Apocalipse
O último livro da Bíblia é o chamado Apocalipse de João, também designado de Revelação (gr. Apokalypsis). Por causa do conteúdo
deste livro, hoje utiliza-se a palavra “apocalipse” para designar uma
destruição relativa a “últimos dias” mas o significado original da palavra é
simplesmente “visão” ou “revelação”. A palavra mais adequada para os assuntos
relativos a “últimos dias” é escatologia (gr. eskatos, final).
O autor
O autor identifica-se pelo nome de João e propõe-se a
descrever a revelação que lhe foi transmitida por Jesus enquanto se encontrava
na ilha de Patmos.
Parece que a tradição da Igreja tomou uma direcção de modo a
minimizar o número total de autores do Novo
Testamento. Esta considera os seguintes nomes de personagens e autores como
pertencendo todos ao mesmo homem:
João, filho de Zebedeu
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Personagem dos
evangelhos, apóstolo de Jesus
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Evangelista anónimo
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Autor do chamado Evangelho Segundo João
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O idoso
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Autor das cartas
“joaninas”
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João de Patmos
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Autor de Apocalipse
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Todos estes são identificados com o primeiro desta lista:
João, filho de Zebedeu, irmão de Tiago, apóstolo de Jesus.
A audiência
O livro apresenta-se primeiro, nos capítulos 1 a 3, como uma
carta destinada a sete congregações de sete cidades da Ásia Menor: Éfeso, Esmirna, Pérgamo,
Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Todas estas localidades situam-se no
território da actual Turquia. Nestes primeiros capítulos aparecem algumas mensagens
particulares: por exemplo, aos de Éfeso e Pérgamo, o autor envia recomendações desfavoráveis
aos “da seita de Nicolau” (quem seria este Nicolau?).
Entretanto o conteúdo evolui como um tratado teológico sobre
as visões apocalípticas do Antigo
Testamento.
O conteúdo
O conteúdo é altamente simbólico, em que grande parte dos
significados perderam-se no tempo. No entanto, o conteúdo de Apocalipse tem alimentado a cultura
apocalíptica (ou escatológica) dos últimos séculos, como por exemplo os
seguintes temas populares:
Tema
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Texto
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Os 4 cavaleiros
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Revelação 6:1-8
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O número da “besta” (tradicionalmente, o Diabo) é 666
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Revelação 13:18
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Armagedon (heb. Har
Meghid·dóhn, Monte do Megido)
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Revelação 16:14-16
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Os Cavaleiros do Apocalipse
O alucinado autor vê desfilar à sua frente cavalos montados por figuras com papéis bem definidos (Revelação 6:1-8):- um cavalo branco, montado por alguém com arco e coroa que saiu vitorioso;
- um cavalo vermelho (cor de fogo), montado por alguém com uma espada com a missão de tirar a paz da terra e causar mortandade;
- um cavalo preto, montado por alguém com uma balança em sua mão para, na escassez, racionar o trigo, a cevada, o azeite e o vinho;
- um cavalo amarelo (descorado), montado por alguém chamado Morte, seguido pelo Hades como o poder de matar um quarto da terra, com guerra, fome, peste e feras.
O número da Besta
O autor de Apocalipse refere o número 666 como mais uma mensagem codificada (Revelação 13:18).A explicação mais conhecida é que este número corresponde a "Nero" numa interpretação pela gematria judaica. Nero era o imperador quando começou a Guerra entre judeus e romanos (66 a 72 EC). Esta Guerra foi, de longe, a experiência mais traumática para os judeus desde sempre até ao século I.
O problema é que Nero morreu em 68 EC e no tempo em que Apocalipse de João (por volta de 98 EC) foi escrito já não representaria nenhuma ameaça aos judeus.
A Batalha do Armagedom
O autor refere uma batalha que iria ocorrer num local chamado Armagedom (Revelação 16:14-16).A palavra "Armagedom" significa na linguagem coloquial dos dias de hoje uma destruição ou aniquilação total e final.
Ora, Armagedom significa literalmente Monte do Megido. Este local era conhecido na antiguidade por ser propício a confrontos militares, porque quem dominasse aquele ponto ganharia uma posição favorável para defender uma vasta área.
No Antigo Testamento existem referências a algumas batalhas que ocorreram no Monte Megido (Juízes 5; 1ºSamuel 31; 2ªCrónicas 12:3-4; 2ºReis 23:29).
A batalha mais antiga com registo histórico detalhado foi a Batalha do Megido entre o faraó Tutmose III e uma coligação rebelde de caananeus.
