domingo, 3 de fevereiro de 2019

Ahura Mazda era o Deus dos Judeus




Zoroastrismo

Muitos apologistas cristãos querem fazer parecer que o zoroastrismo foi inspirado no cristianismo ou no judaísmo e não ao contrário.

Mas o que é o Zoroastrismo? Em resumo, é a crença de que:
 - existe um Deus, Ahura-Mazda, todo-poderoso, benevolente;
 - este Deus está em guerra contra um poderoso ser maléfico (Ahriman);
 - esta guerra eventualmente terminará num Apocalipse;
 - haverá um julgamento final, os maus irão para o Inferno;
 - alguns irão para o Céu;
 - esse Deus foi revelado por um profeta chamado Zaratustra.

É parecido com o cristianismo? Sim, mas é anterior, sendo até mais antigo que o monoteísmo judaico.

O zoroastrismo é uma ramificação das religiões indo-iranianas da mesma forma que o budismo partiu do hinduísmo.

Zoroastro é a transliteração para o grego do nome persa Zaratustra, o nome do alegado profeta que revelou Ahura-Mazda aos homens. A menção mais antiga conhecida de Zoroastro nos textos gregos foi por volta de 450 AEC, é claramente anterior a Jesus.
De acordo com os gregos, o zoroastrismo era a religião oficial da dinastia aqueménida da Pérsia.
O Império Aqueménida, comumente conhecido como Império Persa, existiu por volta de 550 a 330 AEC e foi indiscutivelmente uma das civilizações mais poderosas e avançadas do planeta na época.
Grandes civilizações anteriores, como os egípcios, babilónios, assírios e outras grandes civilizações da Mesopotâmia, ficaram sob o controle da Pérsia.

As guerras greco-persas

A primeira vez que Zoroastro apareceu nos escritos gregos foi por volta de 450 AEC, quase na mesma época em que as guerras greco-persas terminaram.
Por cerca de 50 anos, os persas tentaram subjugar as cidades-estados gregas, mas com poucas vitórias. As campanhas gregas resultaram numa série de derrotas tremendas para o Império Persa.

Os gregos só tomaram conhecimento da religião dos persas em 450 AEC, mas poderíamos dizer que o zoroastrismo já deveria ter, pelo menos, algumas centenas de anos de existência quando se tornou uma religião relevante no império persa.

Língua Avéstica

A chave para determinar a idade desta religião é a linguagem dos textos poéticos zoroastrianos, conhecidos como Gâthas. Os Gâthas zoroastrianos foram escritos numa língua que provavelmente estava morta na época em que o Império Persa consolidou o poder. Foram escritos em língua avéstica, um antigo idioma iraniano oriental que pertence à família das línguas indo-iranianas.

Na verdade, a única razão pela qual conhecemos a língua avéstica é por causa dos textos zoroastrianos. Tanto quanto é conhecido os Gâthas zoroastrianos são os únicos textos escritos em língua avéstica.

Se os escritos foram ou não fisicamente criados numa data posterior é pouco relevante. Mesmo se as histórias foram transmitidas oralmente, os sacerdotes zoroastrianos já estariam a falar uma língua morta, uma linguagem que parece ser muito semelhante às línguas indo-iranianas que cessaram de existir por volta de 1000 AEC. 

Isto é igual ao caso dos sacerdotes católicos que, até há bem pouco tempo, recitavam a missa em latim, uma língua morta há muitos séculos. Isto está em conformidade com o facto de que quando o cristianismo floresceu, o latim era uma língua viva, isto é, uma língua usada por muita gente e não só pelos padres. Da mesma forma, o zoroastrismo terá florescido quando a língua avéstica era uma língua viva.

Com esta data de 1000 AEC, o zoroastrismo será contemporâneo com primeiras formas de adoração dos judeus - a devoção ao panteão cananeu combinado com o deus da guerra Jeová dos Exércitos (Yahveh Sabaoth). Ou seja, enquanto os judeus ainda eram politeístas, já haveria o monoteísmo em torno de Ahura-Mazda.


Persas no Antigo Testamento

O que é que o Antigo Testamento tem sobre os persas?
Em pelo menos quatro livros do Antigo Testamento, os reis zoroastrianos da Pérsia são instrumentos do Deus judeu Yahveh. E em pelo menos dois dos livros, os reis persas estão totalmente cientes de que são emissários do Deus judeu.

Livro de Ester

Há alguns aspectos muito interessantes no livro de Ester: 
 - ao contrário de muitos livros do Antigo Testamento, Ester é puramente sobre nacionalidade e não sobre religião;
 - toda a história acontece em Susa, uma das três capitais do Império persa;
 - Deus não é mencionado nenhuma vez no livro de Ester;
 - os judeus parecem ter uma opinião muito elevada acerca do Império persa e reis persas, neste caso, aparentemente, o rei Xerxes.

