quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Objectivos





Actualmente discute-se muito sobre se Jesus realmente existiu ou se foi apenas uma personagem de literatura. A principal dificuldade é que, habitualmente, estas discussões começam com uma formulação errada e, nestes casos, nunca se chega a conclusões. Por exemplo, uma discussão iniciada pela questão “Jesus existiu?” é o mesmo que se discutir sobre se “o Zé existiu?”, tendo em conta que o nome Jesus (Yeshu ou Yehoshua) era tão comum na Palestina de há dois mil anos.

Este assunto tem de ser abordado com mais objectividade como, por exemplo, na seguinte forma: “existiu um homem chamado Jesus Nazareno (Yeshu ha-Notzri) que teve uma realidade física como aquela que está descrita na Bíblia e os eventos descritos sobre ele (ou alguns destes) aconteceram de facto?”. Esta formulação encerra a obrigação, por parte de quem questiona, de saber como é que está descrita a vida de Jesus Nazareno na Bíblia.

Através da análise de vários textos, vamos tentar identificar quais os conteúdos que podem ter sido originados pelo registo biográfico acerca de um homem de carne e osso e quais os conteúdos que podem referir-se a uma personagem fictícia, alegórica ou mítica.

Iremos analisar sobretudo os evangelhos do Novo Testamento de modo a podermos obter informações sobre a eventual existência física de Jesus mas, para melhor compreensão e enquadramento, vamos também fazer uma abordagem ao Antigo Testamento e aos restantes livros do Novo Testamento.

E, já que vamos abranger a quase totalidade da Bíblia, vamos aproveitar para tentar também responder, por exemplo, às seguintes perguntas:
  • Quem escreveu a Bíblia?
  • Como é descrito Deus no Antigo Testamento?
  • As características do Deus do Antigo Testamento são iguais às do Deus do Novo Testamento?

Obviamente não vamos nem sequer tentar obter resposta para questões relacionadas com o sobrenatural porque não se enquadram na lógica ou na razão, pertencendo apenas ao domínio da crença e da fé. Por isso, questões como as seguintes estão fora do nosso alcance:
  • Deus existe?
  • Deus tem um filho que é o Cristo?
  • Algum homem curou doentes e ressuscitou os mortos?
  • Algum homem caminhou sobre água?

O que podemos fazer neste domínio é apenas a análise crítica e comparativa dos textos que descrevem estes fenómenos sobrenaturais. Entretanto existem questões mais interessantes a que poderemos tentar obter resposta, como as seguintes:
  • Existiu algum culto religioso em torno de um ser celestial designado por Cristo, cujos crentes desconheciam completamente Jesus Nazareno (quer pessoalmente quer de relato oral ou escrito)?
  • O cristianismo nasceu sem Jesus Nazareno?

Vamos tentar limitar a nossa fonte aos conteúdos da Bíblia, embora possamos ocasionalmente recorrer a conhecimentos da história secular.


2 comentários:

  1. Caro Paulo,
    Para uma abordagem histórica não podes ficar pelos evangelhos. Tens de usar também as cartas de S.Paulo pois algumas delas são anteriores aos evangelhos e constituem uma fonte de informação histórica independente dos evangelhos. Tens de recorrer também aos documentos históricos da época, quer romanos, quer judaicos.

    Nos evangelhos tens de olhar para o que se sabe actualmente sobre a génese dos mesmos, nomeadamente sobre as várias influências cruzadas de uns para os outros. E há que ter em conta que o evangelho de João é bastante diferente dos outros 3. Portanto, não sendo o Novo Testamento um conjunto de livros históricos mas sim de fé, não deixam de ter relevância como documentos históricos e consegues ver que há alguma corroboração independente entre eles.

    Para uma análise realista do que te propões fazer é necessário também um conhecimento profundo da cultura judaica e semita da altura e também é útil ver a documentação histórica sobre outros personagens que se auto-intitularam como libertadores de Israel, ver qual foi o seu destino e se deixaram seguidores.

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  2. Achei muito bom. Gostei muito feste conteudo...parabéns!

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