segunda-feira, 26 de junho de 2017

Zoroastro - Revelação de Ahura Mazda




Ahura Mazda, ou Spenta Mainyu

Ahura Mazda, cujo nome significa "Senhor Sábio", era um deus importante na antiga mitologia persa, originalmente chamado Spenta Mainyu.

Existem evidências do culto generalizado a Ahura Mazda por volta de 600 a.C.. Os persas consideraram que ele era o criador da terra, dos céus e da humanidade, bem como a fonte de toda bondade e felicidade na terra.

A religião conhecida como zoroastrismo na Pérsia adoptou Ahura Mazda como o deus supremo. Esta foi, provavelmente, uma época de consolidação de crenças e religiões. A consolidação de várias religiões persas levou à crença num deus supremo. Foi a criação do monoteísmo.

Ahura Mazda aparece em arte e textos persas como um homem com barba vestindo um manto coberto de estrelas. Habitando lá alto no céu, ele tinha o sol como o seu olho. Na religião zoroastriana, Ahura Mazda estava associado à luz e ao fogo, aos símbolos da verdade, do bem e da sabedoria. Ele criou seis seres divinos, ou anjos, para ajudá-lo a espalhar o bem e governar o universo. Um dos anjos mais importantes foi Ahsa Vahishta ("Excelente Ordem" ou "Verdade"), patrono do fogo e espírito de justiça. Vohu Manah ("Boa Mente") era um símbolo de amor e sabedoria sagrada que acolhia almas para o paraíso.

A criação de um Deus todo-poderoso e benevolente deixa de lado uma importante questão: qual é a fonte do mal e do sofrimento? Esta questão, designada por "teodiceia", é um grande incómodo nos monoteísmos.

Os zoroastrianos tinham, inicialmente, um sistema dualista de crença em que duas forças opostas e iguais - boas e más - lutavam pelo controle do mundo. Ahura Mazda representava a luz, a verdade e o bem. O seu grande inimigo era Ahriman, o deus das trevas, da ira e da morte. Ao consolidar o monoteísmo, os zoroastrianos consideraram Ahura Mazda como a força mais poderosa, que inevitavelmente triunfaria sobre Ahriman.

Ahriman, ou Angra Mainyu

Ahriman era o deus do mal e da escuridão na mitologia persa e no zoroastrismo. Muitas vezes chamado de Druj ("a Mentira"), Ahriman era a força por trás da raiva, ganância, inveja e outras emoções negativas e prejudiciais. Ele também trouxe o caos, a morte, a doença e outros males no mundo. Na religião islâmica, ele é identificado com Iblis, o diabo.

Originalmente, Ahriman era o deus persa Angra Mainyu, um espírito destrutivo cujo irmão gémeo, Spenta Mainyu, era um espírito benevolente. Os seres humanos e os deuses tinham que escolher qual espírito deveriam servir. À medida que a religião zoroastrista se desenvolveu, Angra Mainyu tornou-se Ahriman, e Spenta Mainyu transformou-se em Ahura Mazda, o "Senhor Sábio". A história do mundo foi vista como uma luta entre essas duas forças. Ahura Mazda teve o apoio dos yazatas (anjos), enquanto Ahriman criou uma série de demónios chamados daevas para espalhar sua influência do mal, atraindo a inveja, ganância e desejo de poder dos seres humanos.

O combate entre o Bem e o Mal

A mitologia declara um período de 12.000 anos de combate.

Ahriman, em dado momento terá decidido atacar, mas Ahura Mazda consegue detê-lo durante 3.000 anos, simplesmente cantando uns hinos (Gâthas) semelhantes ao Pai Nosso do cristianismo.

Durante o tempo em que Ahriman se encontrava preso, Ahura Mazda desenvolve um plano para vencer. Cria sete arcanjos e, com estes, cria uns espíritos inferiores como sendo protótipos celestiais dos seres humanos. A estes últimos ele pergunta: "Tenho um grande conflito a começar, vocês podem ajudar-me assumindo uma forma carnal no mundo material?". Eles concordam e assim nasce a humanidade no mundo material cujo objectivo é ajudar Ahura Mazda no combate a Ahriman.

