domingo, 19 de abril de 2020

Génesis - Capítulo 11

 



Gênesis 11

Quando Deus viu que os homens se entendiam bem uns aos outros e conseguiam enveredar por projectos ambiciosos... decidiu acabar com a harmonia e paz entre os homens.


E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala. E aconteceu que, partindo eles do Oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali. 


Todos falavam o mesmo idioma? É como os ingredientes para a paz mundial. Deus odeia isso.

Mas no capítulo anterior, aprendemos que já existiam outras línguas. O que aconteceu com todos elas? De repente, todos falam o mesmo idioma? Como?

Além disso, esta história não pertence aqui. Acabámos, no capítulo 10, de terminar uma longa e chata genealogia... e estamos prestes a entrar em outra genealogia longa e enfadonha.

Esta história não encaixa bem aqui. É como se alguém tivesse inserido este mito no meio de uma grande genealogia. A Bíblia é um livro mal escrito.


E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume, por cal. E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra. 


Chegar ao céu com uma torre? Qual seria a altura dessa torre? A sério? Onde começa o céu? Não seria mais fácil construir uma cabana no topo de uma montanha alta?

Esta história da Torre de Babel representa orgulho e arrogância humana. Por outro lado, Deus aparece como uma personagem ciumenta porque os homens estão a construir um monumento que não lhe é dedicado. Então, quem é realmente arrogante nesta história?


Então, desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam; e o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e, agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.

Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. 


Quão mesquinho Deus pode ser? Viu os humanos trabalhando juntos com sucesso e imediatamente pensou que tinha de acabar com aquilo.

Tanta coisa que Deus poderia ter feito para destruir a torre: um meteorito, um terramoto, bolas de fogo... Causar uma confusão de línguas parece desnecessariamente complicado.

E por que Deus precisa descer para ver a cidade, afinal? Ele não é omnisciente? Ou as nuvens tapam-lhe a visão?

E por que Deus diz que "desçamos"? Quem são os outros? Anjos? Outros deuses?


Assim, o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade. Por isso, se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra.


Como é que Deus os espalhou? Pegou nas pessoas e transportou-as para longe dali? Usou uma vassoura gigante?

O autor desta passagem bíblica deveria ser um habitante judeu na Babilónia do século VI a.C. ou posterior. Durante muitas décadas convergiram para essa grande cidade pessoas de muitas partes do mundo, com uma grande diversidade de linguas. Por algum motivo o autor desconheceria esse pormenor histórico e criou ou adaptou esta lenda da confusão das línguas para explicar o fenómeno. Esse mesmo autor poderia observar na Babilónia algum zigurate antigo - muito anterior à sua época - e já decadente, parecendo uma torre antiga e inacabada.


Estas são as gerações de Sem: Sem era da idade de cem anos e gerou a Arfaxade, dois anos depois do dilúvio. E viveu Sem, depois que gerou a Arfaxade, quinhentos anos; e gerou filhos e filhas.


Nesta genealogia vamos observar que as pessoas vão vivendo cada vez menos anos. Mas, apesar de, em Gênesis 6: 3, Deus prometer que iria colocar um limite de 120 anos na longevidade dos humanos, Sem viveu até aos 600 anos. Deus mentiu.


E viveu Arfaxade trinta e cinco anos e gerou a Salá. E viveu Arfaxade, depois que gerou a Salá, quatrocentos e três anos; e gerou filhos e filhas.

E viveu Salá trinta anos e gerou a Éber. E viveu Salá, depois que gerou a Éber, quatrocentos e três anos; e gerou filhos e filhas.

E viveu Éber trinta e quatro anos e gerou a Pelegue. E viveu Éber, depois que gerou a Pelegue, quatrocentos e trinta anos; e gerou filhos e filhas.

E viveu Pelegue trinta anos e gerou a Reú. E viveu Pelegue, depois que gerou a Reú, duzentos e nove anos; e gerou filhos e filhas.

E viveu Reú trinta e dois anos e gerou a Serugue. E viveu Reú, depois que gerou a Serugue, duzentos e sete anos; e gerou filhos e filhas.

E viveu Serugue trinta anos e gerou a Naor. E viveu Serugue, depois que gerou a Naor, duzentos anos; e gerou filhos e filhas.

E viveu Naor vinte e nove anos e gerou a Tera. E viveu Naor, depois que gerou a Tera, cento e dezenove anos; e gerou filhos e filhas.

E viveu Tera setenta anos e gerou a Abrão, a Naor e a Harã. 

E estas são as gerações de Tera: Tera gerou a Abrão, a Naor e a Harã; e Harã gerou a Ló. E morreu Harã, estando seu pai Tera ainda vivo, na terra do seu nascimento, em Ur dos caldeus. E tomaram Abrão e Naor mulheres para si; o nome da mulher de Abrão era Sarai, e o nome da mulher de Naor era Milca, filha de Harã, pai de Milca e pai de Iscá. E Sarai foi estéril e não tinha filhos.


Novidade! Finalmente uma mulher nesta genealogia! Sara! Não aparece mais nenhuma mulher, mas quando finalmente aparece, é só para dizer que Sara era estéril e que quase punha em perigo a continuidade desta linhagem.


E tomou Tera a Abrão, seu filho, e a Ló, filho de Harã, filho de seu filho, e a Sarai, sua nora, mulher de seu filho Abrão, e saiu com eles de Ur dos caldeus, para ir à terra de Canaã; e vieram até Harã e habitaram ali. E foram os dias de Tera duzentos e cinco anos; e morreu Tera em Harã.


Fazendo as contas, Tera, no momento em que morre, ainda tinha muitos antepassados vivos: Sem, Arpaxade, Selá e Eber. Todos estes viram seus descendentes morrerem de velhice.

Eber sobreviveu a seu bisneto... Selá sobreviveu ao seu trisneto...

Outra curiosidade é que Génesis 11 diz que Abraão veio de Ur dos Caldeus. O problema é que a cronologia bíblica tradicional coloca Abraão em cerca de 2000 a.C, uma data em que os caldeus ainda não existiam ou, pelo menos, não ocupavam a cidade de Ur.


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