domingo, 5 de março de 2023

Existiu Jesus da Nazaré? - Video

 


Existiu Jesus da Nazaré?

E, eis o primeiro video resultado do trabalho neste blog:


Transcrição

Terá existido Jesus da Nazaré? Ou o Jesus do Novo testamento é uma personagem literária? Ou será que este personagem foi construído a partir de mais de um Jesus? 

Olá! Bem-vindos ao canal "Quem Escreveu Torto Por Linhas Direitas?". 

Vamos começar por comparar 3 abordagens: o Historicismo Cristão, o Historicismo Secular e o Miticismo.

No Historicismo Cristão todas as alegações do Novo Testamento sobre Jesus da Nazaré, quer sejam naturais quer sejam sobrenaturais, são considerados factos históricos. Isto é, nesta abordagem os evangelhos são considerados relatos fiéis dos acontecimentos. 

O Historicismo Secular segue os mesmos pontos que o Historicismo Cristão com a diferença em que alguns pontos são apresentados como alegações contemporâneas de Jesus e não como factos históricos. Nesta abordagem os Evangelhos são maioritariamente ficção. 

Na abordagem Miticista, Jesus era um ser celestial (mitológico), filho de Deus, sobre o qual alguns alegaram ter recebido revelações sobre a salvação que Deus estava a preparar para a humanidade. Nunca viveu na terra. Alegadamente foi visto apenas depois da sua morte e ressurreição. Nesta abordagem os Evangelhos são uma alegorização deste ser celestial transposto para uma personagem terrena que é o Jesus da Nazaré.


Vamos fazer uma revisão da História e tentar encontrar algo sobre Jesus da Nazaré.


Por volta de 2300 antes da era comum é escrita uma cópia do texto "Descida de Inanna ao submundo". 

O texto diz:

"Inanna abandonou o céu, abandonou a terra e desceu para o submundo... Ela foi transformada num cadáver. E o cadáver foi pendurado num gancho. ... Depois, três dias e três noites se passaram... Após Inanna haver subido do submundo, Ninshubur jogou-se a seus pés…"

Temos aqui, portanto, uma narrativa sobre uma divindade que morre e ressuscita. Esta não será a única. Vamos ver mais alguns ao longo deste vídeo.


Do Império novo do Egipto foram encontrados escritos e fragmentos que permitem reconstituir o mito de Osíris do seguinte modo:

Osíris foi morto pelo deus Seth, que rasgou o cadáver e lançou os pedaços por todo o Egito. A deusa Ísis, consorte de Osíris, e sua irmã Néftis encontraram os pedaços e deram nova vida a Osíris, que se tornou o governante do submundo.


Saltemos no tempo, para meados do século IX antes da era comum. O império assírio cresce. Síria, Israel e Judá fazem parte de um mosaico de pequenos estados que vivem pressionados pelos impérios vizinhos: de um lado o Egipto, do outro a Assíria. 

Neste tempo, Judá é um estado muito fraco, vassalo de Israel. Mas Síria, Israel e Judá acabam por pagar tributo ao império assírio.


Por volta de 730, os reis da Israel e da Síria querem rebelar-se contra o império e convocam Judá para se juntar à revolta. O rei Acaz de Judá discorda com a rebelião e os dois reis atacam Judá.


O autor do livro Isaías escreveria:

"'Pede para ti ao Senhor teu Deus um sinal'; … Acaz, porém, disse: 'Não pedirei, nem tentarei ao Senhor.'". 

Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a jovem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel. Na verdade, antes que este menino saiba rejeitar o mal e escolher o bem, a terra, de que te enfadas, será desamparada dos seus dois reis."


Acaz apelou ao imperador Tiglath Pileser III e este quase que arrasou por completo Israel e Síria poupando Judá. 

Ao longo de algumas décadas, milhares de israelitas refugiam-se em Judá.


Muitos séculos mais tarde, o autor de Mateus escreveria assim para justificar porque é que Jesus nasceria de uma mulher virgem:

"Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta: Eis que a virgem [gr. parthenos] conceberá e dará à luz um filho, o qual será chamado EMANUEL, que traduzido é: Deus connosco."


Passados cerca de 100 anos, Josias, rei de Judá, aproveita o enfraquecimento do império, com a óbvia ajuda dos Babilónios, e expande o seu reino. Essa expansão é acompanhada por uma reforma religiosa onde o culto a Yahweh torna-se religião única. É no reino de Josias que é concluída a fusão da cultura judaíta com a cultura israelita, dando origem à cultura judaica. Começa-se a delinear o mito da Casa de David: uma casa real, à qual Josias pertencia, e que jamais extinguir-se-ia.


Em 587, Nabucodonosor, destrói o reino de Judá e deporta a elite para servir na Babilónia, capital do império Caldeu.

O autor do Salmo 137 escreve assim: 

"Junto aos rios da Babilônia nos assentámos e chorámos, lembrando-nos de Sião. ... Porquanto aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos um dos cânticos de Sião. Ah! Filha da Babilônia, que vais ser assolada! Feliz aquele que te retribuir consoante nos fizeste a nós! Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras!"

Neste Salmo ficou bem patente o ódio dos judeus contra os babilónios por estes os terem retirado da sua pátria.


Em 539, Ciro da Pérsia derrota a babilónia e intitula-se como Rei do Mundo. Ciro permite aos judeus voltar à sua pátria.

Mais tarde, o autor de Isaías escreveria: 

"Yahweh diz: Ciro é meu pastor e cumprirá tudo o que me apraz; Assim diz Yahweh ao seu ungido (heb. Mashiach, gr. Christos), a Ciro: a quem tomo pela sua mão direita, para abater as nações diante de sua face; eu soltarei os lombos dos reis, para abrir diante dele as portas, e as portas não se fecharão."

Ao contrário dos babilónios, os persas são admirados pelos judeus. Enquanto os babilónios destruíram a sua pátria, os persas a restauraram. Ciro é mesmo descrito como Cristo, um rei abençoado por Yahweh, o deus dos judeus.


Mas o que significa Cristo?

É a tradução grega de Mashiach, ou Messias. 

Mashiach significa ungido, algum objecto ou pessoa que foi alvo de uma consagração, ministrada por um sacerdote numa aplicação de óleo sagrado.

Mas este vocábulo passou a ser usado para principalmente designar rei ungido. Ou seja, os reis tinham de ser aceites pelos sacerdotes. Um rei que fosse também sacerdote era automaticamente Mashiach. 

Os judeus, quando privados da sua independência, fantasiam com um rei guerreiro que restaure a nação judaica. 

A dada altura passaram a crer que esse rei viria do céu...


Os relatos sobre a morte de Ciro são abundantes e variados. Mas existe um relato muito curioso que afirma que Ciro foi crucificado.

Por volta de 30 AEC, Diodorus Siculus escreveu na sua obra "Biblioteca Histórica":

"... quando Ciro, o rei dos persas, o governante mais poderoso de sua época, fez uma campanha com um vasto exército na Cítia, a rainha dos citas não só despedaçou o exército dos persas, como também fez Ciro prisioneiro e crucificou-o" 

Temos aqui, portanto, um exemplo de um Cristo crucificado.


Poucos anos depois do regresso dos judeus à sua pátria, Zorobabel, que era governador de Judá, é referido como pretendente ao trono da Casa de David por alegadamente ser descendente do rei Josias. Mas Zorobabel acaba por desaparecer de cena e não chegou a ser rei. Zorobabel, o Messias que nunca foi. Zorobabel ficaria para a história pelo mérito de ter reconstruído o templo de Jerusalém.

Mais tarde surge a esperança de que, Yeoshua, sumo-sacerdote que teve um importante papel na reconstrução do Templo de Jerusalém, se aproprie da coroa e se torne rei e sumo-sacerdote. O autor de Zacarias diz que foi o próprio Deus, chamando Yeoshua de Oriente, Nascente ou Renovo, que mandou colocar uma coroa na cabeça do sumo sacerdote. 

