quarta-feira, 20 de maio de 2015

Assírios e Babilónios (Parte 1) - Introdução



Assírios e Babilónios

Num período de cerca de três séculos, Israel (ou Efraim) e Judá estiveram rodeados por impérios aos quais tiveram de se submeter ou resistir.

O império assírio e, depois, o império babilónico foram fontes de grandes preocupações para a identidade cultural dos hebreus. Grande parte da literatura do Antigo Testamento é um reflexo das dificuldades que os hebreus enfrentaram entre a opção de resistir ou a opção de submeter-se a estes dois impérios. Muitas vezes também o Egipto - outrora uma superpotência - entra em cena, neste período, agora no papel de potência secundária, ora como aliado dos hebreus ora como inimigo.

Estes impérios, o assírio e o babilónico, são, em rigor, ressurgimentos de impérios, mais antigos, do segundo milénio AEC. Para distinguir estes ressurgimentos face aos impérios mais antigos, os historiadores referem-nos como neo-assírio e neo-babilónico, respectivamente. O império neo-babilónico é também designado por império caldeu.

Comecemos por uma lista dos homens que comandaram estes dois poderosos impérios.

Reis assírios:
Período (AEC)
Rei
Descrição
912-891
Adad-Nirari II
-
891-884
Tukulti-Ninurta II
-
884-859
Ashurnasirpal II
-
859-824
Shalmaneser III
Suserano do rei Jeú de Israel.
824-811
Shamshi-Adad V
-
811-808
Shammuramat
Rainha regente - mãe de Adad-Nirari III
808-783
Adad-Nirari III
Poderá ter sido o "salvador" referido em 2 Reis 13:5 que livrou Israel da opressão da Síria.
783-773
Shalmaneser IV
-
773-755
Ashur-Dan III
-
755-745
Ashur-Nirari V
-
745-727
Tiglath-Pileser III
Em 734 acudiu ao rei Acaz de Judá para derrotar os reis de Israel (Efraim) e da Síria (Aram). Relançou o império assírio.
727-722
Shalmaneser V
Acabou com o reino de Israel, depondo o último rei, Oséias.
722-705
Sargão II
Destruiu Samaria e deportou a sua população, repovoando com pessoas oriundas de outros locais. 
705-681
Senaqueribe
Fez um cerco a Jerusalém porque Ezequias queria a independência
681-669
Esharhadon
Conquistou o Egipto e reforçou as fronteiras assírias.
669-631
Ashurbanipal
Destruiu Tebas, devido a uma insurreição dos egípcios.
Criou a biblioteca de Nínive, a qual foi encontrada, séculos mais tarde, nos escombros da cidade.
631-627
Ashur-etil-ilani

626
Sin-shumu-lishir

626-612
Sin-shar-ishkun
Queda de Nínive pela coligação medo-babilónica.


Reis babilónios:
Período (AEC)
Rei
Descrição
626-605
Nabopolassar
Tomou o império assírio abrindo caminho para o império caldeu.
604-562
Nabucodonosor II
Destruiu Jerusalém e deportou a elite judaica para Babilónia.
562-560
Amel-Marduk

560-556
Neriglissar

556
Labashi-Marduk

556-539
Nabonido
Derrotado por Ciro II da Pérsia.


Desde o século IX AEC que os assírios dominavam todo o médio-oriente, ameaçando e extorquindo pesados tributos aos reinos da região em troca de paz. O rei que não pagasse as somas exigidas era castigado com uma campanha militar por parte dos assírios.

Em 734 AEC, uma coligação formada por Israel (Efraim) e Síria (Aram) solicitou a Judá para se juntar numa rebelião contra a Assíria. O rei Acaz de Judá recusou-se a fazer parte dessa coligação e, por isso a coligação atacou Judá. Acaz pediu auxílio a Tiglath-Pileser III da Assíria o qual respondeu com uma campanha militar para arrasar Israel e a Síria.

Assim, os assírios destroçaram Israel, deportando e escravizando populações inteiras em condições sub-humanas, de tal modo que a identidade cultural dos antigos israelitas só ficou salvaguardada pelos que conseguiram refugiar-se a sul, no reino de Judá.

O reino de Judá continuou mais cem anos sob o domínio assírio, com reis obedientes ao império, com apenas alguns episódios de resistência ou rebelião (por exemplo, a rebelião de Ezequias em 701). Mas, por volta de 630, a Assíria encontrava-se em declínio, e o rei de Judá, Josias, aproveitou esta fraqueza para estender o seu poder para os antigos territórios de Israel.

Em 612 AEC, Nabopolassar da Babilónia destrói Nínive, a capital da Assíria.
Em 609, o faraó Necau II do Egipto, receando a ameaça de um novo império inimigo, decide aliar-se ao que restava do império assírio para combater os babilónios. Para isso, Necau teve de atravessar o território de Judá e Israel, encontrando a resistência de Josias. Neste combate, Josias acabou por morrer e Judá ficou temporariamente nas mãos dos egípcios.

Seguiram-se cerca de três décadas em que Judá ficou encurralado entre o Egipto e a Babilónia, até que Nabucodonosor decidiu pôr um fim a Jerusalém e deportar a elite judaica para Babilónia. Os judeus residiram aí durante cerca de setenta anos e aí construíram uma nova identidade.

Perto do fim do século VI AEC, os persas vieram destroçar o império babilónico e conquistaram a simpatia dos judeus exilados. Os judeus conseguiram um regresso a Jerusalém liderados por Zorobabel, um pretenso descendente de Josias, e construiram aquilo que viria a designar-se como Segundo Templo.


