Jeremias continua a denunciar as pessoas importantes que detêm o poder em Jerusalém: rei, ministros, profetas, sacerdotes. Em 598 a.C., o profeta confirma a sua visão: o exército babilónio estava às portas de Jerusalém. O rei Jeoiaquim morreu durante o cerco e foi substituido por seu filho Jeconias por muito pouco tempo: após mais três meses de cerco Jerusalém era invadida. Então Jeconias, juntamente com altos oficiais e outros importantes, foram levados para a Babilónia, em 597 a.C., numa primeira deportação. Zedequias, filho de Josias, tio de Jeconias, foi instalado por Nabucodonosor, para reinar em Jerusalém.

Durante o reinado de Zedequias (597-586 a.C.)

Zedequias submete-se aos babilónios, mas mostra-se indeciso. Após a primeira deportação, surge uma questão religiosa: Afinal, quem é o povo de Deus? Os desterrados na Babilónia, ou aqueles que ficaram em Judá? Jeremias nega-se a participar de uma visão simplista (capítulo 24) e coloca o assunto de um modo realista: Zedequias e a corte de Jerusalém são incapazes de salvar o povo do desastre, por isso os deportados ainda são os que podem trazer esperança, pois aprendem uma dura lição no cativeiro. Essa idéia leva Jeremias novamente para a prisão. Pressionado por seus oficiais, Zedequias tenta armar uma revolta contra a Babilónia. Avizinha-se o desastre previsto por Jeremias: Jerusalém é sitiada pelos babilónios, apenas dez anos após o primeiro cerco. Entretanto, Jeremias também vê nos camponeses uma luz salvadora (32:15). Em 587 a.C. dá-se a segunda deportação.

Após a queda de Jerusalém (586 a.C.)

Em 586 a.C., Nabucodonosor resolve destruir Jerusalém completamente: incendeia o Templo, o palácio, as casas e derruba as muralhas. Mas deixa que Jeremias fique no país. O profeta fica a viver com Gedalias, o novo governador da Judéia apontado pelo imperador.

Nesse mesmo ano, Gedalias é assassinado por um grupo antibabilónico, que se vê forçado a fugir para o Egito, obrigando Jeremias a ir com eles. Do Egipto, mais uma vez o profeta lança suas denúncias (Jeremias 40:7-44:30).

Podemos dizer que a missão de Jeremias fracassou em querer que seu povo retornasse à genuína aliança com Yahveh. Ele tornou-se uma espécie de «anti-Moisés», sendo levado para o Egipto e vendo seu povo perder as instituições e a própria terra.


Ezequiel

De acordo com a Bíblia, Ezequiel ("O poder de El") foi um sacerdote que profetizou por 22 anos durante o século VI a.C., através de visões que teve durante o exílio na Babilónia, tal como registrado no Livro com o seu nome. Terá exercido sua atividade entre os anos 593 a 571 a.C., tendo ido para a Babilónia na primeira deportação.

A comunidade, na qual ele vivia, acreditava que em breve tudo voltaria a ser como antes. Para os seus contemporâneos o projecto de Yahveh era um sistema que lhes dava segurança. Ezequiel, no entanto, suspeitava que o passado era irrecuperável, pois Jerusalém seria destruída, como se confirmou em 587 a.C..

Ezequiel escreve uma alegoria contra Israel, usando forte linguagem metafórica, em que Jerusalém é comparada com uma prostituta chamada Oolibá.
Ezequiel 23:19-21
Contudo, ela ia se tornando cada vez mais promíscua à medida que se recordava dos dias de sua juventude, quando era prostituta no Egito. Desejou ardentemente os seus amantes, cujos membros eram como os de jumentos e cuja ejaculação era como a de cavalos. Assim, Oolibá, ansiou pela lascívia de sua juventude, quando no Egito seus peitos eram afagados e seus seios virgens eram acariciados.

Segundo Ezequiel, a sociedade israelita sofria de uma doença crónica e incurável, pois havia abandonado o projecto de Yahveh em troca de uma vida luxuosa. Ele tem uma visão em que o próprio Yahveh deixa o Templo (Ezequiel 11:22-24) e abandona os rebeldes de Jerusalém.

Essa visão seria causa de ansiedade para Ezequiel, mas não de desânimo e desespero - ele acreditava que Yahveh abandonou Jerusalém mas acompanhou os exilados até Babilónia. Os exilados eram os escolhidos de Yahveh.

Para ele, o futuro seria de ressurgimento do povo israelita (capítulos 36 e 37). Com sua linguagem simbólica, Ezequiel indicava os passos para a construção do mundo novo:
 - admitir a responsabilidade pelo fracasso histórico de um sistema que se corrompeu completamente, provocando a ruína de toda a nação;
 - compreender que a simples reforma de um sistema corrompido não gera nenhuma sociedade nova; apenas reanima o velho sistema que, cedo ou tarde, acabará sempre nos mesmos vícios;
 - converter-se a Yahveh, assumindo o seu projecto, e, a partir daí, construir uma sociedade justa e fraterna, voltada para a liberdade e para a vida.

Com esse programa profético, Ezequiel vislumbrava um futuro novo: Yahveh voltaria para o meio de seu povo (Ezequiel 43:1-7), convertendo-o numa sociedade radicalmente nova onde todos poderiam participar igualmente dos bens e das decisões baseadas em relações sociais justas.

Contrariando a doutrina de Josias, que culpava os antepassados pela ira de Yahveh, Ezequiel ressaltava a responsabilidade pessoal de cada individuo como a causa do seu julgamento.

No seu livro, Ezequiel chama-se a ele próprio por "filho do homem". No Novo Testamento é assim que Jesus se intitula por diversas vezes.

Ezequiel dá origem à corrente apocalíptica (literatura baseada em revelações), antecipando-se ao livro de Daniel e ao livro do Apocalipse do Novo Testamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário