Rómulo ou Rómulus, segundo as lendas romanas, foi o fundador e primeiro rei de Roma. É claramente uma personagem mitológica.
A descrição da morte de Rómulus, segundo dois historiadores romanos do século I — Tito Lívio e Plutarco — pode revelar algumas pistas sobre as influências que estiveram na origem das narrativas sobre a morte, ressureição, ascensão e aparições de Jesus.
- Rómulus desaparece, deixando o trono vago
- O céu escureceu no dia em que Rómulus desapareceu
- Existem suspeitas que os poderosos de Roma mataram Rómulus por este ser incómodo
- O povo alega que Rómulus subiu ao céu e tornou-se Deus (Quirinius)
- Um homem alega ter visto Rómulus e recebido revelações dele sobre o futuro
Apesar de Rómulus ser uma personagem mítica que alegadamente teria vivido uns 700 anos antes, era assim que a sua morte era retratada no século I — o século em que começaram a ser escritos os evangelhos sobre Jesus.
Tito Lívio (59 a.C. — 17 d.C.)
Tito Lívio foi o autor da obra histórica intitulada Ab urbe condita ("Desde a fundação da cidade"), onde tenta relatar a história de Roma desde o momento tradicional da sua fundação em 753 a.C. até ao início do século I d.C., referindo desde os primeiros reis de Roma.Tito Lívio descreve a morte de Rómulus — o mítico fundador de Roma e seu primeiro rei — e a sua ascensão aos céus.
Descreve também como Rómulus foi visto por Próculus e as revelações que este obteve sobre o futuro dos romanos. Este Próculus fica a saber, com muitos séculos de antecedência, que Roma haveria de ter grandes glórias.
Tito Lívio (59 a.C. - 17 d.C.), “Ab Urbe Condita” (Desde a Fundação da Cidade ou História Primitiva de Roma), Livro 1, cap 16
Rómulus ajuntou o seu exército na Caprae Palus do Campus Martius. Uma violenta tempestade surgiu e envolveu o rei numa nuvem tão densa que ele se tornou invisível aos que estavam presentes. A partir daquela hora Rómulus deixou de ser visto na Terra.
Quando a juventude romana teve os seus temores afastados pelo retorno do brilho do sol, verificaram que o trono estava vago. Apesar de acreditarem plenamente nos senadores, que afirmaram que ele [Rómulus] havia sido arrebatado ao céu num redemoinho, ficaram mudos por algum tempo, pois viram-se repentinamente de luto.
Em seguida, algumas vozes começaram a proclamar a divindade de Rómulus; o clamor foi subindo; e, finalmente, todos o saudaram como um deus e filho de um deus, e rezaram para que ele fosse sempre gentil e protegesse os seus filhos.
No entanto, mesmo nesta grandiosa época, havia, creio eu, alguns dissidentes que mantiveram secretamente que o rei [Rómulus] tinha sido feito em pedaços pelos senadores. Esta indigna versão da sua morte foi passando, veladamente, mas não era tão importante como o temor e admiração pela grandeza de Rómulus.
Mas esta versão sobre a sua morte foi definitivamente abandonada em favor da versão da divindade de Rómulus, pela oportuna acção de um determinado homem, Julius Próculus, célebre pelos seus sábios conselhos sobre grandes questões.
A perda do rei tinha deixado as pessoas inquietas e desconfiadas dos senadores. Próculus, consciente do temperamento predominante, concebeu a idéia astuta de abordar a Assembleia.
- “Romanos! Ao amanhecer de hoje, o Pai desta Cidade desceu subitamente do céu e apareceu-me. Enquanto, emocionado de admiração, fiquei extasiado diante dele com a mais profunda reverência, rezando para que pudesse ser perdoado por contemplá-lo. «Vai», disse ele, «e diz aos romanos que, pela vontade dos céus, Roma liderará o mundo. Deixa-os aprender a serem soldados. Deixa-os saber e ensinar os seus filhos, que nenhum poder na terra poderá vencer armas romanas».”
Referência: http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.02.0026%3Abook%3D1%3Achapter%3D16
Plutarco (46 — 120 d.C.)
Plutarco (Lucius Mestrius Plutarchus, nome romano) foi um historiador, biógrafo, ensaísta e filósofo grego, que se tornou cidadão romano.
Também escreveu sobre Rómulus, mas pode ter baseado a sua versão na anterior obra de Tito Lívio.
Plutarco (cerca 46 — 120 d.C.) — “Vida de Numa Pompilius”
Foi o trigésimo sétimo ano, contado a partir da fundação de Roma, quando Rómulus, então reinante, no quinto dia do mês de Julho, festejou os Nonae Caprütīnae, oferecendo um sacrifício público no Caprae Palus, na presença do senado e do povo de Roma. De repente, o céu escureceu, uma espessa nuvem de tempestade e chuva envolveu a terra, as pessoas fugiram em aflição, e foram dispersas, e neste turbilhão Rómulus desapareceu, e o seu corpo nunca foi encontrado vivo ou morto.
A suspeita recaiu sobre os patrícios, e os boatos eram correntes entre as pessoas como se, cansados da monarquia e do comportamento arrogante de Rómulus em relação a eles, tinham intentado contra a sua vida, de modo que eles pudessem assumir o governo nas suas próprias mãos. Esta suspeita que procuravam desviar decretando honras divinas para Rómulus, como se este não estivesse morto mas sim numa condição superior. E Próculus, um homem de nota, jurou que viu Rómulus arrebatado aos céus com suas armas e paramentos, e ouviu-o clamar que eles deveriam agora chamá-lo pelo nome de Quirinus [divindade que representa o povo de Roma].
Referência: http://classics.mit.edu/Plutarch/numa_pom.html
A lenda de Romulus e Remus
Romulus e o seu irmão gémeo, Remus, eram filhos do deus Marte e da princesa Rhea Silvia. Através da linhagem materna, os gémeos eram descendentes do herói troiano Eneias e de Latinus, o fundador mítico do reino do Lácio (ou da Lázio, ou Latium).
Antes do nascimento dos gémeos, o rei Numitor, pai de Rhea, foi usurpado pelo seu irmão, Amulius. Depois de apoderar-se do trono, Amulius assassinou o filho de Numitor e condenou Rhea à virgindade perpétua, consagrando-a como Vestal. Rhea, no entanto, engravidou pelo deus Marte. Amúrio mantinha-a encarcerada e, no nascimento dos gémeos, ordenou que estes fossem afogados no rio Tiber. Em vez de cumprir as ordens do rei, seus criados deixaram os gémeos a salvo na margem do rio, no sopé da colina Palatina.
Uma loba aproximou-se dos gémeos e os levou para uma caverna, onde os amamentou e cuidou deles, até que foram encontrados pelo pastor Faustulus e sua esposa, Acca Larentia. Os irmãos cresceram entre os pastores e as pessoas da colina Palatina.
Depois de se envolverem num conflito entre os seguidores de Amúrio e os de seu avô Numitor, eles aprenderam a verdade de sua origem. Mataram Amulius e restauraram Numitor no trono.
Os gémeos concordaram em estabelecer a sua própria cidade e escolheram as colinas com vista para o Tibre, o local onde eles haviam sido abandonados em bebés. Entretanto, numa desavença, Remus foi morto por seu irmão Rómulus. Rómulus fundou Roma sem o seu irmão.
O Evangelho de Rómulo segundo Plutarco
Na verdade, Plutarco deixou-nos uma biografia completa de Rómulo. Não foi só sobre a sua ascensão ao céu.
Esta biografia de Rómulo não foi inventada por Plutarco, mas ele colocou por escrito as histórias tradicionais sobre Rómulo. Tal como já o seria para Tito Lívio, esta história seria já antiga no tempo em que Plutarco escreve (por volta de 75 EC) porque ele refere-se as umas cerimónias públicas anuais que celebravam o dia em que Rómulo ascendeu ao céu e que seriam uma tradição em Roma.