Séculos mais tarde, Filo de Alexandria, que se dedicava a investigar as mensagens escondidas nas escrituras judaicas, que é o Antigo Testamento, diz que o texto referente a Yeoshua é uma referência ao Filho de Deus

Filo diz: 

"Eu também ouvi um dos companheiros de Moisés pronunciar um discurso como este 'Eis que um homem cujo nome é Nascente'. Uma novidade em denominação, considerando-se como dito que por um homem que é composto de corpo e alma, mas olhando para ela como aplicada a esse ser incorpóreo, que em nenhum aspeto é diferente da imagem divina, então concordamos que o nome Nascente foi dado a ele com grande felicidade." (o resto do texto vamos analisar mais tarde)


Por volta de 430 AEC, Heródoto escreve sobre a crença dos trácios, em particular do getas, no deus Zalmoxis.

Heródoto diz: 

"Os Getas julgam-se imortais e pensam que os que morrem vão para junto do deus Zalmoxis. Os Trácios estão persuadidos de que não existe outro deus senão o que eles adoram. Ouvi, entretanto, os Gregos que habitam o Helesponto dizerem que Zalmoxis era um homem. Zalmoxis falava-lhes, persuadindo-os de que nem ele, nem os seus convivas, nem os seus descendentes jamais morreriam. Zalmoxis construía em sigilo um subterrâneo... desceu ao mesmo, onde permaneceu cerca de três anos. Foi lamentado e chorado como morto. Finalmente, reapareceu aos olhos de todos."


Em 323 AEC, o império macedónico, resultado das conquistas de Alexandre o Grande, dominava todo o mediterrânio oriental. Mas com a morte de Alexandre acabou por se desagregar


Pertencente à corte de Cassandro, rei da Macedônia, o autor Evémero, escreve o livro "História Sagrada" onde sustenta que muitos contos mitológicos poderiam ser atribuídos a pessoas e eventos históricos reais, cujos relatos foram alterados e exagerados ao longo do tempo. 

Para Evemerus os relatos mitológicos eram um reflexo de verdadeiros eventos históricos, e as personagens mitológicas eram personagens históricas, mas que foram moldadas, exageradas ou alteradas por leituras e costumes tradicionais.

Por exemplo, Evémero tentou reconstruir a vida do seu hipotético Zeus histórico a partir da mitologia.


Por volta de 281, o império seléucida dominava partes da Anatólia e do Levante, para além de grandes territórios na Ásia. Mais tarde os selêucidas acrescentariam a Judeia ao seu domínio. 

Inicialmente, o reino Ptolemaico, do Egipto, incluía a Judeia. Muitos judeus migraram para Alexandria a aí formaram uma comunidade próspera. Foi aí que surgiu a Septuaginta, a tradução grega do Antigo Testamento.


Cerca de 170 antes da era comum, o rei selêucida Antíoco IV Epifânio tentou forçar os judeus a uma conformidade com a cultura e hábitos gregos, convertendo o Templo de Jerusalém para o culto dos deuses gregos.


Em 166 Antes da Era Comum ocorre a revolta dos Macabeus contra o império selêucida que abre caminho ao reino Asmoneu que foi um reino de soberania e identidade judaica. 

A revolta foi iniciada por um sacerdote chamado Matatias da familia dos Asmoneus, juntamente com os seus filhos, contra a interferência do império seleucida nos assuntos religiosos dos judeus. 

Judas, um dos filhos de Matatias, tinha o cognome de Martelo, ou Makabim, e o grupo ficou conhecido como os Macabeus. Eles inicialmente obtiveram soberania sobre assuntos religiosos, sobre o Templo de Jerusalém e sobre alguns territórios.

Mais tarde, João Hircano ampliou os territórios e intitulou-se de Rei dos Judeus.

O reino acabou quando dois irmãos Aristóbulo II e Hircano II disputaram o trono e entraram em guerra cilvil. O general romano Pompeu interveio e colocou Hircano não como rei mas como etnarca. Como governador ficaria Antipatro que era o pai daquele que viria a ser conhecido como Herodes o Grande. 

Foi durante o período Asmoneu que surgiram os fariseus, ou Rabis. Nos evangelhos, Jesus da Nazaré é referido como Rabi apesar de ser descrito como opositor dos fariseus.


O manuscrito Sepher Toldoth Yeshu (Livro da Genealogia de Jesus), conhecido desde a idade média, descreve um Yeshu ben Pandera (Jesus filho de Pandera) do tempo dos Asmoneus. 

A narrativa faz um retrato muito desfavorável de uma personagem chamada Jesus ben Pandera, descrevendo-a como um inimigo dos judeus. A personagem principal é um pretenso Messias que é desmascarado por um homem chamado Judas. A grande curiosidade aqui é que esta história possui contornos semelhantes à do Jesus Nazareno dos evangelhos, embora com um enquadramento histórico diferente.

O enquadramento histórico do Sepher Toldoth Yeshu coloca a vida de Jesus ben Pandera nos reinados de Alexandre Janeu e de Salomé Alexandra, entre 103 e 67 AEC.

Um autor chamado Celso, em 178 EC, no seu livro "Verdadeira Palavra" fez uma referência a Jesus ben Pandera.


Em 66 AEC, o general romano Pompeu foi mandatado para combater a pirataria no Mediterrâneo. A Cilícia era uma base de operações para os piratas. 

Plutarco conta a história de Pompeu e diz o seguinte sobre os cilícios: 

"Também ofereciam estranhos sacrifícios próprios no Olimpo, e celebravam ali certos ritos secretos, entre os quais os de Mitra continuam até hoje, tendo sido instituídos primeiro por eles." 

É importante referir que o apóstolo Paulo do Novo Testamento seria originário de Tarso, na Cilícia, portanto teria tido um contacto próximo com o Mitraísmo 

Na sua carta aos Coríntios, Paulo conta como Jesus revelou-lhe o sacramento da eucaristia. 

Justino Mártir, na sua apologia, para justificar porque é que os cristãos tinha um sacramento imitado de Mitra, alega que foram os demónios que instruiram os seguidores do mitraísmo a fazer o sacramento antes mesmo de Jesus o ter feito só para confundir e criar oposição à verdadeira fé.


Com Pompeu iniciou-se o período romano na Palestina que durou séculos. 

Na sequência de disputas entre dois irmãos Asmoneus, Hircano e Aristóbolo, filhos de Alexandre Janeu, o general romano Pompeu invadiu vitoriosamente Jerusalém em 63 AEC e, consequentemente, subjugou toda a Judeia. Colocou Hircano como sumo-sacerdote e como governador ficou Antipatro, um aristocrata da Idumeia. 

O filho deste Antipatro foi Herodes que mais tarde se tornou Rei dos Judeus.


Em 37 antes da era comum Herodes torna-se Rei dos Judeus. Reclamou o trono ao casar com Mariame, neta do último rei Asmoneu.


Com a Batalha de Actium, Octaviano (mais tarde chamado Augusto) derrota os seus rivais Marco António e Cleópatra. Os romanos obtêm controlo total no mar mediterrâneo.


Em 7 antes de era comum, Sentius Saturnino, termina o seu mandato como governador da Síria. Muito mais tarde, por volta de 200 da era comum, Tertuliano insinuava que Jesus teria nascido durante o mandato de Saturnino como Governador. Tertuliano no seu livro "Contra Márcion" diz (sobre Marcion afirmar que Jesus não nasceu): "há uma prova Histórica de que neste momento um censo havia sido tomado na Judeia por Sentius Saturnino que poderia ter satisfeito sua indagação sobre a família e a descendência de Cristo"


Em quatro antes de era comum Herodes morre. O autor do Evangelho Mateus afirma que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes.

