sábado, 25 de maio de 2013

Paulo - Jesus Cristo ou apenas Cristo?




Jesus, Jesus Cristo, Cristo Jesus ou apenas Cristo?

Será que Paulo chamava Jesus ao seu Cristo Filho de Deus? Nas suas cartas podemos ver as expressões “Jesus Cristo”, “Cristo Jesus” ou as designações simples “Jesus” e “Cristo”. No seguinte quadro, podemos ver a frequência de cada expressão com a qual Paulo se referia ao destinatário da sua devoção nas sete cartas consideradas genuínas (1 Tessalonicenses, Filipenses, Gálatas, 1 e 2 Coríntios, Romanos e Filemon):

Baseado no texto de Westcott-Hort:

Designação
Ocorrências
Percentagem
“Cristo Jesus”
50
16%
“Jesus Cristo”
51
17%
só “Jesus”
41
12%
só “Cristo”
167
54%
Total
309
100%



Tendo em conta que a designação isolada de “Cristo” é a mais frequente, podemos lançar a hipótese que a designação “Jesus” poderá ter sido posteriormente justaposta ao lado da designação “Cristo” onde seria conveniente com vista a harmonizar o Cristo de Paulo com o Jesus dos evangelhos.

Imaginemos que as cartas de Paulo não continham originalmente a designação “Jesus”, ou seja, que todas as referências consistissem na designação “Cristo” isoladamente. Ora, os textos eram escritos à mão em colunas e também eram reproduzidos por cópia manual. Normalmente, o copista tentava manter na sua cópia a disposição que encontrava no original. Se o copista fosse pressionado (pelo seu patrono ou pelo seu próprio zelo) para harmonizar as cartas de Paulo com os evangelhos, primeiro faria o seguinte com o original que estaria em seu poder (para depois não ser acusado de mau copista):

-          se a palavra “Cristo” coincidia com o início de uma coluna, era fácil inserir “Jesus” à esquerda (aproveitando a margem) para formar a expressão “Jesus Cristo”;

-          se a palavra “Cristo” coincidia no fim de uma coluna, poderia inserir “Jesus” à direita para formar a expressão “Cristo Jesus”;

-          se a palavra “Cristo” ocorria no meio de uma coluna, tendo em conta que os escribas antigos não deixavam espaço entre as palavras, não era fácil inserir a palavra no original mas, mesmo assim, o zelo poderia fazer o copista transcrever a expressão “Jesus Cristo” para a sua cópia, o que explicaria a maior frequência da expressão “Jesus Cristo” face à expressão “Cristo Jesus”;


-          a designação “Jesus” ocorre também separadamente ou em conjunto com “Senhor” (gr. Kurios);


É de salientar que em muitos manuscritos (como, por exemplo, o Codex Sinaíticus) os "Nomes Sagrados" - Jesus, Cristo, Deus, Deus Pai, etc - aparecem como abreviaturas de apenas duas letras!


Português
Grego
Nominativo
Genitivo (possessivo)
Deus
Θεός
ΘΣ
ΘΥ
Senhor
Κύριος
ΚΣ
ΚΥ
Jesus
Ἰησοῦς
ΙΣ
ΙΥ
Cristo
Χριστός
ΧΣ
ΧΥ
Filho
Υἱός
ΥΣ
ΥΥ
Cruz
Σταυρός
ΣΤΣ
ΣΤΥ
Pai
Πατήρ
ΠΗΡ
ΠΡΣ




Ora, palavras de apenas duas letras são fáceis de incluir em novas cópias manuscritos! Para acrescentar Jesus bastaria acrescentar ΙΣ ou ΙΥ e o Cristo de Paulo ficaria automaticamente o Jesus dos evangelhos.


Referências:
 - http://en.wikipedia.org/wiki/Nomina_sacra - Referência às abreviaturas sagradas 
 - http://www.codexsinaiticus.org/en/ - Codex Sinaíticus 
 - https://jesusfellowship.uk/bible/Greek+NT+Westcott-Hort/ - Texto grego de Westcott and Hort
http://www.westcotthort.com/bookshelf.html - Westcott and Hort Bookshelf

 

 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Paulo - Não Sabia Rezar, Trabalho Completo





Paulo não sabia como rezar (aos Romanos)

Na carta aos Romanos, Paulo faz passar a ideia de não saber o que dizer quando se reza a pedir algo a Deus:
Romanos 8:26 Do mesmo modo também o Espírito nos ajuda na fraqueza; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis.

Mas, nos evangelhos, Jesus deixa claro aos apóstolos o que deveriam pedir quando orassem a Deus, na famosa fórmula do “Pai Nosso”:
Mateus 6:9-13 Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dá hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal.
Lucas 11:2-4 Ao que ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; dá-nos cada dia o nosso pão quotidiano; e perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos deixes entrar em tentação.

Está feito em toda a terra (aos Romanos)

Paulo, na sua Carta aos Romanos, indica que já fez passar a sua mensagem “por toda a terra” e “a toda a criatura”.
Romanos 10:17-18 Logo a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo. Mas pergunto: Porventura não ouviram? Sim, por certo: Por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até os confins do mundo.

