quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Actos dos Apóstolos - O Pescador Flautista de Esopo





Vejamos mais um texto, desta vez uma passagem de Lucas cujo autor, não esqueçamos, tambem é, provavelmente, o autor de Actos:

Lucas 7:31-35 A que, pois, compararei os homens desta geração, e a que são semelhantes? São semelhantes aos meninos que, sentados nas praças, gritam uns para os outros: Tocamo-vos flauta, e não dançastes; cantamos lamentações, e não chorastes. Porquanto veio João, o Batista, não comendo pão nem bebendo vinho, e dizeis: Tem demônio; veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizeis: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores. Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos.


Também podemos encontrar esta passagem em Mateus, o que significa que a passagem já deveria constar no Evangelho Perdido Q. Nesta passagem podemos notar duas situações:
-          Jesus cita possivelmente uma frase de uma fábula de Êsopo, uma história infantil intitulada O Pescador Tocador de Flauta (“Tocamo-vos flauta, e não dançastes...”);
-          Jesus relata que “os homens desta geração” o chamam de “bebedor de vinho”, uma possível referência ao culto dionisíaco do vinho;

O Pescador Tocador de Flauta, de Êsopo
Um pescador apreciador de música pegou na sua flauta e nas suas redes e foi até à praia. Sentado numa rocha saliente tocou a flauta, na esperança de que os peixes iriam dançar para a sua rede. Vendo que eles continuavam dentro da água, o pescador pegou numa rede e arrastou um belo cardume para terra. Quando viu os peixes a saltar e a bater o rabo na areia, sorriu e disse:
- Ó perversas criaturas, toquei flauta e não dançaram, e agora que parei fazem-no alegremente!


A acrescentar ao facto de ter sido escrito em língua grega, temos aqui estas provas da influência da cultura grega no Novo Testamento, através de dois bem conhecidos autores da antiguidade, Êsopo e Eurípides.

Quanto ao facto de chamarem “bebedor de vinho”, Jesus não contesta o facto de ser bebedor de vinho mas contesta apenas o facto de lhe apontarem o dedo, como sugerindo que um homem pode ser “preso por ter cão e preso por não ter”. Parece que Jesus queria deixar claro que beber vinho era uma característica que o distinguia de João Baptista.



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