quarta-feira, 13 de junho de 2012

Evangelhos Canónicos: Os sinópticos




Evangelhos Sinópticos: Marcos, Mateus e Lucas

Podemos agrupar os primeiros três evangelhos canónicos (do Novo Testamento) e fazer uma análise comparativa, porque estes tratam dos mesmos temas. Quando referidos em conjunto, estes três evangelhos são designados por “evangelhos sinópticos”.

Comparando os três textos de Mateus, Marcos e Lucas, podemos elaborar um diagrama (figura acima) para demonstrar o peso dos conteúdos repetidos em cada evangelho.

Este diagrama revela como os conteúdos se repetem entre os evangelhos sinópticos. Como é que sucedeu esta repetição de conteúdos?

Supõe-se que Marcos é uma compilação de tradições orais ou pequenos escritos acerca de uma personagem com o nome Jesus. Para além de uma forte influência do Antigo Testamento não se sabe especificamente que outras fontes é que o autor terá utilizado, mas podemos formular as seguintes hipóteses:
-          algumas cartas de Paulo (40 a 60 EC), sobre o Cristo, filho de Deus, um ser celestial que foi crucificado e ressuscitado ao terceiro dia; existem passagens em comum com as cartas de Paulo e os conteúdos mostram que é mais provável Marcos ter como fonte estas do que o contrário;
-          a história de Jesus ben Pandera, possivelmente uma tradição oral do Sepher Toldoth Yeshu, sobre um pretenso Messias que foi condenado a ser apedrejado num dia de páscoa durante o reinado de Salomé Alexandra (76 a 67 AEC);


Hipótese da Dupla Fonte para Mateus e Lucas

Quanto a Mateus e Lucas, domina actualmente a hipótese da “Dupla Fonte” que sustenta que foram utilizadas as duas seguintes fontes:
-          Marcos – ou uma versão primitiva do Evangelho Segundo Marcos; considerada a fonte da estrutura narrativa, comum aos sinópticos, da vida pública de Jesus;
-          Q – uma outra fonte, designada por Evangelho Perdido Q (do alemão “Quelle” - “fonte”), cujo conteúdo seriam os textos que se encontram simultaneamente em Mateus e Lucas (cerca de 200 versículos) mas que não se encontram em Marcos. Trata-se de um texto hipotético, pois jamais foi encontrado um manuscrito com este conteúdo, o qual pode ter sido uma colecção de pensamentos e dizeres de Jesus, com pouca ou nenhuma estrutura narrativa. Também é designado por Evangelho dos Dizeres Q.




Nesta hipótese a primeira premissa é que Marcos forneceu a estrutura narrativa para a composição de Mateus e Lucas, porque:
-          Mateus, Marcos e Lucas têm semelhança na sequência narrativa e concordam por vezes ao nível da composição de frases;
-          em algumas passagens Mateus concorda com Marcos, mas não com Lucas;
-          em algumas passagens Lucas concorda com Marcos, mas não com Mateus;
-          Mateus e Lucas quase nunca concordam em composição e sequência, embora concordem em conteúdo, exceptuando material encontrado também em Marcos.

A segunda premissa é que os autores, “Mateus” e “Lucas”, criaram os seus trabalhos independentemente, isto é, “Mateus” não conhecia o trabalho de “Lucas” e vice-versa.

Finalmente, como também há semelhança em material comum a Mateus e Lucas, e que não existe em Marcos, a terceira premissa é que teria de haver uma segunda fonte comum: chamemos-lhe pelo nome de Evangelho Perdido Q.

Referência web: Fonte Q (wikipedia).

Para além de material proveniente da “Dupla Fonte”, tanto Mateus como Lucas apresentam também material exclusivo. Material exclusivo, neste caso, não quer dizer material original. Por exemplo, o Antigo Testamento é extensivamente utilizado em Mateus, constituindo também uma importante fonte.



Hipótese Marcos - Mateus - Lucas

Outra hipótese  muito mais simples – é a que infere que Mateus inspirou-se em Marcos e Lucas inspirou-se em Mateus:
-          Marcos – foi redigido para defender que o cristianismo não era um simples ramo do judaísmo e, portanto, poderia ser seguido por não judeus (num texto particularmente orientado para romanos); os seguidores do cristianismo não necessitariam de seguir normas judaicas; Jesus ilustra uma certa ruptura com o judaísmo.
-          Mateus – o autor, que provavelmente pertenceria a uma comunidade judaica, pegou no texto de Marcos e alterou o sentido para mostrar que, afinal, o cristianismo era uma continuação do judaísmo; quem quisesse ser cristão teria de ser judeu ou converter-se ao judaísmo; Jesus é uma personagem que só faz sentido no universo judaico.
-          Lucas – este autor pegou no texto de Mateus criando uma nova versão para novamente defender que o cristianismo seria uma doutrina para não judeus (orientado para gregos); Jesus teria cortado com o judaísmo, principalmente nas regras demasiado penalizadoras para as mulheres.

A "Grande Omissão de Lucas" pode ser analisada quer sob a hipótese de Lucas ter sido baseado em Marcos+Q, quer sob a hipótese de Lucas ter sido baseado em Marcos+Mateus.

Hipótese da Tripla Fonte

Finalmente, uma outra hipótese será aquela que infere que os três evangelhos sinópticos tiveram uma mesma fonte comum. Esta teoria é menos interessante porque a hipotética fonte comum seria muito semelhante ao Evangelho de Marcos.



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