quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Lucas - Mulheres I




Lucas e as mulheres

O texto de Lucas é dominado por uma perspectiva muito feminina dos factos, quase como se tivesse sido composto para uma audiência feminina. É muito provável que “Lucas” estivesse habituado a escrever para mulheres (se “Lucas” fosse vivo actualmente, era bem capaz de rivalizar com o escritor Nicholas Sparks...). 

Em Lucas as mulheres são vistas de um ângulo muito favorável. Em algumas passagens são claramente superiores aos homens.

O autor de Lucas poderia, muito bem, até ser uma mulher. 


Mulher não comete adultério

Segundo Marcos, Jesus diz que a mulher e o homem estariam igualmente sujeitos à lei do casamento e poderiam, em igualdade, ter de responder por adultério por uma possível responsabilidade pelo rompimento do matrimónio.

Marcos
Mateus
Lucas
Marcos 10:11-12 Ao que lhes respondeu: Qualquer que repudiar sua mulher e casar com outra comete adultério contra ela; e se ela repudiar seu marido e casar com outro, comete adultério.
Mateus 5:32 Eu, porém, vos digo que todo aquele que repudia sua mulher, a não ser por causa de infidelidade, a faz adúltera; e quem casar com a repudiada, comete adultério.
Lucas 16:18 Todo aquele que repudia sua mulher e casa com outra, comete adultério; e quem casa com a que foi repudiada pelo marido, também comete adultério.


"Mateus", como escrevia para uma audiência judaica, teve de ultrapassar a questão de que, na lei dos judeus, a mulher não tinha poderes para repudiar o marido, por isso coloca o texto numa perspectiva em que a iniciativa do divórcio (ou separação) seria sempre do homem. No entanto, na primeira parte do texto, mantém a possibilidade de a mulher ter de responder por adultério.

Em Lucas, a culpa de adultério é imputada ao homem em qualquer dos casos apresentados: quer por repudiar a mulher e casar com outra quer por casar com uma mulher repudiada por outro homem.



Tudo menos os cabelos

Em caso de perseguição, onde poderiam morrer alguns, “Lucas” preocupa-se com a perda do cabelo!

Marcos
Mateus
Lucas
Marcos 13:12-13 Um irmão entregará à morte a seu irmão, e um pai a seu filho; e filhos se levantarão contra os pais e os matarão. E sereis odiados de todos por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.
Mateus 10:21-22 Um irmão entregará à morte a seu irmão, e um pai a seu filho; e filhos se levantarão contra os pais e os matarão. E sereis odiados de todos por causa do meu nome, mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.
Lucas 21:16-18 E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós; e sereis odiados de todos por causa do meu nome. Mas não se perderá um único cabelo da vossa cabeça.


“Lucas” estaria a dizer “poderão ser mortas, mas serão enterradas com um belo penteado”...! (ok, poderia ter outro significado, mas não deixa de ser embaraçosa a referência aos cabelos num cenário supostamente de grande angústia)



Maria é protagonista

Nos primeiros dois capítulos de Lucas, Maria protagoniza como mulher altamente emancipada, pois ela é que recebe a “Anunciação” do anjo e não necessita de consultar o noivo antes de aceitar a gravidez milagrosa nem para pedir consentimento para viajar. 
Lucas 1:26-39 Ora, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um varão cujo nome era José, da casa de David; e o nome da virgem era Maria. ... Disse-lhe então o anjo: Não temas, Maria; pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. ... Então Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, uma vez que não conheço varão? Respondeu-lhe o anjo: Virá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; ...  Disse então Maria. Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela. Naqueles dias levantou-se Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá, ...

Pouco depois do nascimento de Jesus, um ilustre chamado Simeão, dirige a palavra a Maria, embora José esteja presente. E o que Simeão diz não é nada que diga respeito apenas a Maria. 
Lucas 2:33-35 Enquanto isso, seu pai e sua mãe se admiravam das coisas que deles se diziam. E Simeão os abençoou, e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição, ...

Noutro episódio, quando Jesus tinha doze anos e os seus pais encontram-no após três dias de procura, Maria é que repreende o filho, e fala também em nome do marido:
Lucas 2:45-48 e não o achando, voltaram a Jerusalém em busca dele. E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, ... e disse-lhe sua mãe: Filho, por que procedeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu ansiosos te procurávamos.

Podemos concluir que Lucas retrata José como sendo uma personagem completamente insignificante quando, em Mateus, José é o condutor de todos os acontecimentos relativos ao nascimento de Jesus.



Outras mulheres protagonistas

Em Lucas, o papel das mulheres é realçado e, mais importante, as mulheres são colocadas lado-a-lado com os doze. 
Lucas 8:1-3 Logo depois disso, andava Jesus de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus; e iam com ele os doze, bem como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios. Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Susana, e muitas outras que os serviam com os seus bens.

Neste texto, “Lucas” detalha que Joana era uma mulher de alta posição social e que as mulheres davam suporte financeiro.



As tarefas domésticas

“Lucas” atira para segundo plano a importância das tarefas domésticas para as mulheres, num episódio em que Jesus visita as duas irmãs Marta e Maria. Neste episódio, Maria ficou a ouvir Jesus e não ajudou a sua irmã, desagradando-a, pois Marta se atarefava em muito serviço. 
Lucas 10:39-42 Tinha esta uma irmã chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra. Marta, porém, andava preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude. Respondeu-lhe o Senhor: Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas; entretanto poucas são necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada. 

Vemos que Jesus não só desculpou a atitude despreocupada de Maria, como até a louvou. Se “Lucas” seria uma mulher, então não deixou escapar esta oportunidade de pregar a emancipação da mulher face aos deveres domésticos.

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