Quando Ahriman acorda, ele foge do subterrâneo e cria a Casa da Mentira, uma espécie de inferno.

Zoroastro, ou Zaratustra

Pouco se sabe sobre a vida de Zaratustra. Por exemplo, é incerto quando ele viveu. Os gregos antigos especularam que ele viveu seis mil anos antes do filósofo Platão e vários académicos dataram-no no início do século VI a.C. Outros académicos aceitam que Zaratustra é o autor dos Gâthas (uma parte do livro sagrado dos zoroastrianos, Avesta), que eles datam, em termos linguísticos, no século XIV ou XIII a.C.

Também não é claro onde Zaratustra nasceu e onde passou a primeira metade de sua vida. Todas as tribos que se converteram ao zoroastrismo inventaram lendas sobre a vida do profeta, e quase todos alegaram que o grande mestre era "um deles". Por motivos linguísticos, podemos argumentar que o autor dos Gâthas pertencia a uma tribo que vivia na parte oriental do Irão, no Afeganistão ou no Turquemenistão.

Os textos dos Gâthas não são de grande ajuda na busca pela biografia de Zaratruta. Contêm algumas informações sobre Zaratustra, mas dificilmente são dados biográficos, enquadrando-se no campo da mitologia. O Denkard, um texto em lingua Avéstica, mas muito tardio (século IX d.C.), contém um resumo de uma biografia supostamente mais antiga. Contém muitas lendas e a confiabilidade não parece muito grande. Combinando algumas narrativas obtemos o seguinte:

Zaratustra nasceu na Bactria (ou qualquer outro território ariano) como filho de um nobre não muito poderoso chamado Purushaspa e uma mulher chamada Dughdhova. Zaratustra foi o terceiro de cinco irmãos. Ele se tornou um sacerdote e parece ter demonstrado uma dedicação notável a humanos e gado. A família é chamada de Spitama, que é um título honorário que significa "mais benéfico". 
Ao nascer, Zaratustra não chorou, pelo contrário, riu sonoramente. As parteiras, vendo aquilo, admiraram-se, pois nunca tinham visto um bebé rir ao nascer.
Na vila havia um sacerdote que percebeu que aquele menino viria a ser um revolucionário do pensamento humano e que enfraqueceria o poder dos "donos" das religiões. Ele então decidiu tomar providências e procurou Pourushaspa, o pai de Zaratustra, com a seguinte conversa: "Pourushaspa Spitama, vim avisá-lo. O seu filho é um mau sinal para a nossa vila porque riu ao nascer. Ele tem um demónio. Mate-o ou os deuses destruirão os seus cavalos e plantações. Onde já se viu rir ao nascer nesse mundo triste e escuro! Os deuses estão furiosos!". 
Pourushaspa não queria matar o seu filho, mas o sacerdote insistiu. 
Na manhã seguinte Pourushaspa fez uma grande fogueira, e à frente de todos colocou Zaratustra no meio do fogo, mas ele não sofreu dano algum. O sacerdote ficou confuso. 
Zaratustra foi levado então para um vale estreito e colocado no caminho de uma boiada de mil cabeças de gado, para ser pisoteado. O primeiro boi da boiada percebeu o menino e ficou parado sobre ele, protegendo-o, enquanto o resto passava ao lado e o bebé não sofreu um só arranhão. 
O sacerdote logo arquitectou outro plano. O menino Zaratustra foi colocado na toca de uma loba que, ao invés de devorá-lo, cuidou dele até que Dughdhova, sua mãe, o veio buscar. 
Diante de tantos prodígios o sacerdote ficou envergonhado e mudou-se da vila. 
Ao crescer, Zaratustra peramburalava pelas estepes indagando-se: "Quem fez o sol e as estrelas do céu? Quem criou as águas e as plantas? E quem faz a lua crescer e minguar? Quem implantou nas pessoas a sua natural bondade e justiça?". 
Zaratustra viveu, até aos trinta anos, quase sempre isolado, habitando no alto de uma montanha, em cavernas sagradas. Não ingeria nenhum alimento de origem animal. 
Um dia, quando tinha trinta anos, Zaratustra meditava nas margens de um rio quando um ser estranho lhe apareceu. Ele era indescritível, tal a sua beleza e brilho. Zaratustra perguntou-lhe quem era ele, ao que teve como resposta: "Sou Vohu Mano, a Boa Mente. Vim buscar-te". E tomou-lhe a mão, e o levou para um lugar muito bonito, onde sete outros seres os esperavam. 
A Boa Mente disse-lhe então: "Zaratustra, se tu quiseres podes encontrar em ti mesmo todas as respostas que tanto buscas, e também questões mais interessantes ainda. Ahura Mazda, Deus que tudo cria e sustenta, assim escolheu partilhar a sua divindade com os seres que cria. Agora, sabendo disso, tu podes anunciar essa mensagem libertadora a todas as pessoas.” 
Zaratustra contestou: "Por que eu? Não sou poderoso e nem tenho recursos!". Os outros seres responderam em coro: "Tu tens tudo o que precisas, o que todos igualmente têm: Bons pensamentos, boas palavras e boas ações".
Entretanto, aparece-lhe um demónio de Ahriman que o tenta demover.  
Zaratustra voltou para casa e contou a todos o que lhe acontecera, e começou a pregar que havia um deus supremo, o "sábio senhor" Ahura Mazda, que criou o mundo, a humanidade e todas as coisas boas nele através de seu espírito sagrado, Spenta Mainyu. O resto do universo foi criado por outros seis espíritos, os Amesha Spentas ("imortais sagrados"). No entanto, a ordem desta criação sete vezes foi ameaçada pela mentira; Os espíritos bons e malignos estavam lutando e a humanidade teve que suportar os bons espíritos, a fim de acelerar a inevitável vitória do bem.
A sua família aceitou o que ele havia descoberto. Mas os sacerdotes o rejeitaram argumentando: "Se é assim nada há de especial em nosso serviço. De nada valem os nossos sacrifícios e perderemos o poder que nos dão os deuses ciumentos e caprichosos que servimos. Ficamos sem trabalho e passaremos fome!". Decidiram, então, dar cabo da vida de Zaratustra. 
Com sua boa mente ele entendeu que tinha que sair dali por uns tempos. Chamou seus vinte e dois companheiros e companheiras de primeira hora e fugiram com tudo o que tinham. Eles viajaram durante várias semanas até chegarem a um lugar cujo governante chamava-se Histaspes. Zaratustra procurou Histaspes e partilhou com ele a sua descoberta. 
Histaspes respondeu ao seu apelo com uma recusa: "Por que haveria de crer nesse estranho? Meus deuses são, com certeza, mais poderosos que esse Ahura Mazda!".
Após dois anos tentando convencer Histaspes, e enfrentando a mais cruel oposição, passando, inclusive, um tempo preso, um acidente com o cavalo de Histaspes ajudou a resolver a favor de Zaratustra esse impasse. À beira de morte, o cavalo tornou-se o centro de todas as atenções. Histaspes chamou sacerdotes, feiticeiros, médicos e sábios para salvar o seu cavalo. Juntos eles tentaram de tudo, inclusive oferecendo aos deuses dezenas de sacrifícios de outros cavalos. Além disso, brigaram entre si, fizeram intrigas, mas nada aconteceu, o cavalo de Histaspes só piorava. Zaratustra, que fora criado num ambiente rural, logo percebeu que ele fora envenenado. Procurando Histaspes ele sugeriu um remédio muito usado nesses casos na sua terra. Sem alternativas, embora descrente, Histaspes aceitou a ideia de Zaratustra e em dois dias seu cavalo estava de pé, sem sinal da doença. 
Todos ficaram pasmados e acharam que Zaratustra tinha operado um milagre. Ele respondeu que havia apenas usado a sua boa mente e os conhecimentos que tinha adquirido em casa. Histaspes e sua família ficaram encantados com a honestidade e simplicidade de Zaratustra, e dispuseram-se a ouvi-lo de novo, dessa vez com coração e mentes desarmados. Em pouco tempo não só Histaspes e sua família haviam sido iniciados, como também grande parte de seu povo. 
Embora Zaratustra pudesse ter usado a ocasião da cura do cavalo de Histaspes para arrogar-se poderes sobrenaturais, ele preferiu ser sincero, e foi isso o que de facto mostrou a Histaspes a sublime beleza e profundidade da mensagem.
Muitos nobres seguiram o exemplo de Histaspes para se converterem à nova religião de Zaratustra. 
Zaratustra morou na corte de Histaspes, até ser morto aos setenta e sete anos por invasores nómadas. Alguns localizam sua morte em Bactra (Afeganistão).