Livros de Esdras e Neemias

Nestes dois livros, os escritores falam da reconstrução de Jerusalém e seu templo que tinham sido destruídos pelos babilónios.
O que é interessante sobre estes dois livros é a aparente cumplicidade que o império persa tem na reconstrução da pátria e do templo dos judeus.

Ao mesmo tempo, particularmente em Esdras, as outras nações parecem ser deixados de fora desta reconstrução e mostram-se invejosas da atenção que os judeus parecem receber.
Estes dois livros mencionam mais imperadores persas incluindo Ciro, Xerxes, Dario e Artaxerxes e fala deles de uma forma positiva.

Esdras 1:1,2
No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra de Yahveh, pela boca de Jeremias), despertou Yahveh o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo:
Assim diz Ciro, rei da Pérsia: Yahveh Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá.

Livros de Crónicas

Claramente, os escritores judeus pensavam de modo muito positivo sobre Ciro. Afirmaram que ele não era apenas inspirado por Deus, mas que ele falou abertamente e afirmativamente sobre o Deus judeu.
2 Crônicas 36:22,23
Porém, no primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra de Yahveh pela boca de Jeremias), despertou Yahveh o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo:
Assim diz Ciro, rei da Pérsia: Yahveh Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá. Quem há entre vós, de todo o seu povo, Yahveh seu Deus seja com ele, e suba.

Livro de Isaías

Em Isaías 44:24 a 28, Deus está supostamente a falar sobre si próprio.

Isaías 44:24-28
Assim diz Yahveh, teu redentor, e que te formou desde o ventre: Eu sou Yahveh que faço tudo, que sozinho estendo os céus, e espraio a terra por mim mesmo;
Que desfaço os sinais dos inventores de mentiras, e enlouqueço os adivinhos; que faço tornar atrás os sábios, e converto em loucura o conhecimento deles;
Que confirmo a palavra do seu servo, e cumpro o conselho dos seus mensageiros; que digo a Jerusalém: Tu serás habitada, e às cidades de Judá: Sereis edificadas, e eu levantarei as suas ruínas;
Que digo à profundeza: Seca-te, e eu secarei os teus rios.
Que digo de Ciro: É meu pastor, e cumprirá tudo o que me apraz, dizendo também a Jerusalém: Tu serás edificada; e ao templo: Tu serás fundado.


E o capítulo 45 começa da seguinte forma:
Isaías 45:1
Assim diz o Yahveh ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para abater as nações diante de sua face, e descingir os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão.


Salmos

Em alguns salmos, Deus tem asas como Ahura Mazda. Também existem referências a anjos (malak), figuras também antropomórficas com asas.

Salmo 91 - Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Omnipotente descansará. Direi de Yahveh: Ele é o meu Deus, o meu refúgio, a minha fortaleza, e nele confiarei. [...] Ele te cobrirá com as suas penas, e debaixo das suas asas estarás seguro; a sua verdade é escudo e broquel. [...] Porque tu, ó Yahveh, és o meu refúgio! O Altíssimo é a tua habitação. [...] Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos. 
Salmos 103 - [...] Bendizei a Yahveh, anjos seus, magníficos em poder, que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra. 
Salmos 104 - [...] Faz dos ventos seus mensageiros (malakim, anjos), dos seus ministros, um fogo abrasador. 
Salmos 148 - [...] Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos.


Conclusão

De acordo com os textos do Antigo Testamento, Ciro parece acreditar no Deus dos judeus. Não só parece acreditar no Deus judeu como parece atribuir o seu sucesso ao Deus dos judeus. É claro que não há evidências de que qualquer imperador persa tenha acreditado em qualquer versão do Deus judeu. Pelo contrário, muitos escritos tanto gregos quanto persas apontam para a ideia de que os imperadores persas eram, de facto, zoroastrianos.

O que exactamente isso significa? Porque é que os escritores judeus parecem gostar tanto do Império Persa? Porque é que os escritores judeus parecem acreditar que eles foram favorecidos pelo império persa? Porque é que os escritores judeus parecem implicar que Ciro acreditava no seu Deus? Porque é que Ahura-Mazda e a religião zoroastriana era bem conhecida até mesmo pelos inimigos da Pérsia enquanto não há menção de um deus judeu pelos persas? Porque é que os textos judeus parecem sugerir que a religião persa do zoroastrismo é a mesma que a sua?

Parece ser bastante claro que o deus dos Judeus, Yahveh, era, por esta altura, Ahura-Mazda.



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