A herança de Herodes foi a seguinte: para Arquelau deixou a Judeia, a Idumeia e a Samaria; para Ântipas deixou a Galileia e a Pereia; para Filipe deixou o Golan.

Para Alexandre e Aristóbolo não deixou nada porque Herodes matou-os. Herodes odiava os Asmoneus, mesmo que fossem seus filhos.


Com a morte de Herodes, durante algum tempo pairou a incerteza de como iria ser a sucessão do poder nos vários territórios.

Com este vazio temporário de poder, surgiram vários oportunistas pretendentes a Messias, ou seja, pretendentes ao trono.


Judas ben Ezequias, filho de um notório lider de bandidos, pilhou Séforis e manifestou ambições de realeza. Como não há relato da sua captura, não se sabe se este Judas é o mesmo que o Judas da Galileia que mais tarde rebelou-se contra os romanos.

Simão da Pereia, funcionário de Herodes, foi declarado rei pelos seus seguidores.  O capitão da guarda de Herodes, Gratus, capturou-o e decapitou-o.

Atronges, pastor. declarou-se rei dos judeus. Arquelau, com a ajuda dos romanos, erradicou o seu grupo.


Após 10 anos de reinado, Arquelau é forçado a exilar-se. Os territórios sob Arquelau são anexados à Síria. Quirinius, governador da Síria, organiza um censo para facilitar a cobrança de impostos. O autor do Evangelho de Lucas diz que Jesus nasceu durante este censo organizado por Quirinius,


Este censo trouxe um grande sentimento de revolta. Judas da Galileia instigou os judeus à rebelião. Josefo descreve-o assim:

Judas da Galileia fundou a seita dos zelotas e liderou uma revolta contra o governador Quirinius que impôs novas taxas. 

Judas teve dois filhos, Tiago e Simão, que foram crucificados no tempo do governador Tibério Alexandre [46 a 48 EC].

Durante a Revolta dos Judeus [66 a 70 EC], Menachem e Eleazar, seus descendentes, também foram protagonistas de episódios de rebelião.


Josefo, nas suas obras, descreve demoradamente Judas da Galileia bem como uma ou duas gerações de seus descendentes.


Orígenes, mais tarde, diria que Judas da Galileia teria sido venerado como Cristo.


Por volta de 10 da era comum, Tito Lívio escreve sobre Rômulo no seu livro "História de Roma". Rômulo é claramente uma personagem mitológica, mas Lívio retrata-o como uma personagem histórica, como sendo o primeiro rei do Roma.

Lívio diz: 

"Rômulo desapareceu durante uma tempestade, deixando o trono de vago. O céu escureceu nesse dia. Existem suspeitas que os poderosos do Roma mataram Rómulo por este ser incômodo. O povo crê que Rómulo subiu ao céu e tornou-se um Deus. Um homem alega ter visto Rómulo e recebido revelações dele sobre o futuro."


No ano 19 da era comum, os judeus foram expulsos de Roma a pretexto de serviço militar obrigatório. O que aconteceu foi que os judeus andavam a converter os romanos ao Judaísmo e alguns judeus foram acusados de burlar uma mulher da alta sociedade romana. Mais tarde Josefo escreveria em "Antiguidade Judaicas": "Fúlvia foi burlada por quatro judeus criminosos. O marido dela falou com Tibério e 4.000 judeus foram enviados para serviço militar numa terra inóspita".

Séneca já antes teria escrito, numa carta ao seu amigo Licínio: "Na minha juventude, no tempo de Tibério, tornei-me vegetariano. Tive de deixar este costume para não ser punido como seguidor de cultos estranhos".


O que retiramos deste incidente?

Que em 19 da era comum, ou antes, já os judeus de Roma convertiam gentios, incluindo pessoas de elevado estatuto social, muito antes do apóstolo Paulo.

Os judeus foram perseguidos em Roma durante o tempo de Tibério.

Os romanos de famílias prestigiadas, tal como Séneca na sua juventude, durante o reinado Tibério, poderiam ser perseguidos se fossem suspeitos de seguir cultos não romanos que foram interditos. 

Tudo isto é similar às histórias de perseguição dos cristãos que se tornaram muito frequentes em épocas posteriores. Só que aqui trata-se de judaísmo e não cristianismo.


Por volta do ano de 20, Filo de Alexandria no seu livro "Confusão de Línguas" escreveu: "o Pai do Universo o fez surgir como o filho mais velho a quem, em outra passagem, ele chama-o de primogênito; e aquele que nasceu imitando os caminhos do seu pai criou espécies tais e tais, segundo os seus arquétipos".

Mais tarde o apóstolo Paulo escreveria assim na sua carta aos romanos: "para serem conformes a imagem do seu filho a fim de que ele seja o primogénito entre muitos irmãos". E na sua carta aos Coríntios, Paulo escreveu "e um só senhor Jesus Cristo pelo qual são todas as coisas e nós por ele"


Em 26 da Era Comum, Pilatos chega à Judeia, trazendo símbolos pagãos para Jerusalém (cidade sagrada para os judeus). Grande parte da população revoltou-se e exigiu a remoção destes objectos ofensivos.

Filo de Alexandria, um pouco mais tarde, escreveria sobre este incidente para ilustrar o típico mau governante.


O autor do Evangelho de Lucas diz que no décimo quinto ano do império de Tibério Cesar, Jesus tinha cerca de 30 anos. Ora, isto significa que Jesus teria 30 anos no ano 29 EC, ou seja, terá nascido no ano 1 AEC.

Mas afinal quando é que Jesus nasceu? Foi durante o mandato de Saturnino como governador da Síria? Foi durante o reinado de Herodes o Grande? Tinha 30 anos em 29 EC? Nasceu durante o censo de Quirino?


Cerca do ano 30, Pilatos manda construir um aqueduto e paga com dinheiro do Templo de Jerusalém. Isto originou uma revolta popular dos judeus. 

Josefo, no seu livro "Antiguidades Judaicas" escreve sobre este incidente. No parágrafo seguinte aparece esta suposta descrição de Jesus: 

"Por volta deste tempo, existiu Jesus, um homem sábio, se é lícito chamá-lo de homem, pois ele fez coisas maravilhosas, um professor de homens que recebiam a verdade com prazer. Ele fez discípulos tanto entre os judeus como entre os gentios. Ele era o Cristo. E quando Pilatos, seguindo a sugestão dos líderes entre nós, condenou-o a ser crucificado, os que o amaram não o esqueceram; porque ele lhes apareceu vivo de novo no terceiro dia, tal como haviam predito os divinos profetas estas e milhares de outras coisas maravilhosas a respeito dele. E a tribo dos cristãos, assim chamados por causa dele, não se extinguiu até hoje."


Este parágrafo é chamado o Testemunho Flaviano sobre a historicidade de Jesus e é obviamente uma fraude!


Porque é que o parágrafo Testimonium Flavianum do livro Antiguidade Judaicas de Flávio Josefo é uma fraude.

O conteúdo é um "evangelho compacto", isto é, tem todos os ingredientes de um evangelho (milagres, pregação, ensino, profecia, crucificação e ressurreição).

Todas as expressões apontam para uma personagem excecional. Porque é que Josefo só reservaria um parágrafo para o descrever? 

Josefo descreve outras figuras bem menos carismáticas com mais detalhe. 

Esta passagem foi referida por Eusébio, um dos fundadores da Igreja Católica no seu livro História da Igreja do século IV, mas outro apologista cristão do século III, Orígenes, que também faz uso da literatura de Josefo, nunca cita esta passagem. 

Conclusão: este parágrafo foi introduzido posteriormente.


No ano 36, Pilatos foi demitido na sequência de atos de extrema violência. 