Conclusões

Quanto à dualidade Ahura Mazda / Ahriman, encontramos a mesma situação no judaísmo e cristianismo com a dualidade Deus / Satanás.

Quanto a paralelos entre Zoroastro e Jesus Cristo:
 - Foi ameaçado com a morte quando era bebé (Mateus 2:16-18)
 - Tornou-se uma figura pública aos trinta anos (Lucas 3:23)
 - Um espírito aparece-lhe quando se encontrava num rio (Marcos 1:9-11)
 - Foi tentado por um demónio (Marcos 1:12-13)
 - Tinha quatro irmãos (Marcos 6:3)


Ver também:
 - Ciro da Pérsia - O Direito das Nações
 - Os persas devolvem autonomia aos judeus


Referências:
 - http://www.livius.org/articles/person/zarathustra/
 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Zaratustra
 - http://www.ancient.eu/zoroaster/
 - http://www.avesta.org/denkard/denkard.htm


segunda-feira, 5 de junho de 2017

Século II - Celsus - Contra o Cristianismo





De acordo com Orígenes (considerado um dos pais fundadores da Igreja), Celsus (Celso) era um filósofo grego do século II (do tempo do imperador Adriano e posterior) e oponente do cristianismo primitivo. Celsus seria bastante conhecido pela sua obra literária, "A Verdadeira Palavra" (ou "Verdadeiro Discurso"), que sobreviveu exclusivamente nas citações de Orígenes dele em "Contra Celsum".

Como filósofo grego anti-cristão, Celsus montou um ataque ao cristianismo. O seu trabalho escrito, que pode ser datado de cerca de 178 EC, é o primeiro ataque abrangente conhecido ao cristianismo.

Orígenes escreveu a sua refutação ou apologia cristã por volta de 248 EC, portanto cerca de 70 anos depois de Celsus. O facto de Orígenes ter investido num extenso texto (muitos volumes) para refutar o trabalho de Celsus, revela que este ainda seria muito importante no tempo de Orígenes.

Recapitulando:
 - por volta de 178 EC, Celsus escreveu "A Verdadeira Palavra" para combater ou denunciar o cristianismo
 - por volta de 248 EC, Orígenes escreveu "Contra Celsus" para refutar o trabalho de Celsus

Entretanto o trabalho de Celsus foi perdido (muito provavelmente por ser uma obra anti-cristianismo), mas pode ser reconstituído, pelo menos parcialmente, a partir do texto de Orígenes. A refutação "Contra Celsus" contém o texto original de Celsus, entrelaçado com as respostas apologéticas de Orígenes. O trabalho de Orígenes sobreviveu e, assim, preservou o texto de Celsus com ele.

O que Celsus sabia sobre o cristianismo seria através de literatura cristã - provavelmente versões primitivas dos evangelhos, principalmente do "Evangelho de Mateus" - e através de literatura judaica que satirizaria os evangelhos, provavelmente o "Sepher Toldoth Yeshu" (a história de Jesus ben Pandera).

