domingo, 15 de janeiro de 2017

Ciro da Pérsia - Os Direitos das Nações





Ciro II da Pérsia, conhecido como Ciro o Grande, foi o fundador do império Aqueménida. Sob seu governo, este império envolveu todos os anteriores estados civilizados do antigo Médio-Oriente. Seus títulos régios eram Grande Rei, Rei da Pérsia, Rei de Anshan, Rei dos Médios, Rei da Babilónia, Rei da Suméria e Acádia, e Rei dos Quatro Cantos do Mundo.

Ciro construiu o seu império conquistando primeiramente o império Médio, depois o império Lídio e o império Neo-Babilónico, entre outros territórios. Quando entrou na Babilónia, o rei Nabonido entregou-se com pouca resistência.

Ciro declarou querer respeitar os costumes e as religiões das terras que conquistou. Os seus domínios transformaram-se num modelo muito bem sucedido de administração centralizada com um governo a zelar pelos interesses dos seus súbditos.

A administração do império através de governadores (sátrapas) com um governo central foram as obras principais de Ciro. Os impérios anteriores eram apenas impérios de tributação - os imperadores actuavam como suseranos que cobravam tributo aos reis das nações conquistadas, em troca de paz ou protecção.

Cilindro de Ciro

O Cilindro de Ciro, um documento sob a forma de um cilindro de argila inscrito em acádio cuneiforme, proclama Ciro como legítimo rei da Babilónia. É uma das poucas fontes sobreviventes de informações que podem ser datadas directamente ao tempo de Ciro. Este objecto havia sido colocado nas fundações do templo de Marduk na Babilónia (Esagila) após a conquista persa em 539 a.C.. Era costume, na construção de edificações, enterrar-se objectos cerimoniais nas respectivas fundações, alguns desses objectos contendo inscrições, como amuletos de boa-sorte para o edifício. Foi descoberto em 1879 e é mantido actualmente no Museu Britânico, em Londres.

O texto do cilindro denuncia o rei babilónico deposto, Nabonido, como ímpio e retrata Ciro como escolhido pelo deus principal da Babilónia, Marduk. Descreve como Ciro melhorou a vida dos cidadãos da Babilónia, repatriou povos deslocados e restaurou templos e santuários de culto das religiões locais de cada território. Apesar de a sua devoção de origem ser o deus Ahura Mazda (Zoroastrismo), Ciro revela não querer interferir com as religiões de cada povo.

Na década de 1970, o Xá (rei) do Irão, Reza Pahlavi, adoptou o Cilindro de Ciro como um símbolo político, usando-o "como imagem central na comemoração de 2500 anos de monarquia iraniana". Identificou a famosa proclamação inscrita no Cilindro de Ciro como a mais antiga declaração conhecida de direitos humanos, e o Cilindro desde então tem sido popularizado como tal. Essa visão tem sido criticada por alguns historiadores como um mal-entendido da natureza genérica deste documento como uma declaração tradicional que os novos monarcas fazem no início de seu reinado. O cilindro, no entanto, tornou-se parte da identidade cultural do Irão.

As Nações Unidas declararam, em 1971, a relíquia como sendo uma declaração antiga dos direitos humanos. O Museu Britânico descreve o cilindro como "um instrumento de propaganda da Mesopotâmia antiga", que "reflecte uma longa tradição na Mesopotâmia, onde, já desde o terceiro milénio a.C., os reis começaram seus reinados com declarações de reformas." O cilindro enfatiza a continuidade de Ciro com os governantes babilónicos anteriores, afirmando sua virtude como um rei babilónico tradicional, enquanto denegrindo seu antecessor, Nabonido.


Isaías

Na sua famosa declaração do Cilindro, Ciro apresenta-se como o novo rei da Babilónia a mando de Marduk, o Deus da Babilónia. Também apresenta-se como rei da Pérsia com a ajuda do Deus Ahura Mazda.