Josefo escreve em Antiguidade Judaicas sobre o incidente que originou a expulsão Pilatos. Diz assim:

"O Samaritano reuniu uma multidão de samaritanos para subirem ao monte Gerizim, considerada a mais sagrada das montanhas; assegurou-lhes que lá lhes mostraria relíquias sagradas ali depositadas; a multidão, crendo nele, reuniu-se numa aldeia na base da montanha; Pilatos interceptou-os e aprisionou alguns e massacrou outros. Os samaritanos queixaram-se do massacre ao Governador Vitelius e então Pilatos foi enviado para Roma, substituído por Marcelo."


Herodes Ântipas da Galileia era casado com uma princesa do reino vizinho da Nabateia. Esse casamento dava-lhe segurança nas fronteiras do seu território. Ao repudiar a sua mulher para se casar com outra gerou um mau estar político com o rei Aretas da Nabateia, que declarou a guerra a Ântipas. É possível que João Batista tenha censurado publicamente o divórcio e o novo casamento da Herodes e que isso tenha determinado a sua captura e execução. 

Parece que a guerra da Nabateia não terá corrido bem a Herodes Ântipas, pois Josefo em Antiguidades judaicas diz "João foi trazido acorrentado a Machaerus a fortaleza e lá executado. Porém o veredito dos judeus é que a destruição que atingiu o exército de Herodes foi um castigo, um sinal de desagrado de Deus"


A Nabateia de Aretas IV ataca a Galileia de Herodes Ântipas, causando enormes prejuízos naquele território. Ântipas apela ao Imperador Tibério que o auxiliasse numa retaliação contra a Nabateia. Com a morte de Tibério, o contra-ataque à Nabateia não chega a consumar-se. Antipas seria exilado e substituído pelo seu sobrinho Herodes Agripa I.


Vamos fazer aqui uma pausa para dizer que Jesus não pode ter sido executado por Pilatos. 

Ora, uma vez que João Batista foi preso e executado em 36 e Pilatos deixou de ser perfeito da Judeia em 36 e os Evangelhos dizem que Jesus começou a pregar depois de João Batista ter sido preso então Jesus não pode ter sido executado por Pilatos.


Por volta do ano 40, Gaio Calígula toma algumas decisões que desagradam aos judeus de Alexandria e também aos judeus de Jerusalém. Calígula exige entre outras coisas uma estátua sua no templo de Jerusalém. Filo de Alexandria integrou juntamente com Herodes Agripa uma Embaixada de judeus que foi pedir a Calígula a revisão das suas decisões.

No seu relato sobre esta embaixada, Filo de Alexandria, referiu Pilatos como um exemplo de mau governante porque constantemente provocava os judeus com atitudes que desafiavam os seus costumes e religião. E que Pilatos acabava por resolver as susequentes revoltas com extrema violência. 

Ora, este texto de Filo contém a primeira referência sobre Pilatos. É um testemunho contemporâneo sobre o incidente dos ícones pagãos à chegada de Pilatos à Judeia.


Em 41 Caligula é assassinado e Cláudio torna-se imperador do Roma.


No ano 44, um artista chamado Teudas tentou recriar uma cena do Antigo Testamento em que Josué atravessa o rio Jordão a seco com o povo.

Josefo escreve assim sobre esta personagem: 

"Um certo mágico, chamado Teudas, exortou o povo a segui-lo com os seus pertencentes ao Jordão. Prometeu que abriria caminho no rio secando-o. O governador Cuspiu Fadus enviou uma tropa de cavaleiros em busca dele e seu bando, matou muitos deles e tomou outros cativos, decapitando Teudas."


Por volta de 49, Cláudio expulsa os judeus de Roma. Mais tarde o historiador Suetónio escrevia em "Doze Césares":

"Porque os judeus faziam constantes distúrbios por instigação de Crestus, ele, Cláudio, expulsou-os de Roma." 

Esta passagem é usada como suposta prova da existência de Jesus da Nazaré. 

Porque é que o testemunho de Suetónio não constitui prova da existência de Jesus da Nazaré? 

Ora, Suetónio escreveu cerca de 90 anos depois da suposta crucificação de Jesus. Nesta época já existiam as narrativas evangélicas (pelo menos o evangelho de Marcos). 

Não menciona cristãos, mas judeus. Mas, mesmo que falasse de cristãos não constituiria prova da existência de Jesus Nazareno dos Evangelhos.

Suetónio não fala de Jesus, nem de Cristo, mas de Crestus, um nome Latino vulgar, principalmente entre escravos. 

O texto presume que este Crestus residia em Roma, um local sobre o qual nunca é dito que Jesus tenha visitado. 

Conclusão: não é válido para comprovar a existência de Jesus da Nazaré.


Por volta de 49, Paulo escreve à sua comunidade de seguidores em Tessalónica: 

É possível que a comunidade de fiéis em Tessalónica, tenha sido fundada uma ou duas décadas antes de Paulo escrever este texto. Esta, tal como outras, terá sido fundada com a mensagem de que o Filho de Deus iria vir brevemente, muito brevemente. Entretanto passaram muitos anos e, naturalmente, alguns dos membros desta comunidade morreram entretanto... e os que estão vivos mostraram-se agora ansiosos ou confusos com qual será o destino dos fiéis que morreram antes da chegada de Cristo. 

Paulo conforta os seus seguidores dizendo que Jesus vai chegar em breve e que ressuscitará primeiro aqueles que já tendo depositado a sua fé em Cristo, entretanto morreram. 

Paulo diz que aguarda Jesus descer dos céus "com grande brado... ao som duma trombeta", mas Paulo nunca diz como é que Jesus subiu aos céus. Como é que Jesus vai descer, se Jesus não subiu ao céu depois de ressuscitar? Pelo menos Paulo nunca contou em nenhuma das suas cartas como é que Jesus subiu ao céu.

O que é que podemos extrair desta passagem de primeira Tessalonicenses?

O Jesus de Paulo nunca esteve na Terra. 

O Jesus de Paulo estaria para vir em breve à Terra, pela primeira vez, apenas para arrebatar os fiéis e regressar logo aos céus.

O Jesus de Paulo não é o Jesus da Nazaré.


Na sua carta aos Gálatas Paulo conta como conheceu Tiago, irmão do Senhor. Ele diz: 

"Depois, passados três anos, fui a Jerusalém para ver a Pedro e fiquei com ele quinze dias. E não vi a nenhum dos outros apóstolos, senão Tiago, irmão do Senhor." 

Sobre o Tiago irmão do Senhor. Esta passagem de Gálatas é usada como prova da existência de Jesus de Nazaré, porque supostamente prova que Paulo conheceu o seu irmão biológico. Mas, vejamos: 

Paulo usa a palavra irmão ou similares 113 vezes e em nenhuma delas significa irmão biológico. 

Noutra passagem Paulo diz: "Não temos nós direito de tomar por esposa uma irmã como também os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor, e Cefas?" 

Conclusão: este Tiago não era irmão biológico de Jesus de Nazaré.


Por volta do ano 55, Um alegado profeta conhecido como "O Egípcio" reuniu 30.000 adeptos, convocando-os para o Monte das Oliveiras, em frente a Jerusalém, prometendo que, a seu comando (isto imitando a cena de Josué do Antigo Testamento em Jericó), os muros de Jerusalém cairiam e que ele e seus seguidores se apoderariam da cidade; o governador Antónius Félix, confrontou militarmente esta multidão; o profeta escapou, mas os que estavam com ele foram mortos ou capturados, e a multidão dispersou.


Agora que acabámos de ver mais um que queria imitar Josué, ou Yeoshua, vamos fazer aqui uma pausa para analisar esta situação. 