Celsus começaria assim o seu ataque ao cristianismo:
Celsus, "A Verdadeira Palavra", reconstrução a partir de Orígenes
As associações, algumas são públicas e de acordo com as leis. Outras, porém, são secretas e ilegais. Deste último tipo é o cristianismo. Os cristãos ensinam e praticam suas doutrinas favoritas em segredo. Eles fazem isso com algum propósito, procurando escapar da pena da morte que é iminente. Perigos semelhantes foram encontrados por homens como Sócrates por causa da filosofia. Suas "festas de amor" tiveram sua origem no perigo comum, e são mais vinculativas do que qualquer juramento. 
O sistema de doutrina, a saber, o judaísmo, do qual o cristianismo depende, era bárbaro na sua origem. Neste caso, como nos outros, os gregos são mais habilidosos do que qualquer outro povo em julgar, estabelecer e tornar práticas as descobertas de nações bárbaras. 
Seu sistema de moral é comum a outros filósofos, sem nada de novo ou venerável na sua instrução, embora eles achem que as suas regulamentações a respeito da idolatria sejam peculiares. Os cristãos não consideram os deuses que são feitos com as mãos, com o argumento de que não é razoável supor que as imagens, formadas pelos mais inúteis e depravados operários, em muitos casos pagos por homens perversos, possam ser consideradas deuses. Esta é uma opinião comum que não é original no cristianismo, pois já Heráclito teria dito para este efeito: "Aqueles que se aproximam de imagens sem vida, como se fossem deuses, agem de maneira semelhante àqueles que conversam com casas". Os persas também eram da mesma opinião, segundo Heródoto.


Celsus mostra-se familiarizado com o judaísmo. Utiliza um artifício literário em que elabora um diálogo fictício entre um judeu anónimo e Jesus:
Celsus, "A Verdadeira Palavra", reconstrução a partir de Orígenes
[O Discurso do Judeu a Jesus]
"Tu, senhor, inventaste o teu nascimento de uma virgem! Tu, Jesus, nasceste numa certa aldeia judaica, de uma pobre mulher do país, que ganhava a sua subsistência na fiação. Quando ela estava grávida, foi expulsa pelo carpinteiro a quem tinha sido desposada, como condenada de adultério, e ela carregou uma criança de um certo soldado chamado Panthera. Depois de ter sido repudiada pelo marido, e vagando por um tempo, ela desgraçadamente deu à luz Jesus, que, criado como filho ilegítimo, se fez servo no Egipto por causa da sua pobreza, e tendo adquirido o conhecimento de certos poderes milagrosos, sobre os quais os egípcios se orgulham muito, retornou ao seu próprio país, exaltado por causa deles, e por meio desses poderes se proclamou um deus. 
"Como é que a ficção de seu nascimento de uma virgem difere das fábulas gregas sobre Danae, Melanippe, Auge e Antiope? Se a mãe de Jesus fosse bela, o deus cuja natureza não ama um corpo corruptível, teve relações sexuais com ela porque era bela. Era improvável que o deus tivesse uma paixão por ela, porque ela não era nem rica nem de posição real, pois nem mesmo os seus vizinhos a conheciam. Quando odiada pelo seu marido, e expulsa, não foi salva pelo poder divino, nem era a sua história credível. Tais coisas não têm conexão com o reino dos céus. A predição de que nosso Senhor deveria vir ao mundo, e o relato da estrela e dos sábios que vieram do Oriente para adorar a criança são ficções [Mateus 2:1]. 
"Quando tu, Jesus, te banhavas ao lado de João, disseste que o que tinha a aparência de um pássaro desceu sobre ti [Mateus 3:16]. Que testemunha credível viu essa aparição? Ou quem ouviu uma voz do céu declarando que eras o filho de Deus? Que prova há, salvo tua própria afirmação ou a afirmação de outra pessoa que foi punida junto contigo? Este é o teu próprio testemunho, apenas apoiado pelos que compartilhavam a tua punição, a quem tu adotas.