Israel e Judá

E quem eram os reis de de Israel e de Judá que, ora se submeteram, ora resistiram aos impérios?

Reis de Israel:
Período (AEC)
Rei
Descrição
869-850
Acabe
Filho de Omri. Casou-se com Jezebel, uma princesa fenícia. Foi morto em combate. A sua filha, Atália, tornou-se rainha de Judá.
850-849
Acazias
Filho de Acabe. Morreu em consequência de uma queda.
849-842
Jeorão
Filho de Acabe, irmão de Acazias. Assassinado por Jeú
842-815
Jeú
Matou Jezebel e toda a família real. Tributário de Salmaneser III da Assíria.
815-801
Jeoacaz
Filho de Jeú.
801-786
Joás
Filho de Jeoacaz.
786-746
Jeroboão II
O reino de Israel atingiu o máximo de poder.
746-745
Zacarias
Filho de Jeroboão II. Assassinado por Salum (Chalum).
745
Salum
Foi rei apenas um mês. Assassinado por Menahém.
745-738
Menahém
Pagou um elevado tributo ao rei assírio Tiglath-Pileser III para se manter no poder.
738-737
Pecaías
Filho de Menahém. Assassinado por Peca.
737-732
Pecá
Em coligação com a Síria (Aram), invadiu Judá, mas foi derrotado por Tiglath-Pileser III. Assassinado por Oséias.
732-724
Oséias
Rei fantoche colocado pelos assírios mas deposto por Salmaneser V.


Reis de Judá:

Período (AEC)
Rei
Notas
735-715
Acaz
Aliou-se aos assírios e tornou-se rei fantoche do imperador Tiglath-Pileser III.
715-687
Ezequias
Tributário de Senaqueribe da Assíria. Rebelou-se contra a Assíria em 701.
687-642
Manassés
Reinou 55 anos. Tributário de Esharadom e de Assurbanipal da Assíria.
642-640
Amom
Assassinado por servos.
640-609
Josias
Morreu numa batalha contra o faraó Necau II do Egipto. Três dos seus filhos foram reis de Judá.
609
Jeoacaz
(Salum)
Filho de Josias. Tinha 23 anos quando se tornou rei, e governou por poucos meses.
609-598
Jeoiaquim
(Eliaquim)
Filho de Josias. Tributário do faraó Necau II, mas depois da batalha de Carquemis, os babilónios tomaram o controlo.
598-597
Jeconias
(Joaquim)
Filho de Jeoiaquim. Jerusalém capturada pelos babilónios e este rei foi deposto em 597 AEC após poucos meses de reinado.
597-587
Zedequias
(Sedecias)
Filho de Josias. O último rei de Judá, sob domínio babilónio. Deposto. Jerusalém destruída.
Período de exílio na Babilónia (587 a 539)
(539)
(Zorobabel)
Neto de Jeconias. Não foi rei. Liderou um retorno dos israelitas a Jerusalém sob o domínio dos persas.


Mapas dos impérios

E agora vamos conferir os principais acontecimentos para podermos entender e enquadrar as crises desencadeadas pelo desentendimento entre os hebreus e os impérios viizinhos:

Período
AEC
Acontecimentos
920
Formam-se os reinos de Judá e Israel a partir de um decadente reino hebreu.

842-740
Em 842, Jeú mata a família de Acabe e torna-se rei de Israel, mas é vassalo dos assírios. Durante mais de cem anos os reis israelitas submetem-se aos assírios.

734
Efraim (Israel) e Aram (Síria) coligam-se para resistir contra a Assíria. Convidam Judá a juntar-se, mas Judá recusa-se e, por isso, os dois reinos atacam Judá.
O rei Acaz de Judá pede ajuda a Tiglath-Pileser III da Assíria. Tiglath destrói grande parte de Efraim e Aram. Acaz passa a pagar tributo aos assírios.

722
Sargão II destrói Samaria (capital de Efraim). Grande parte da população de Israel é deportada. Judá continua um reino vassalo da Assíria.

702
Ezequias, filho de Acaz, quer a independência de Judá e alia-se ao Egipto para resistir.

701
Senaqueribe cerca Jerusalém. Judá volta a submeter-se à Assíria.

670
O reino de Judá mantém-se graças ao pagamento de elevados tributos à Assíria; Israel já não existe; Assíria anexa o Egipto.

687-642
Manassés, filho de Ezequias, é tributário dos assírios

638
Egipto volta a ser independente da Assíria. Josias é rei de Judá.

612
Queda de Nínive – a coligação de babilónios e medos derrota os assírios

609
Necau II do Egipto tem a intenção de defrontar os babilónios. Josias, rei de Judá, resiste à passagem do exército egípcio pelo seu território e morre em batalha.

592
Os babilónios tomam o resto do império assírio. Nabucodonosor anexa o reino de Judá. A elite de Judá é deportada para a capital do império, Babilónia.

535
Ciro II da Pérsia toma babilónia. Deixa os judeus terem autonomia mas sem um reino próprio.

490
O império persa anexa o Egipto



Num próximo artigo vamos analisar como é que cada período deu origem a um conjunto de profetas:
-          crise assíria – Amós, Oseias, Isaías, Miqueias;
-          crise babilónica – Jeremias, Habacuque, Naum;
-          exílio em Babilónia - Ezequiel;
-          retorno a Jerusalém sob os persas – Ageu, Zacarias, Joel, Malaquias;

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