domingo, 1 de maio de 2011

Moisés e os Cornos de Deus





O deus do Antigo Testamento, alternadamente Yahveh ou El, foi, por diversas vezes, retratado como possuindo cornos e outras qualidades animais ou mitológicas.

A maioria das traduções do Antigo Testamento tentam esconder estas qualidades, pois não são concordantes com um deus invisível, criador do mundo, etc.



Deus é um touro de guerra

Comecemos com Balaão, um profeta caldeu, que é apresentado em Números como um admirador especial das qualidades de Yahveh:

Núme­ros 23:22 (João Fer­reira de Almeida)
É Deus que os vem tirando do Egito; as suas for­ças são como as do boi sel­va­gem.

Núme­ros 24:8 (João Fer­reira de Almeida)
É Deus que os vem tirando do Egito; as suas for­ças são como as do boi sel­va­gem; ele devo­rará as nações, seus adver­sá­rios, lhes que­brará os ossos, e com as suas setas os atra­ves­sará.

Este personagem, Balaão, descreve o Deus dos israelitas com as qualidades de um touro de guerra.


Os cornos contagiosos

Moisés, quando desceu do monte Sinai, depois de falar com deus, apareceu ao povo com cornos, como se as qualidades divinas fossem contagiosas:

Êxodo 34:29-35 (João Ferreira de Almeida)
Quando Moisés desceu do monte Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas do testemunho, sim, quando desceu do monte, Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, por haver Deus falado com ele. (.…) Assim, pois, viam os filhos de Israel o rosto de Moisés, e que a pele do seu rosto resplandecia; e tornava Moisés a pôr o véu sobre o seu rosto, até entrar para falar com Deus.



O tradutor (neste caso, João Ferreira de Almeida) trocou os “cornos” por “resplandecimento”. Noutras traduções aparecem “raios de luz”, mas na tradução para o Latim - a Vulgata Latina do século IV - ainda eram visíveis os “cornos” no texto:

Êxodo 34:29-35 (Vulgata Latina
cumque descenderet Moses de monte Sinai tenebat duas tabulas testimonii et ignorabat quod cornuta esset facies sua ex consortio sermonis Dei
(…) qui videbant faciem egredientis Mosi esse cor­nutam sed ope­ri­e­bat rur­sus ille faciem suam si quando loque­ba­tur ad eos

Baseando-se na tradução latina, Michelangelo retratou Moisés com cornos.

Também na versão em hebraico conseguimos ver a palavra chifre (https://biblehub.com/interlinear/exodus/34-29.htm)
Podemos ver no dicionário que a palavra קָרַ֛ן significa chifre, para além de raio de luz (https://en.wiktionary.org/wiki/%D7%A7%D7%A8%D7%9F)


O altar com chifres

Deus ordena que se construa um altar com chifres nos quatro cantos (Êxodo 27:1–2; Êxodo 38:1–2; Levítico 4:18,25).





Qual era a utilidade destes chifres? Serviam de protecção. Quem ficasse a segurar estes chifres ficaria protegido - por lei - de possíveis perseguições ou ameaças.
1 Reis 1:50–51 (Nova Versão Internacional) 
Mas Adonias, com medo de Salomão, foi agarrar-se às pontas do altar. Então informaram a Salomão: “Adonias está com medo do rei Salomão e está agarrado às pontas do altar. Ele diz: ‘Que o rei Salomão jure que não matará este seu servo pela espada’”. 

1 Reis 2:28 (Nova Versão Internacional) 
Quando a notícia chegou a Joabe, que havia conspirado com Adonias, ainda que não com Absalão, ele fugiu para a Tenda do Senhor e agarrou-se às pontas do altar.


Um cântico serve para mostrar a crença na protecção oferecida pelo chifre de Deus:
2 Samuel 22:3 (Nova Versão Internacional) 
O meu Deus é a minha rocha, em que me refúgio;
o meu escudo e o meu poderoso (hebraico: chifre) salvador.
Ele é a minha torre alta, o meu abrigo seguro.
Tu, Senhor, és o meu salvador, e me salvas dos violentos.


Deus é um dragão guerreiro

Um poema em Salmos 18 retrata o deus dos judeus como um dragão guerreiro que voa montado num querubim:

Salmos 18 (Nova Versão Internacional) 
1 Eu te amo, ó Senhor, minha força.
2 O Senhor é a minha rocha, a minha fortaleza e o meu libertador;
o meu Deus é o meu rochedo, em quem me refúgio.
Ele é o meu escudo e o poder (hebraico: chifre) que me salva, a minha torre alta.
.…
8 Das suas narinas subiu fumaça; da sua boca saíram brasas vivas e fogo consumidor.
9 Ele abriu os céus e desceu;
nuvens escuras estavam sob os seus pés.
10 Montou um querubim e voou, deslizando sobre as asas do vento.
11 Fez das trevas o seu esconderijo, das escuras nuvens, cheias de água, o abrigo que o envolvia.
12 Com o fulgor da sua presença as nuvens se desfizeram em granizo e raios,
13 quando dos céus trovejou o Senhor, e ressoou a voz do Altíssimo.
14 Atirou suas flechas e dispersou meus inimigos, com seus raios os derrotou.

O que monta, agora, Yah­veh? Ora!... Monta um que­ru­bim! Mas como seria um querubim?



"Querubim" é uma palavra assíria - portanto Yahveh só poderia montar uma figura mitológica dos assírios! Os assírios retratavam estas figuras como quadrúpedes alados com cabeça humana.