Tendo em conta que Josué é o herói do Antigo Testamento que conquista o território de Israel e muitos desejam recriar as aventuras deste herói; e que Josué é o nome do Sumo Sacerdote referido no livro de Zacarias para usar uma coroa durante o período Persa; e que Josué e Jesus são nomes que têm origem no mesmo nome, Yeoshua, e que Jesus (Iesou) é transliteração grega de Yeoshua, então Jesus é o nome ideal para personificação do Judaísmo; é natural a escolha do nome de Jesus para o filho de Deus tendo em conta que é inspirado nas escrituras do Antigo Testamento.


Na sua carta aos romanos, Paulo parece indicar que Jesus era descendente de David. Ele diz: 

"Acerca de seu filho que nasceu da semente de David segundo a carne" 

Pegando nesta ideia de Paulo os autores dos Evangelhos de Mateus e de Lucas criaram umas genealogias para fazer com que Jesus da Nazaré pertencesse à linhagem real da casa da David. 

Esta passagem de "Romanos" é usada como suposta prova da existência de Jesus da Nazaré pois Paulo alega que Jesus era descendente de um homem.

Mas é habitualmente usada uma tradução abusiva. Paulo usa a palavra γενομένου que não significa nascer mas qualquer coisa como "tornar-se" ou "ser feito de".

Como é que Paulo sustentaria um argumento sobre um desconhecido da Galileia ser descendente do rei David? 

Pensando em termos da crença Judaica, para se cumprir a profecia de que Cristo teria que ser descendente da semente de David, seria necessário que Deus ressuscitasse David ou algum antigo Rei de Judá da sua linhagem de modo a ter um filho na Terra. Ou então, como Deus é omnipotente, por que não podia Deus fazer um corpo para Jesus usando a semente de David como matéria-prima?


Então, as cartas de Paulo andaram a circular entre as várias comunidades e só depois é que começam a aparecer os evangelhos, sendo que o primeiro terá sido Marcos ou algum texto parecido.

Vamos agora fazer a comparação daquilo que Paulo diz sobre Jesus com o que o evangelho de Marcos diz. 

Paulo diz que Jesus é Filho de Deus e parece referir uma mãe alegórica. O evangelho de Marcos dá um nome à mãe de Jesus e mantém que este é Filho de Deus. 

Paulo diz que Jesus é produto da semente de David, mas o evangelho diz que o Messias não pode ser "Filho de David".

Paulo diz que os crentes são irmãos de Cristo, o evangelho diz que Jesus tinha irmãos e irmãs.

Paulo refere muitos apóstolos, mas em nada sugere que tenham convivido com Jesus. No evangelho Jesus recrutou doze apóstolos que conviveram com ele. 

Paulo alega que Cristo ensinou-lhe algumas coisas por revelação. No evangelho, Jesus ensinou muitas coisas a milhares de seguidores. Viajou pela Galileia, Fenícia e Judeia. 

Paulo diz que Jesus foi entregue. O evangelho diz que Jesus foi traído por Judas e capturado. 

Paulo diz que Jesus foi crucificado pelos "governantes do mundo" em local não especificado. No evangelho Jesus foi julgado por sacerdotes e executado por Pilatos em Jerusalém

Paulo diz que Jesus ressuscitou ao fim de três dias. No evangelho o túmulo foi simplesmente encontrado vazio.


Em 62 - o prefeito da Judeia, Festus, morre subitamente. 

Durante algum tempo, deixou de haver autoridade romana na Judeia. 

Segundo Josefo, o sumo-sacerdote Ananias (ou Ananus) aproveitou a breve ausência da autoridade romana (entre a morte de Festus até à chegada de Albinus que o substituiu) para se livrar de um homem chamado Tiago e alguns outros, condenando-os à morte. Josefo diz que este Tiago era irmão de Jesus e também, na mesma passagem, fala de um Jesus filho de Damneus. 

Quando o novo governador romano chegou, Ananias foi repreendido e demitido. Jesus filho de Damneus passou a ser o novo sumo-sacerdote.

O que está escrito no livro de Josefo: 

"Ananus supôs que tinha agora uma boa oportunidade – Festus estava morto, e Albinus estava viajando – assim ele reuniu o sinédrio dos juízes, e trouxe diante dele o irmão de Jesus, o que era chamado Cristo - esta parte será duvidosa - cujo nome era Tiago, e alguns outros; e quando ele formalizou uma acusação contra eles como infractores da lei; ele os entregou para serem apedrejados; .... Albinus... escreveu iradamente a Ananus, e o ameaçou dizendo que ele seria punido pelo que havia feito; por causa disso, o rei Agripa tirou o sumo sacerdócio dele, quando ele o tinha exercido por apenas três meses, e fez Jesus, filho de Damneus, sumo sacerdote." 

Por que é que este Tiago não é o irmão de Jesus da Nazaré? 

A expressão de "o que era chamado Cristo" terá sido uma interpolação posterior pois não fazia sentido Josefo não explicar porque chamariam Cristo a esse tal irmão Tiago. 

Seria mais natural que o texto original fosse "e trouxe diante dele o irmão de Jesus cujo nome era Tiago". 

Muito provavelmente este Tiago era de uma família sacerdotal e seria irmão de Jesus filho de Damneus que poderia rivalizar com Ananias o extremamente lucrativo cargo de sumo-sacerdote.


Este Tiago, irmão de Jesus, é referido por Hegesipo, no século II, como sendo o Tiago, irmão do Senhor.

Fica claro no texto de Hegésipo, que este Tiago só poderia ser de uma família Sacerdotal (e não um camponês da Galileia), pois somente a ele era "permitido entrar no lugar santo" do Templo;

Pelo texto de Hegésipo, fica também a sugestão de que os apóstolos, companheiros de Tiago, eram naturais de Jerusalém e não da Galileia. 

Hegésipo escreveu:

"Tiago, o irmão do Senhor, sucedeu ao governo da Igreja em conjunto com os apóstolos. Ele era chamado de Justo por todos, desde o tempo de nosso Salvador até aos dias atuais; pois eram muitos os que tinham o nome Tiago. … Somente a ele era permitido entrar no lugar santo; ... E ele tinha o hábito de entrar sozinho no templo, ... Os escribas e fariseus colocaram Tiago no cume do templo, ... E, enquanto o apedrejavam assim até a morte... E assim ele sofreu o martírio; .... Este homem foi uma verdadeira testemunha tanto para judeus como para gregos de que Jesus é o Cristo."

Hegesipo diz que este Tiago era conhecido pelo nome "Justo", para se distinguir dos muitos outros Tiagos (Ora, se este Tiago fosse realmente o irmão de Jesus, não seria mais fácil ser conhecido por "Tiago, Irmão de Jesus"?);


Em 62, um louco chamado Jesus, filho de Ananias, camponês, é preso e levado ao governador romano Albino. Esse louco gritava insistentemente palavras de mau agoiro no Templo de Jerusalem.

Albino declara-o louco e deixa-o ir embora. 

Josefo escreveria assim no seu livro "Guerra dos Judeus": 

"... um tal Jesus, filho de Ananias, um rude camponês, veio à festa na qual todos os Judeus costumam erguer tabernáculos a Deus. Entrando no Templo, pôs-se subitamente a gritar, 'Uma voz do oriente, uma voz do ocidente, uma voz dos quatro ventos. Uma voz contra Jerusalém e o santuário, uma voz contra o noivo e a noiva, uma voz contra todo o povo'. Depois, percorreu todas as ruelas, dia e noite, com este grito nos lábios. Alguns dos principais cidadãos, furiosos com estas palavras de mau agoiro, prenderam-no e castigaram-no duramente. Mas ele, sem uma única palavra em sua defesa ou para os ouvidos dos que lhe batiam, continuou com os seus gritos. Os magistrados, convictos … levaram-no ao governador romano. Apesar de flagelado até aos ossos, não implorou misericórdia nem derramou uma lágrima, gemendo entre cada chicotada, 'Ai de Jerusalém!'. Sempre que Albino, o governador, lhe perguntou quem era, donde vinha e porque dava aqueles gritos, ele nunca lhe respondeu, reiterando incessantemente as suas lamentações pela cidade, até que Albino o declarou louco e o deixou ir embora."