Plutarco conta que Rómulo era filho de um Deus e de uma virgem; que houve uma tentativa para o matar enquanto criança; que foi salvo e criado por uma família pobre, tornando-se um humilde pastor; depois, como homem, é amado pelo povo, aclamado como rei e morto pela elite conivente; finalmente ressuscita dos mortos, aparece a um amigo para contar as boas novas ao seu povo e sobe ao céu para governar do alto.
Sobre a aparição de Rómulo, Plutarco conta este detalhe:
Plutarco (cerca 46 — 120 d.C.) — “Rómulo”
Estando nesta desordem, um dos patrícios, dizem eles, de família nobre e de bom e aprovado caráter, amigo fiel e familiar do próprio Rómulo, vindo com ele de Alba, de nome Júlio Próculo, apresentou-se no fórum; e, fazendo um juramento sagrado, protestou diante de todos, que, enquanto estava viajando na estrada, ele vira Rómulo vindo ao seu encontro, parecendo mais alto e mais bonito do que nunca, vestido com uma armadura brilhante e flamejante; e ele, ficando apavorado com a aparição, disse: "Por que, ó rei, ou com que propósito tu nos abandonaste a rumores injustos e perversos, e a cidade inteira ao luto e tristeza sem fim?" e que ele respondeu: "Agradou aos deuses, ó Próculo, que nós, que viemos deles, permanecêssemos tanto tempo entre os homens como o fizemos; e, tendo construído uma cidade para ser a maior do mundo para o império e glória, devemos retornar novamente ao céu. Mas, adeus; e diz aos romanos, que, pelo exercício da temperança e força, eles atingirão o auge do poder humano; nós seremos para vocês o deus propício Quirino." ...
Referência: http://classics.mit.edu/Plutarch/romulus.html
Nesta versão mais detalhada, Próculo pergunta a Rómulo "Por que nos abandonaste?" ao que Rómulo responde que tinha sido um deus o tempo todo, mas tinha descido à terra com o propósito de trazer glória aos romanos, e agora tinha que retornar para sua casa no céu.
O Evangelho de Jesus segundo Marcos
É obvio que o autor do evangelho de Marcos usou as ideias que já se celebravam no culto de Rómulo para escrever sobre a morte de Jesus. Com a diferença de que o corpo de Jesus desaparece ao terceiro dia em vez de imediatamente como no caso de Rómulo. Recordemos a narrativa sobre o momento da morte de Jesus após a crucificação:
Marcos 15:33-34E houve trevas sobre toda a terra, do meio-dia às três horas da tarde. Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz: “Eloí, Eloí, lamá sabactâni?”, que significa “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?”
Este autor quis atribuir a Jesus as palavras "por que me abandonaste" mas alegando que Jesus as pronunciou em aramaico, para disfarçar a colagem ao mito de Rómulo e para usar um Salmo do Antigo Testamento para a cena da crucificação.
Conclusão
Os romanos já eram cristãos antes de Jesus. A diferença é que o Cristo deles chamava-se Rómulo e não Jesus.
Rómulo existiu? Nenhum historiador reconhece isso! Então por que Jesus existiu, se toda a narrativa sobre a sua vida é uma ficção composta de peças anteriores de literatura (Antigo Testamento e textos greco-romanos)?
O destino normal de um ser vivo é ir para junto de Hades, que vive debaixo da terra. Alguns seres notáveis, contudo, em vez de descerem sobem para junto de Zeus. Isso aconteceu, por exemplo, com Hércules. Zeus veio buscar a sua parte divina. Há uma tragédia que conta esta história - As Traquínias de Sofocles.
ResponderExcluirO mais notável desta narrativa de Tito Lívio é que Rómulus é uma personagem mitológica. Muito provavelmente Lívio sabia-o mas isso não o impediu de narrar a vida de Rómulo como se se tratasse de uma personagem histórica.
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