Da mesma forma, Ciro deve ter-se apresentado aos judeus como novo rei dos Judeus a mando de Yahveh. Não foi encontrado nenhum documento directamente ligado a Ciro que ateste isto, mas o livro de Isaías deixa passar esta ideia:
Isaías 44:28 
[Eu sou Yahveh... o] que diz de Ciro: É meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; dizendo também a Jerusalém: Sê edificada; e ao templo: Funda-te. 
Isaías 45:1 
Assim diz Yahveh ao seu ungido (gr. Christos), a Ciro, a quem tomo pela sua mão direita, para abater as nações diante de sua face; eu soltarei os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão.

Na versão grega de Isaias 45:1, Ciro é referido como o Cristo de Yahveh.


Tradução do Cilindro de Ciro

Cilindro de Ciro
Quando ... dos quatro quadrantes […] um incompetente [Nabonido] foi instalado para exercer o poder sobre seu país ... impôs sobre eles uma contrafacção de Esagila [templo de Marduk] ele fez ... para Ur e o resto dos centros de culto, com um ritual que era impróprio para eles, uma [profana] exibição de oferendas ... sem medo que recitava diariamente. Irreverentemente, ele pôs fim às oferendas regulares e interferiu nos centros de culto; ... estabelecido nos centros sagrados. 
Por seu próprio objectivo, ele acabou com a adoração de Marduk, o rei dos deuses, e continuamente hostilizou a cidade de Marduk e impôs trabalho forçado a seus habitantes, implacavelmente, arruinando-os todos. 
Ao ouvir seus lamentos, o senhor dos deuses ficou furiosamente irado e abandonou suas fronteiras. Os deuses que viviam entre eles abandonaram as suas habitações, irados que ele [Nabonido] os trouxera para Babilónia. 
Marduk, maior entre os deuses, dirigiu-se para todas as habitações que foram abandonadas e todas as pessoas da Suméria e Acádia, que eram como cadáveres. Ele foi reconciliador e teve misericórdia deles. Examinou e verificou a totalidade das terras, todas elas. Ele procurou por toda parte e então tomou um rei justo, seu favorito, pela mão, ele chamou seu nome: Ciro, rei de Anshan. Ele pronunciou seu nome para ser rei em todo o mundo.
Ele fez a terra de Gutium e todos os Umman-manda [Medos] se curvaram em submissão aos seus pés. E ele [Ciro] guiou com justiça e rectidão todo o povo de cabeça negra, sobre quem ele [Marduk] lhe tinha dado a vitória. Marduk, o grande senhor, guardião do seu povo, olhava com alegria as suas boas obras e o seu coração justo.
Ele ordenou que fosse para a cidade de Babilónia. Ele o colocou na estrada para Babilónia e como um companheiro e um amigo, ele foi ao seu lado.
Seu vasto exército, cujo número, como a água do rio, não pode ser conhecido, marchou ao seu lado totalmente armado. 
Ele o fez entrar na sua cidade Babilónia sem luta ou batalha. Ele livrou Babilónia de dificuldades. Ele entregou Nabonido, o rei que não o venerou, nas suas mãos.
Todo o povo de Babilónia, toda a terra da Suméria e Acádia, príncipes e governadores, curvaram-se diante dele e beijaram-lhe os pés. Eles se alegraram com sua realeza e seus rostos brilhavam.
O Senhor, por cuja ajuda os mortos foram ressuscitados e que todos foram redimidos de dificuldades, cumprimentaram-no com alegria e louvaram o seu nome.
Eu sou Ciro (Kouresh), rei do mundo, grande rei, rei poderoso, rei de Babilónia, rei da Suméria e Acádia, rei dos quatro quadrantes. Sou filho de Cambises (Camboujiyah), grande rei, rei de Anshan, neto de Ciro, grande rei, rei de Anshan, descendente de Teispes (Chaish-Pesh), grande rei, rei de Anshan, de uma eterna linha real, cuja governação Bel e Nabu prezam, cuja realeza eles desejam para o deleite de seus corações.
Quando entrei pacificamente na Babilónia, estabeleci dominação no palácio real entre alegria e júbilo. Marduk o grande senhor, moveu para mim o nobre coração dos habitantes de Babilónia, enquanto eu dava atenção diária à sua adoração.