Então o que está aqui em causa são os paralelos entre Jesus filho de Ananias e Jesus da Nazaré. 

Ambos chamam-se Jesus. Ambos vieram a Jerusalém durante uma grande festividade. Ambos gritaram no Templo. Ambos profetizaram a destruição de Jerusalém. Ambos foram detidos por 

Judeus. Ambos foram açoitados por judeus. Ambos foram açoitados por romanos. Ambos foram julgados pela autoridade Romana. Nenhum deles disse alguma coisa quando interrogados. Nenhum deles foi condenado pela autoridade Romana.

Portanto, as diferenças são poucas entre os dois personagens.


Em 64 há um grande incêndio Roma. O principal suspeito é o Imperador Nero. 

50 anos depois deste evento, o historiador Tácito, no seu livro "Anais", escreveria assim: 

"Nenhum esforço humano, nem os gestos de generosidade do imperador, nem os ritos destinados a aplacar [a ira] dos deuses, faziam cessar o boato infame de que o incêndio havia sido planeado nas altas esferas. Assim, para tentar abafar esse boato, Nero acusou, culpou e entregou às torturas mais deprimentes um grupo de pessoas que eram detestadas pelo seu comportamento, popularmente chamados "cristãos". Este nome provém de Cristo, que no tempo de Tibério foi condenado à morte pelo procurador Pôncio Pilatos." 

Esta passagem é usada como suposta prova da existência de Jesus de Nazaré. 

Por que é que o testemunho de Tácito não constitui prova da existência de Jesus da Nazaré? 

Ora, Tácito escreveu cerca de 80 anos depois da suposta crucificação de Jesus e nesta época já existiam evangelhos (pelo menos o evangelho de Marcos). 

Este autor não menciona um homem com o nome próprio Jesus mas um homem que era conhecido pelo título de Cristo e no primeiro século haviam muitos a reclamar o título de Cristo (ou Messias). 

Em 64 os cristãos não eram suficientemente conhecidos ou relevantes para serem apontados por Nero como culpados pelo incêndio de Roma nesta altura seria muito difícil para um Romano distinguir entre os judeu e um cristão. Seria mais provável que Nero tivesse apontado a culpa aos judeus.

A passagem não é citada por nenhum dos grandes apologistas cristãos dos primeiros séculos, incluindo Eusébio do século 4. 

Conclusão: este argumento não é válido para comprovar a existência de Jesus da Nazaré.


Em 66 é iniciada a revolta dos Judeus. Yosef ben Matatias, que nesta altura teria uns 30 anos de idade, é enviado para a Galiléia com poderes de general. Mais tarde este Yosef bem Matatias mudaria o nome para Flávio Josefo. 

Josefo escreveria assim no seu livro "Guerra dos Judeus" e na sua "Autobiografia": 

"Eu pertencia à aristocracia sacerdotal de Jerusalém. Quando a rebelião dos judeus estourou na Galileia fui enviado para lá, com poderes de comandante-em-chefe (general), de modo pôr ordem no processo revolucionário.

Na Galileia, em Tibérias, eu conheci Jesus ben Sapphias. Inicialmente, este homem era lider de um bando de marinheiros [seriam pescadores?] e pobres mas, pouco depois, já se encontrava como principal magistrado de Tibérias.


Uma das principais cidades da Galileia era Tibérias, junto ao lago da Galileia. Nessa cidade havia um palácio que havia sido construído por Herodes Ântipas. 

Uma das ordens que eu trazia de Jerusalém era a destruição do palácio de Herodes, em Tibérias, porque este palácio continha símbolos pagãos.

No entanto, para meu desagrado, Jesus ben Sapphias, que era lider de "marinheiros e pobres", chegou primeiro e já tinha incendiado o palácio. Para além disso, este Jesus e o seu grupo massacraram muitos gentios de Tibérias.


Depois cheguei a Séforis (a capital da Galileia), mas os habitantes desta cidade desconfiaram do meu propósito e pediram a Jesus ben Sapphias para me apanhar. Apercebi-me disso e, numa reviravolta, capturei Jesus.

Os seguidores dele fugiram. No entanto fui magnânimo com Jesus e libertei-o, dando-lhe uma segunda oportunidade. 

Algum tempo mais tarde, Jesus ben Sapphias, agora como principal magistrado de Tibérias, acusou-me de traição e instigava a minha captura e castigo.


Entretanto, em Roma, Nero comissiona Flávio Vespasiano para ir conter a revolta na Judeia e na Galileia.

Vespasiano começaria a operação na Galileia com o seu filho Tito.

Quando Vespasiano chega à Galileia, a primeira cidade que reconquista aos rebeldes é Tibérias. A cidade onde Jesus ben Sapphias era magistrado. 

Jesus ben Sapphias foge para Tariqueia, mas a cidade é reconquistada por Tito, filho de Vespasiano. Desconhece-se o que aconteceu a seguir a este Jesus. 

Um pouco mais tarde, Yosef ben Matatias é preso e rende-se a Vespasiano e Tito. 

Yosef conquista a amizade de Vespasiano e Tito e passa a ser conselheiro e intérprete destes. Mais tarde mudaria o seu nome para Flávio Josefo.


Flávio Josefo acompanharia Tito nas suas campanhas militares contra os rebeldes judeus. 

Na sua auto-biografia, Flávio Josefo conta como pediu a Tito que intercedesse por três de seus companheiros judeus que tinham sido crucificados. Ele diz que conseguiu que os três fossem retirados da cruz ainda vivos. Dois acabaram por morrer mas um ainda sobreviveu! 

Ora, isto não faz lembrar nada? O Jesus do Evangelho de Marcos foi crucificado junto com outros dois criminosos. E o túmulo de Jesus foi encontrado vazio.


Em 68 Nero é condenado à morte e suicida-se. 

Segue-se mais de um ano de caos em Roma, com vários imperadores em rápida sucessão no ano 69 – Galba, Oto e Vitélio.

Durante este tempo, a revolta dos Judeus continua na Judeia, pois os romanos têm assuntos mais urgentes para resolver. 

Finalmente Vespasiano é declarado imperador e toma o seu lugar em Roma.


Clemente de Roma, referindo-se a Elias e Eliseu, diz na sua carta aos coríntios, que os crentes devem ser imitadores dos que anunciaram o Cristo vestidos de peles. 

No Evangelho de Marcos, João Batista é referido como vestindo peles e anunciando Cristo, mas Clemente não sabe disso, pois refere os profetas do Antigo Testamento com essas características e não João Batista.


Em 70 Jerusalém e o seu templo são destruidos por Tito. O judaísmo ficaria sem a sua principal peça o Templo de Jerusalém.


Esta vitória sobre os Judeus deu a Tito o tema para o seu arco do Trinfo em Roma. Nesta edificação ele mandou gravar na pedra imagens do saque de Jerusalém.


Justus de Tibérias era da Galiléia, escreveu um grande texto sobre os acontecimentos do seu tempo, que coincide com o tempo em que Jesus da Nazaré supostamente teria vivido. 

O patriarca Photius de Constantinopla do século IX teve acesso à obra completa de Justus e deixou registado o seu desagrado por este autor não ter relatado nada sobre Jesus. 

Photius escreveu:

"O estilo de Justus é muito conciso mas omite uma parte que é de extrema importância. Sofrendo da culpa comum dos judeus, a qual raça pertence, nem menciona a vinda de Cristo, os eventos de sua vida, nem os milagres realizados por Ele"


Em 75 da Era Comum, Josefo publica a sua obra “Guerra dos Judeus” que contém a história dos judeus desde a revolta dos Macabeus até à Destruição de Jerusalém por Tito. 