Os monstros míticos
Várias criaturas míticas aparecem nas visões que o narrador apresenta:- Um cordeiro com sete cornos e sete olhos (Revelação 5:6; 12:11; 13:8,11; 14:1,4)
- Um grande dragão vermelho com sete cabeças e dez cornos (Revelação 12:3)
- Um animal com forma de leopardo com sete cabeças e dez cornos (Revelação 13:1,2)
- Um animal com dois cornos como os de um cordeiro, mas que fala como o dragão (Revelação 13:11,17)
As doze tribos
O autor de Apocalipse
redefine a lista das doze tribos de Israel segundo um critério não encontrado
no Antigo Testamento.
Tribos segundo o Antigo Testamento
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Tribos segundo Apocalipse 7:4-8
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Filhos de Jacob
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Tribos territoriais
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Rubem
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Rubem
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Rubem
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Simeão
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Simeão
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Simeão
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Levi
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Levi
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Judá
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Judá
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Judá
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Issacar
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Issacar
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Issacar
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Zebulão
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Zebulão
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Zebulão
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Dã
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Dã
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Naftali
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Naftali
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Naftali
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Gade
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Gade
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Gade
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Aser
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Aser
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Aser
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José
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José
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Manassés
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Manassés
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Efraim
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Benjamim
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Benjamim
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Benjamim
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É patente a omissão da tribo de Dã e a inclusão de uma tribo
de José (que, segundo Génesis, era o
pai das tribos de Manassés e Efraim). A ordem pela qual as tribos foram
enumeradas também não é a habitual, sendo diferente, por exemplo, da enumeração
de Génesis 49:3-27. A ordenação dos filhos de Jacob, segundo Apocalipse 7:4-8,
é a seguinte: Judá, Rubem, Gade, Aser, Naftali, Manassés, Simeão, Levi,
Issacar, Zebulão, José, Benjamim.
É evidente, a avaliar por todo o conteúdo de Apocalipse, que o autor possuía um
excelente conhecimento sobre o Antigo
Testamento, por isso não se trata de um lapso. Esta redefinição das tribos
só pode ter a ver com a transmissão de uma mensagem codificada. E a sua
descodificação está fora do nosso alcance!
O Cristo
Uma característica reconhecível é que este livro é centrado
no conceito do Cristo “Cordeiro” que se vislumbra também no Evangelho Segundo João. A designação
“Cordeiro” ocorre 28 vezes em Apocalipse!
Neste aspecto o estilo é semelhante ao do Evangelho Segundo João e é provável que
tenha sido escrito anteriormente pelo mesmo autor (ou um autor da mesma
“escola”). Tal como em João, o autor escolhe
títulos atribuídos a Yahveh (ou El-Shaddai) no Antigo
Testamento e utiliza-os para qualificar Jesus.
Título
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Atribuído a
Yahveh (ou El-Shaddai), segundo o Antigo Testamento
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Atribuído a
Jesus, segundo Apocalipse e o Evangelho Segundo João
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O “primeiro e o
último” e “o alfa e o omega”
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Isaías 44:6
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Apocalipse 1:17, 18
Apocalipse 22:13, 16
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Senhor dos
Senhores
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Deuteronómio 10:17
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Apocalipse 17:14
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O “que sonda os
rins e coração”
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Jeremias 17:10; 11:20
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Apocalipse 2:1, 23
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Criador
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Génesis 1:1
Isaías 44:24
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João 1:1-3
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Pastor
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Salmos 23:1
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João 10:11
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Rei dos Judeus
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Isaías 33:22; 44:6
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João 12:13-15; 19:21 (embora o título seja atribuido
também nos outros evangelhos)
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O livro, como outros do Novo
Testamento, também não revela conhecimento do autor sobre Jesus Nazareno.
A droga nessa altura batia bem, está visto!
ResponderExcluirXD
Bom artigo
Terá isto a ver com a elisão de Dã?:
ResponderExcluir"O símbolo de Dã é uma serpente, o que a diferencia das outra tribos de Israel. Visto que este animal é considerado um símbolo do mal na tipologia bíblica, é aparentemente estranho que esteja como estandarte em uma tribo hebraica.", "A tribo de Dã", Wikipedia (http://pt.wikipedia.org/wiki/Tribo_de_D%C3%A3)
Hipótese muito interessante!
ResponderExcluirSe o símbolo de Dã era uma serpente é bem provável que tivesse sido essa a razão para a omissão dessa tribo do texto de Apocalipse!