Eu não permiti que atemorizassem as pessoas da Suméria e Acádia.
Busquei o bem-estar de Babilónia e de todas as suas cidades, centros sagrados. Quanto aos cidadãos da Babilónia, sobre os quais ele [Nabonido] impôs jugo vergonhoso, eu os aliviei e levantei suas habitações da ruina. 
Marduk, o grande senhor, alegrou-se pelas minhas boas acções. Ele enviou graça sobre mim, Ciro, o rei que o adora, e sobre Cambises, meu filho, minha prole, e sobre todo o meu exército, e em paz, diante dele, nos movemos em amizade. Por sua palavra glorificada, todos os reis que se sentam em tronos em todo o mundo, desde o Mar Superior até o Mar Baixo, que vivem nos distritos distantes, os reis do Ocidente, que habitam em tendas, todos eles, trouxeram o seu pesado tributo diante de mim e, na Babilónia, eles beijaram meus pés. De Babilónia a Ashur e de Susa, Agade, Eshnunna, Zamban, Meturnu, Der, até a região do Gutium, os centros sagrados do outro lado do Tigre, cujos santuários haviam sido abandonados por muito tempo. 
Eu devolvi as imagens dos deuses, que tinham residido lá Babilónia, para seus lugares e eu os deixei habitar em moradas eternas. Reuni todos os seus habitantes e lhes devolvi as suas habitações.
Além disso, ao comando de Marduk, o grande senhor, estabeleci os deuses em suas habitações, em agradáveis moradas, os deuses da Suméria e Acádia, que Nabonido, para a ira do senhor dos deuses, tinha trazido para Babilónia.
Que todos os deuses, que eu estabeleci em seus centros sagrados, rezem diariamente a Bel e Nabu para que os meus dias sejam longos e que eles intercedam pelo meu bem-estar. Que eles digam a Marduk, meu senhor: "O rei Ciro e Cambises, seu filho, adoram-te". 
O povo de Babilónia abençoou minha realeza, e eu tornei todas as terras em moradas pacíficas [...] para a eternidade. 
Agora que eu coloquei na cabeça a coroa do reino da Pérsia, Babilónia e das nações dos quatro quadrantes, com a ajuda de (Ahura) Mazda, eu anuncio que vou respeitar as tradições, costumes e religiões das nações do meu império e nunca deixarei que nenhum de meus governadores e subordinados os inferiorize ou os insulte enquanto eu estiver vivo.  
De agora em diante, enquanto (Ahura) Mazda conceder-me o favor do reino, não vou impor a minha monarquia a nenhuma nação. Cada um é livre para aceitá-lo, e se qualquer um deles rejeitar, eu nunca resolverei com a guerra para reinar. Enquanto eu for o rei da Pérsia, Babilónia e as nações dos quatro quadrantes, nunca deixarei que ninguém oprima outros, e se isso acontecer, eu defenderei o seu direito e penalizarei o opressor. E enquanto eu for o monarca, eu nunca deixarei qualquer um tomar a possessão de propriedades móveis e terras dos outros pela força ou sem compensação. E enquanto eu for vivo, proibo o trabalho forçado não remunerado. Hoje, eu anuncio que todo mundo é livre para escolher uma religião. As pessoas são livres de viver em todas as regiões e assumir um trabalho, desde que nunca viole os direitos dos outros. Ninguém poderá ser penalizado pelas falhas de seus parentes. Eu proibo a escravidão e meus governadores e subordinados são obrigados a proibir o comércio de homens e mulheres como escravos dentro de seus próprios domínios. Tais tradições devem ser exterminadas em todo o mundo. Imploro a (Ahura) Mazda para me fazer ter sucesso no cumprimento de minhas obrigações para com as nações da Pérsia, Babilónia, e as dos quatro quadrantes.


Referências:
  - http://www.iranchamber.com/history/cyrus/cyrus_charter.php
  - http://www.farsinet.com/cyrus/
  - https://en.wikipedia.org/wiki/Cyrus_the_Great



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