Este texto não contém nada sobre Jesus Nazareno, mas fala sobre Pilatos. 

Esta obra de Josefo contém dois episódios envolvendo Pilatos. O primeiro é sobre o incidente do ícones pagãos já contado por Filo de Alexandria e o outro é sobre a revolta provocada pelo uso do dinheiro do Templo para o pagamento de um aqueduto. 

Josefo não fala nada sobre Jesus da Nazaré, mas refere um Jesus da Galileia, ben Sapphias, que era líder de pescadores e mendigos; e um Jesus cuja história se desenrola em Jerusalém, chamado ben Ananias, que profetizou a destruição de Jerusalém e foi preso e julgado.


Por volta de 80, um desconhecido escreve o primeiro evangelho. Mais tarde esse evangelho viria a ser conhecido por "Evangelho segundo Marcos" 

Parece que o autor se propôs a escrever uma história de um homem que morrera há 50 anos e ninguém conheceu no seu tempo. Esse homem seria uma alegorização do Cristo incompreendido e sofredor.


A palavra grega εὐάγγελος (evangelho) vem provavelmente de εὐ- (bom, boa) mais ἄγγελος (anjo, mensageiro). Significaria um portador de boas notícias, um bom mensageiro ou mesmo uma boa notícia.

Paulo usa a palavra "Evangelho" na sua carta aos Romanos para referir os evangelhos de Deus, de Jesus e dele próprio. 

O autor do evangelho de Marcos, seria de Roma e leu a carta de Paulo?


O evangelho segundo Marcos é um texto escrito na perspectiva de um narrador omnisciente. O narrador omnisciente é o narrador em terceira pessoa que sabe tudo sobre a história que conta, inclusive sobre o mundo interior das personagens, revelando seus pensamentos e emoções mais profundas.

Isto é típico de uma obra de ficção!


Jesus era "Nazareno" ou era "da Nazaré"? "Nazareno" estará relacionado com "voto nazireu"? 

Em Marcos, a designação "Nazaré" é usada apenas uma vez (terá sido uma inserção posterior?) enquanto o adjectivo "nazareno" é usado quatro vezes. 

Em Marcos é dito que a morada de Jesus era em Cafarnaum 

O Antigo Testamento refere uma consagração religiosa chamada de voto "nazireu" - este voto poderia ser por tempo limitado ou por toda a vida;

As descrições que os evangelhos fazem de João Baptista são semelhantes às descrições dos nazireus do Antigo Testamento, sendo provável que este fosse nazireu;

Em Marcos Jesus está relacionado com João Baptista (e até é declarado que o povo pensava que Jesus era João Baptista).


Jesus é descrito como uma reaparição de João Baptista: 

- João Baptista prega; Jesus começa a pregar depois de João ser preso; 

- João Baptista foi preso e executado; Jesus também; 

- Herodes Antipas admirava João Baptista, Pilatos ficou bem impressionado com Jesus; 

- Quando Herodes Antipas ouviu falar de Jesus pensou que este era João Baptista ressuscitado; 

- Quando Jesus perguntou quem pensavam que ele era; responderam que o povo pensava que ele era João Baptista;

- Herodes decapita João sob pressão dos seus convidados; Pilatos crucificou Jesus sob pressão da multidão; 

- Os discípulos de João Baptista sepultam-no num túmulo; José de Arimateia sepulta Jesus;


Marcos contém um suposto episódio da vida de Pilatos que é sobre o julgamento e crucificação de Jesus Nazareno, por este pretender ser Rei dos Judeus ou Cristo. Mas já vimos que o evangelho de Marcos tem marcas profundas de ficção.


No ano 95, Josefo publica a sua obra “Antiguidades Judaicas” em 20 volumes que seria uma grande expansão da sua “Guerra dos Judeus”

Este texto de Josefo contém quatro episódios sobre Pilatos. Dois já referidos em “Guerra dos Judeus”, um que será uma falsificação, ou – na melhor das hipóteses – Josefo terá tido a narrativa ficcional de Marcos como fonte, e, finalmente, sobre o incidente com os samaritanos que originou a demissão de Pilatos.


Por volta do ano 100, um desconhecido escreve um texto com o título "Livro da geração de Jesus". Mais tarde esse texto viria a ser conhecido por "Evangelho segundo Mateus" 

Parece que o autor de propôs a pegar no evangelho de Marcos, e acrescentar uma genealogia real, uma natividade miraculosa com fecundação virginal e uma narrativa pós-ressureição. 

Para além disso o autor sublinha que a salvação é apenas para aqueles que observam as leis judaicas.


O autor de Mateus também quer mostrar porque é que Jesus era chamado de Nazareno - uma coisa que fica por explicar no evangelho de Marcos. Então a teoria deste autor é que Jesus foi morar numa localidade chamada Nazaré.


O Evangelho Segundo Mateus tem semelhanças com o escrito "Sepher Toldoth Yeshu": 

- A frase de abertura, que provavelmente seria o título original, é "Livro da geração de Jesus" que é o mesmo que "Sepher Toldoth Yeshu"

- No Sepher Toldoth Yeshu, Jesus ben Pandera é referido claramente como filho de uma adúltera; no evangelho de Mateus, José pensou em abandonar Maria ao saber que ela estava grávida

- O evangelho de Mateus, ao descrever a linhagem real de Jesus, refere várias mulheres – Tamar, Rute, Raabe e Batseba – que estiveram envolvidas em episódios moralmente questionáveis à luz dos critérios morais judaicos.


Inácio de Antioquia, na sua carta aos Esmirniotas, por volta do ano 110, revela preocupação com os docetistas, isto é, os cristãos que não criam que o Filho de Deus tinha encarnado num homem. 

Repare-se que os docetistas eram cristãos, tal como Inácio. A diferença é que defendiam outra doutrina sobre Cristo. A contenda era que Inácio defendia o Cristo-Homem, enquanto os docetistas criam num Cristo que apenas apareceu e revelou-se com aparência humana. 

Mas em nenhum momento, Inácio diz que Jesus teria nascido ou vivido na Nazaré. O argumento dele é apenas de que Cristo tinha sido uma criatura celestial que a dada altura teve um corpo humano. 

Se no tempo de Inácio, havia cristãos que não criam que o Cristo se tinha tornado homem, é difícil crer que a figura de Jesus da Nazaré tenha dado origem ao Cristo. A hipótese mais plausível é que o Jesus Cristo deu origem à figura de Jesus da Nazaré.


Em 112, Plínio, o jovem, escreve uma carta a Trajano indicando não saber bem o que fazer aos cristãos da Bitínia. 

Plinio diz que nunca participou em qualquer inquérito envolvendo cristãos. 

Como é que é possível que um homem com um currículum tão extenso, ligado a quase todas as instituições da administração romana, não soubesse nada sobre processos contra cristãos? 

Nem sequer sabia sobre a condenação que Nero fez aos Cristãos por causa do incêndio de Roma do ano 64? Nem sequer isso?

É obvio que neste tempo de Plínio, no ano 112, os cristãos ainda não eram suficientemente conhecidos ou relevantes.


Em 116, Tácito publica a sua obra "Anais" sobre a história de Roma entre o tempo de Tibério e Nero. 

O episódio sobre Pilatos ter crucificado um homem chamado Cristo é uma provavel falsificação ou, na melhor das hipóteses resultado de Tacito ter usado o evangelho de Marcos como fonte histórica.


Entre 115 e 117 dá-se a Guerra de Kitos. As comunidade judaicas de Chipre e da Cirenaica entram em guerra para tomar o poder. A revolta é resolvida pelo general Lúcios Quietus conhecido como Kitos. Esta guerra foi mais um duro golpe para os judeus de todo o império.


