domingo, 29 de janeiro de 2012

Os romanos na Palestina




Pompeu toma Jerusalém em 63 AEC

Existiram várias alianças diplomáticas entre os Asmoneus e a República de Roma desde Judas Macabeu, por volta de 164 AEC, e durante cerca de 100 anos.

Na sequência de disputas entre dois irmãos Asmoneus, Hircano II e Aristóbolo II, filhos de Alexandre Janeu, o general romano Pompeu invadiu vitoriosamente Jerusalém em 63 AEC e, consequentemente, subjugou toda a Judeia (território correspondente ao antigo Reino de Judá acrescido da parte sul do Reino de Israel). Colocou Hircano II como etnarca (um título inferior a rei) da Judeia mas, como responsável dos assuntos de estado, ficou Antipatro, um aristocrata idumeu (da Idumeia, região a sul da Judeia).


Marco António dá o trono a Herodes, em 40 AEC

Herodes, filho de Antipatro, mais tarde conseguiu ficar rei de um território de dimensões semelhantes às do reino Asmoneu, ficando conhecido pelos historiadores como Herodes o Grande para o distinguir de todos os outros Herodes que foram seus descendentes.

Herodes o Grande, pertencia a uma família de idumeus (da Idumeia, região a sul da Judeia) que mantinha boas relações com Roma. O seu pai, Antipatro, foi nomeado procurador da Judeia em 47 AEC mas morreu quatro anos mais tarde. Depois de alguma conturbação na região, Marco António, que na altura era um dos homens mais poderosos da República de Roma (no triunvirato Octaviano-António-Lépido, António ficou com o Egipto e o Oriente), deu a Herodes o título de Rei da Judeia em 40 AEC. Herodes conseguiu manter-se rei, mesmo quando Marco António foi derrotado por Octaviano (Augusto), e até mesmo alargar o seu reinado a uma grande parte da Palestina, mas sempre com a condição de prestar tributo a Roma. Para reforçar a sua legitimidade como monarca, Herodes casou-se com Mariamne, neta de Aristóbulo II. O seu reinado foi marcado por grandes obras de construção, incluindo importantes melhorias no Templo de Jerusalém.
As narrativas do Novo Testamento sobre o nascimento de Jesus enquadram-se por volta do tempo em que Herodes o Grande morreu, ou seja, por volta de 4 AEC (data da morte de Herodes, segundo uma boa parte dos historiadores).


Datas
Rei ou Governador
Descrição
63 a 40 AEC
Hircano II
Filho de Alexandre Janeu, da família dos Asmoneus. Etnarca, mas quem governava era Antipatro o Idumeu
47 a 44 AEC
Antipatro, o Idumeu
Procurador de Roma na Judeia, pai de Herodes o Grande
40 a 37 AEC
Antígono
Filho de Aristóbulo II (o irmão rival de Hircano II), neto de Alexandre Janeu.
37 a 4 AEC
Herodes o Grande
Rei da Judeia, Galileia, Samaria e outros territórios adjacentes


Nos evangelhos e noutros livros do Novo Testamento encontram-se referências a vários membros da dinastia de Herodes o Grande. O nome Herodes é utilizado como nome de família para identificar diversos descendentes de Herodes o Grande, embora estes tivessem os seus nomes próprios.

Com a morte de Herodes o Grande, o reino é dividido por três dos filhos:

Datas
Governador
Descrição
4 AEC a 6 EC
Arquelau
Etnarca de Judá, Samaria e Idumeia. Foi expulso em 6 EC. A Judeia passou a ser governada directamente por Roma a partir da Síria.
4 AEC a 39 EC
Herodes Antipas
Tetrarca (governador) da Galileia e Pereia. Prendeu e executou João Baptista.
4 AEC a 34 EC
Filipe
Tetrarca da Itureia, Traconitis e Gaulonitis (montes Golã)


Para além destes ainda há mais dois elementos da dinastia de Herodes no Novo Testamento: Agripa I e Agripa II, respectivamente neto e bisneto de Herodes o Grande, mas não são mencionados nos evangelhos. São apenas mencionados no livro Actos dos Apóstolos.