Orígenes teria escrito assim sobre o caso do soldado Panthera:
Orígenes, "Contra Celsus", Livro I 
CAP. XXVIII 
E, imitando um retórico treinando um aluno, ele [Celsus] apresenta um judeu, que entra numa discussão pessoal com Jesus e que fala de uma maneira muito infantil, completamente indigno dos cabelos grisalhos de um filósofo. Deixe-me tentar o melhor da minha capacidade para examinar as suas afirmações e mostrar que ele não mantém, durante a discussão, a consistência do carácter de um judeu. Pois ele o representa disputando com Jesus, e confundindo-o, como ele pensa, em muitos pontos.  
Em primeiro lugar, ele o acusa de ter "inventado seu nascimento de uma virgem" e o reprova de "nascer numa certa aldeia judaica, de uma pobre mulher do país, que ganhou sua subsistência na fiação e que foi repudiada pelo seu marido, um carpinteiro de profissão, porque ela foi condenada por adultério, que, depois de ser expulsa pelo marido, e vagando por um tempo, ela desgraçadamente deu à luz Jesus, um filho ilegítimo, que se tornou servo no Egipto por causa de sua pobreza, e tendo adquirido alguns poderes milagrosos, dos quais os egípcios se orgulham muito, voltou para o seu próprio país, muito entusiasmado por causa deles, e por isso se proclamou um deus".
Agora, como não posso permitir que nada que seja dito pelos incrédulos permaneça não examinado, mas deve-se investigar tudo desde o início, dou como minha opinião que todas essas coisas se harmonizam dignamente com as previsões de que Jesus é o Filho de Deus.
... 
CAP. XXXII 
Mas voltemos agora para quando o judeu é apresentado falando sobre a mãe de Jesus e dizendo que "quando ela estava grávida, ela foi repudiada pelo carpinteiro a quem ela tinha sido desposada, como culpada de adultério, e que ela carregou o filho de um soldado chamado Panthera". 
E deixe-nos ver se aqueles que têm cegamente inventado essas fábulas sobre o adultério da Virgem com Panthera e sua rejeição pelo carpinteiro, não inventaram essas histórias para depreciar sua milagrosa concepção pelo Espírito Santo: pois eles poderiam ter falsificado a história de uma maneira diferente, por causa de seu caráter extremamente milagroso, e não admitiram, por assim dizer, contra sua vontade, que Jesus não nasceu de nenhum casamento humano comum. Era de esperar, de facto, que aqueles que não acreditassem no nascimento milagroso de Jesus inventariam alguma falsidade. 
E eles não fazem isso de maneira credível, mas preservam o facto de que não foi por José que a Virgem concebeu Jesus, tornando a falsidade muito palpável para aqueles que podem entender e detectar tais invenções. 
É de todo razoável raciocinar, que aquele que ousou fazer tanto pela raça humana, para que, tanto gregos como bárbaros, que procuravam a condenação divina, poderiam afastar-se do mal, regulando toda a sua conduta de uma maneira agradável ao Criador do mundo, não deveria ter tido um nascimento milagroso, mas um mais vil e mais vergonhoso de todos?  
E eu perguntarei a eles como gregos, e particularmente a Celsus, se mantém ou não os sentimentos de Platão, ja que os cita, se Aquele que envia almas para dentro dos corpos dos homens [no nascimento], degradou assim aquele que ousou assim actos poderosos de ensinar tantos homens, e livrar tantos da maldade no mundo, até um nascimento mais vergonhoso do que qualquer outro, e não o apresentou ao mundo através de um casamento legal?  
Ou não está mais em conformidade com a razão, que toda alma que, por certas razões misteriosas (eu falo agora de acordo com a opinião de Pitágoras, Platão e Empédocles, a quem Celsus frequentemente cita), é introduzida num corpo e introduzida de acordo com os seus desejos e acções anteriores?  
É provável, portanto, que esta alma, também, que conferiu mais benefícios pela sua residência na carne do que a de muitos homens (para evitar alguma depreciação, não digo "todos"), precisava de um corpo não apenas superior a outros, mas investiram com todas as excelentes qualidades.


Podemos verificar a pobreza das respostas de Orígenes aos argumentos de Celsus em todo o texto de "Contra Celsus"...


Referências:
 - http://trisagionseraph.tripod.com/Texts/Celsus.html
 - http://www.earlychristianwritings.com/origen.html