Em 132, inicia-se uma nova revolta dos Judeus em Jerusalém. Simão bar Kochba alega ser Messias e torna-se lider da revolta.

Em 135 a revolta foi esmagada pelos romanos. As consequências da Revolta de Bar Kokhba foram, em última análise, muito mais destrutivas e devastadoras para a história judaica do que até mesmo a queda de Jerusalém do ano 70.


Em 140, Marcion mudou-se de Sinope, sua terra natal, para Roma. Lá desenvolveu a sua teologia. 

Na sua teologia havia o Deus Pai que era perfeito e o deu Yahweh dos judeus que criou o mundo imperfeito.

Desta premissa seguia-se que Jesus nunca se fez carne imperfeita, mas apenas se mostrou com aparência humana.


Mais tarde, Ireneu de Lyon diria no seu livro "Contra Heresias": 

"Marcion mutilou o Evangelho segundo Lucas, descartando tudo o que está escrito sobre o nascimento do Senhor e descartando todos os discursos do Senhor contendo ensinamentos em que está claramente escrito que o Senhor confessou seu pai como o criador do universo."


Tertuliano em "Contra Marcion" diria mais ou menos isto: 

"Mas como é que Jesus aparecia? Como é que descia do Céu se ninguém o viu descer? Para ele aparecer, vindo do céu, tinha de ser visto durante a sua descida!"


É possível que o Evangelho de Lucas tenha surgido a partir de uma expansão do "Evangelho do Senhor" da comunidade de seguidores de Marcion de Sinope. Este evangelho era também conhecido como "Evangelho de Marcion".

Ireneu de Lyon disse que Marcion "mutilou" o Evangelho de Lucas, mas isto pode ser uma inversão dos factos reais. É muito provável que a atual redacção do Evangelho de Lucas seja posterior ao Evangelho de Marcion. 

Tertuliano, cerca do ano 200 EC, em "Contra Marcion" comenta o Evangelho de Marcion e mostra desconhecer a versão do nascimento de Jesus que está descrita no atual Evangelho de Lucas.


Marcion defendia uma doutrina em que o Deus-Pai, revelado por Cristo ao apóstolo Paulo, era o ser supremo do mundo espiritual. Este Deus-Pai era perfeito e consequentemente não deveria ter qualquer relação com o mundo físico imperfeito. 

Por outro lado o deus que os judeus erradamente adoravam, Yahweh, foi o demiurgo responsável pela criação do mundo imperfeito – um mundo cheio de sofrimento.


Depois de Marcion, a igreja de Roma tomou outro rumo e decidiu suprimir todos os ensinamentos de Marcion. 

Assim, os fundadores da Igreja Católica decidiram tornar obrigatório crer que o Deus-Pai é o Criador do mundo, colocando estas palavras no Credo Niceno em 325 EC: 

“Cremos em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, criador de todas as coisas, visíveis e invisíveis.”


Justino, apologista cristão do II século, seria confrontado com os seus opositores e críticos com a acusação de que o cristianismo era uma cópia dos mitos gregos e romanos. 

Para explicar este fenómeno, Justino diz que o Diabo, muitos séculos antes, tendo conhecimento das profecias sobre o Cristo, adiantou-se e enviou demónios disfarçados de Deuses que se mostraram aos egípcios, aos gregos, aos romanos e a todo o mundo "pagão" - tudo o que o Cristo iria fazer mais tarde, o Diabo tentou fazer antes.

Justino inventou assim o plágio por antecipação - o Diabo imitou Cristo antes do próprio Cristo aparecer.


Por volta do ano 180, Celso escreve no seu livro "Verdadeira Palavra" (simulando um hipotético diálogo com Jesus)

"Tu, senhor, inventaste o teu nascimento de uma virgem!...Mas quando tua mãe estava grávida, foi expulsa pelo carpinteiro a quem tinha sido desposada, como condenada de adultério, e ela carregou uma criança de um certo soldado chamado Panthera."


Orígenes escreveu assim no seu livro "Contra Celsus": 

"Era de esperar, de facto, que aqueles que não acreditassem no nascimento milagroso de Jesus inventariam alguma falsidade. E eles não fazem isso de maneira credível, mas preservam o facto de que não foi por José que a Virgem concebeu Jesus, tornando a falsidade muito palpável para aqueles que podem entender e detetar tais invenções."


Ireneu no seu livro "Contra Heresias" tem uma explicação estranha para justificar a existencia de quatro evangelhos : "... porque existem quatro direcções no mundo, quatro ventos, quatro criaturas..." Ireneu é o primeiro a dar o nome aos quatro evangelhos canónicos: Mateus, Marcos, Lucas e João.


Por volta de 200, Tertuliano ainda não sabe que o evangelho de Lucas estabeleceu a data de nascimento de Jesus no tempo do censo Quirino em 6 da era comum. 

Tertuliano diz no seu livro “Contra Marcion” que Jesus nasceu num censo de Saturnino que foi governador da Síria entre 9 e 7 antes da era comum. Uma diferença de cerca de 15 anos.


Por volta de 250 EC, Orígenes escreve no seu livro “Homilias sobre Lucas” acerca de vários homens que foram considerados Cristo: João Baptista, Judas da Galileia e Dositeu fundador de uma seita de Samaritanos.

Orígenes escreveu isto no contexto de que o apóstolo Paulo manifestou o receio de ele mesmo também ser apontado como Cristo.


Na sua extensa obra “História Eclesiástica”, escrita por volta de 320, Eusébio de Cesareia nunca relaciona Jesus com Nazaré.

Aliás nem sequer refere Nazaré, apesar de citar o evangelho de Mateus sobre o nascimento de Jesus. E este evangelho diz que José levou a família para Nazaré após salvar Jesus do infanticídio ordenado por Herodes. 

Ora Eusébio viveu grande parte da sua vida na Palestina - era de Cesareia Marítima, a uns 50 km da Nazaré. Ele poderia ter algo a comentar sobre o local de Jesus da Nazaré, não? Isto, claro, se existiu Jesus da Nazaré.


O texto aprovado em 19 de Junho de 325, no concílio cristão, realizado em Nicéia, marca o surgimento da Igreja Católica.

Este texto, chamado de credo, deveria ser recitado por todos os que queriam se mostrar fiéis à doutrina católica, universal (ou standardizada) 

É de notar que nesta primeira versão do Credo Niceno, Jesus é retratado como um ser divino que desceu dos céus, vestiu uma pele de homem, foi crucificado e retornou ao céu. É um ser com uma ligação muito ténue com o mundo físico, desligado da história dos homens. 

Neste credo não há nada relativo a Jesus de Nazaré, carpinteiro, pregador, amigo de pescadores, de pecadores e de cobradores de impostos...


Em 381 EC, fez-se uma revisão do Credo no Primeiro Concílio de Constantinopla: 

É de sublinhar a referência à Virgem Maria nesta revisão do Credo Niceno. Obviamente uma referência para indicar que Jesus nasceu de uma mulher - e não encarnou como homem adulto. 

E note-se na introdução da expressão "foi crucificado sob Pôncio Pilatos". Estamos a testemunhar o momento em que a Igreja a introduz no credo a historicidade de Jesus da Nazaré! Ou seja, crer que Jesus é uma personagem histórica tal como Pôncio Pilatos passou a fazer parte do dogma.


A conclusão é muito simples: se Jesus da Nazaré existiu então contribuiu muito pouco para a construção da personagem de Jesus Cristo. 

Então, por agora, é tudo. No próximo vídeo falaremos mais detalhe dos séculos III e IV. Para mais informações leia no blog "Quem escreveu torto por linhas direitas".


Um comentário:

  1. Curioso fatos históricos mostra a morte dos apóstolos por martírio…porque ?

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