É provável que o autor da Carta aos Colossenses (pseudo-Paulo) conhecesse o conteúdo da Carta de Paulo aos Romanos, pois reitera da mesma forma:
Colossenses 1:23 se é que permaneceis na fé, fundados e firmes, não vos deixando apartar da esperança do evangelho que ouvistes, e que foi pregado a toda criatura que há debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, fui constituído ministro.

Estas duas passagens não são consistentes com o proselitismo dos cristãos que perdura desde há quase dois mil anos.

Por um lado, certamente que Paulo não esteve na Ásia oriental ou nas Américas. Mas se Paulo disse que já tinha feito o trabalho de divulgar esta fé por toda a Terra, porque é que muitos grupos cristãos insistem ainda hoje em divulgar?


Quando o Evangelho Segundo Mateus foi escrito - já depois destas palavras de Paulo e, provavelmente, depois das palavras do pseudo-Paulo de Colossenses - ainda havia um sentimento de urgência de que qualquer coisa, à qual chamavam "fim", estava para acontecer.
Mateus 24:14 E este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.

Em Mateus, Jesus faz a "profecia" de que o cristianismo iria ser divulgado em toda a Terra. Paulo "cumpre" essa "profecia" (não esqueçamos que Paulo viveu até o ano 65 e Mateus foi escrito por volta de 80 ou 90).



quinta-feira, 2 de maio de 2013

Paulo - Quem eram os Apóstolos?



Os evangelhos relatam que Jesus, durante a sua presença física na Terra, escolheu doze apóstolos. No entanto, os evangelhos praticamente só dão relevo a Pedro, Tiago e João.

Mas Paulo tinha um conceito muito diferente de “apóstolo”. Vejamos como é que Paulo, nas suas cartas, apresenta este conceito e como é que descreve os apóstolos que ele conhecia:
-          no início de cada carta, Paulo apresenta-se como apóstolo “segundo a vontade de Deus” (Romanos 1:1; 1 Coríntios 1:1; 2 Coríntios 1:1; Gálatas 1:1; Colossenses 1:1);

-          Paulo diz que Cristo ressuscitado apareceu primeiro a Cefas e depois aos “doze”, a quinhentos irmãos, a Tiago, aos apóstolos e, por fim, a ele próprio; justifica essa aparição tão tardia porque começara por ser o menor dos apóstolos mas, entretanto, crescera para ser o melhor (1 Coríntios 15:5-11) ;

-          Paulo conheceu, em Jerusalém, os apóstolos Cefas e Tiago ("irmão do Senhor", que não era apóstolo nos evangelhos) só depois de decorridos três anos do início da sua missão (Gálatas 1:17-19);

-          Paulo diz que os apóstolos veteranos – Tiago, Cefas e João – confiaram a ele e Barnabé a missão de evangelizar os gentios e que, mais tarde, sentiu-se desiludido com Cefas e Barnabé, por achar que estes eram hipócritas  (Gálatas 2:6-14);

-          afirma que, se ele próprio é apóstolo e viu Cristo, também tem o direito de comer, beber e casar-se com uma “irmã” como os outros apóstolos e irmãos do Senhor (1 Coríntios 9:1-5);

-          Paulo assegura que nunca invocaria o facto de ser apóstolo para exigir despesas aos discípulos (1 Tessalonicenses 2:6; isto sugere que outros o fizeram ou fariam);

-          numa das cartas aos Coríntios, Paulo descreve depreciativamente um conjunto de apóstolos anónimos que rivalizavam com ele e tenta provar que é superior a eles (2 Coríntios 11:5; 11:13; 12:11-12);

-          Paulo tenta promover a união entre as facções de Apolo, Cefas e dele próprio, mas acaba por deixar de fora Cefas de uma boa parte do discurso (1 Coríntios 1:12; 3:5-9, 22);

-          ninguem possui todos os dons – ser apóstolo, ser profeta, ser instrutor, ter poderes (?), curar, auxiliar, liderar, falar línguas (1 Coríntios 12:28-29; mas os evangelhos e Actos sugerem que os apóstolos reuniam todos estes dons);

-          na carta aos Romanos, envia cumprimentos aos apóstolos Andronico e Júnia (uma mulher, pois é um nome latino feminino derivado do nome da deusa Juno) informando que estes conheciam Cristo há mais tempo do que ele (Romanos 16:7; nas traduções, o nome “Júnia”, foi substituido por “Júnias” para sugerir um nome masculino)


Resumindo: a lista de apóstolos que Paulo menciona e que os evangelhos nunca mencionaram é:
 -          O próprio Paulo, Barnabé, Apolo, Andrónico, Junia;
 -          para além de muitos outros que Paulo menciona sem os nomear;


Mas os apóstolos não eram apenas doze homens ?  E o que aconteceu aos outros apóstolos dos evangelhos - Mateus, André, Filipe, Bartolomeu, Tomé, etc... ? Paulo não fala destes?

E Junia era uma mulher apóstolo?

Na sua carta aos filipenses, Paulo menciona as mulheres que trabalharam com ele na sua missão, indicando que a igreja de Filipos foi iniciada com o apoio de mulheres.
Filipenses 4:2-3 Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo no Senhor. E peço também a ti, meu verdadeiro companheiro, que as ajudes, porque trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros meus cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida.

Podemos dizer que estas duas mulheres - Evódia e Sintique - seriam também apóstolos?