Roma expulsa Arquelau em 6 EC

Arquelau, filho de Herodes o Grande, ficou como etnarca da Judeia, Idumeia e Samaria. Devido à sua especial crueldade e incompetência como regente, acabou por ser expulso pelos próprios romanos em 6 EC, sendo substituído por governadores ou procuradores nomeados directamente por Roma. No Evangelho Segundo Mateus é referido que José e Maria evitaram regressar à Judeia (depois de um exílio no Egipto) porque tinham medo de Arquelau.

Quirinius, um senador romano, foi governador da Síria de 6 a 9 EC; o seu mandato como procurador de Roma teria sido extensível à Judeia, durante algum tempo. Ao tomar posse organizou um censo para facilitar a colecta de impostos, o que veio a atiçar muitas revoltas populares. Este censo aconteceu em 6 EC, e deu origem a uma revolta anti-romana organizada por um agitador chamado Judas Galileu.

O Evangelho Segundo Lucas diz que Maria ficou grávida durante o tempo de Herodes, ou seja, antes de 4 AEC, mas também diz que Jesus nasceu no tempo do recenseamento “mundial” decretado por César Augusto, quando Quirinius era governador da Síria, isto é, a partir de 6 EC. Para além de a data de nascimento de Jesus não confirmar o que é relatado no Evangelho Segundo Mateus, teríamos que crer que Maria esteve grávida durante 10 anos!

O autor “Lucas” (entre aspas, porque não sabemos o nome real do autor de Evangelho Segundo Lucas) só podia referir-se ao recenciamento organizado pelo governador Quirinius, quando a Judeia começou a ser governada directamente pelos romanos, após a expulsão do rei Arquelau, filho de Herodes.


Procuradores e governadores romanos

A partir de 6 EC, a Judeia, englobando a Idumeia e a Samaria, passou a ser governada por procuradores ou governadores romanos:

-          Quirinius, um senador romano, foi governador da Síria de 6 a 9 EC; o seu mandato como procurador de Roma teria sido extensível à Judeia, durante algum tempo. Ao tomar posse organizou um censo para facilitar a colecta de impostos, o que veio a atiçar muitas revoltas populares;

-          Poncius Pilatus foi governador da Judeia de 26 a 36 EC e parece que para alguns assuntos respondia ao legado da Síria (e ao respectivo procurador) em vez de directamente a Roma, o que leva a uma disputa histórica sobre se ele teria um mandato como procurador de Roma ou apenas como prefeito;

Datas
Judeia
Galileia

4 AEC

Arquelau, etnarca (4 AEC - 6 EC), filho de Herodes o Grande


Herodes Antipas, tetrarca (4 AEC - 39 EC), filho de Herodes o Grande

2

2 EC

4

6
Coponius, prefeito (6 - 9 EC)

8

10
Ambivulus, prefeito (9 - 12 EC)

12

14
Rufus, prefeito (12 - 15 EC)

16
Valerius Gratus, prefeito (15 - 26 EC)

18

20

22

24

26
Poncius Pilatus, prefeito (26 - 36 EC)

28

30

32

34

36
Marcellus, prefeito? (37 - 41 EC)
38
40
Agrippa I, rei ( 39-44 EC), neto de Herodes o Grande

42

44
Cuspius Fadus, prefeito (44 - 46? EC) 

46
Tiberius Alexandre, prefeito (46? - 48 EC), sobrinho de Filo de Alexandria
48
Cumanus, prefeito (48 - 52 EC)
50

52
Antonius Felix, prefeito (52-60 EC)


Agrippa II, rei/tetrarca (52 - 93 EC), bisneto de Herodes o Grande


54

56

58

60

62
Festus, prefeito (60 - 62 EC) 

64
Albinus, prefeito (62 - 64 EC)

66
Florus, prefeito (64 - 66 EC)

68
Grande Revolta (66 - 73 EC)

70

72




Referências:
 - Flávio Josefo, Guerra dos Judeus 
 - Flávio Josefo, Antiguidades Judaicas


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